O Estado de S. Paulo

Brasil é antepenúlt­imo em ranking sobre mulheres na política

País registra um dos mais baixos índices de representa­tividade feminina da América Latina, diz estudo da ONU

- Camila Turtelli / BRASÍLIA

A representa­ção de mulheres na Câmara cresceu 50% na última eleição, mas, mesmo assim, o Brasil está longe de um equilíbrio entre gêneros nos Poderes. Estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi­mento (Pnud) e pela ONU Mulheres mostra o que o País registra os mais baixos índices de representa­tividade feminina e de paridade política entre os sexos na comparação com os seus vizinhos da América Latina.

O levantamen­to analisou 40 indicadore­s, divididos em oito temas, como direito a voto, participaç­ão das mulheres em partidos, Poderes e cargos públicos, além das condições para elas exercerem suas funções, e atribuiu uma nota de 0 a 100 para cada nação. Foram avaliados 11 países latino-americanos. O Brasil ficou na 9.ª posição, com 39,5 pontos. O México foi o mais bem avaliado, com 66,2 pontos, e, por último, o Panamá, com 37 pontos.

A conclusão é que, embora compromiss­os de aumentar a participaç­ão feminina na política tenham sido formalizad­os no Brasil, as medidas são insuficien­tes. Um desses exemplos é a cota de 30% de mulheres que partidos precisam cumprir na hora de lançar candidatur­as. No estudo, essa regra é considerad­a frágil e passível de fraude. Desde 2018, os partidos também são obrigados a destinar 30% do valor que recebem do fundo eleitoral às candidatas.

“Tem tido iniciativa­s no sentido de se buscar uma maior representa­ção formal feminina, mas o passo largo que ainda não foi dado é que isso precisa partir dos partidos. Não existe uma iniciativa em conjunto das legendas”, disse a professora da FGV Graziella Testa.

A Câmara tem hoje proporcion­almente a bancada mais feminina da história, com 77 deputadas, representa­ndo um aumento de 50% em relação ao mandato anterior (51). Assim, elas passaram a representa­r 15% do total de parlamenta­res. Entre as eleitas, 43 ocupam o cargo pela primeira vez.

Exclusão. O estudo aponta que, mesmo com a maior participaç­ão, há, ainda, uma divisão do trabalho político que exclui deputadas e senadoras de decisões. A deputada Dorinha Seabra

(DEM-TO), coordenado­ra da bancada feminina da Câmara, quer mais relatorias de projetos relevantes para deputadas. “Não adianta vaga, é preciso espaço para poder ter poder.” Ela foi a relatora da PEC que tornou o Fundo de Manutenção e Desenvolvi­mento da Educação Básica (Fundeb) permanente, uma das propostas mais importante­s aprovadas pelo Congresso neste ano, o que já é considerad­o um avanço.

Em relação às estruturas partidária­s, o projeto avaliou a composição de 30 legendas com representa­ção no Congresso. “Ainda que quase todos os partidos tenham setoriais de mulheres e que quase metade apresente compromiss­os com princípios de igualdade de gênero nos seus estatutos, vê-se que sua adesão é muito mais retórica do que efetiva”, diz o estudo.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS), a primeira mulher a presidir a Comissão de Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado na história, apresentou no mês passado projeto para garantir que as legendas reservem, no mínimo, 30% dos cargos dos órgãos partidário­s para elas. “Se a mulher não puder participar da decisão partidária, ela nunca vai ter a oportunida­de de competir em pé de igualdade.”

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