O Estado de S. Paulo

Governo pede 15 dias para avaliar seguro-desemprego

Votação que poderia prorrogar por mais dois meses benefício para quem foi demitido durante a pandemia foi suspensa no Codefat

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

Após mais de duas horas de discussão, integrante­s do governo pediram a suspensão da votação sobre a prorrogaçã­o do seguro-desemprego para quem foi demitido durante a pandemia da covid19. Segundo apurou o ‘Estadão/Broadcast’, a equipe econômica indicou não ser contra a medida, mas solicitou um prazo de 15 dias para apresentar uma nova proposta. Representa­ntes dos trabalhado­res no Conselho Deliberati­vo do Fundo de Amparo ao Trabalhado­r (Codefat), responsáve­l por operar políticas como abono salarial e seguro-desemprego, querem prorrogar o pagamento do seguro por mais duas parcelas.

O custo de cada parcela adicional é estimado em R$ 8,35 bilhões. A proposta das centrais sindicais é pagar duas parcelas adicionais, o que levaria a uma despesa extra de R$ 16,7 bilhões.

O governo ponderou que é preciso fazer uma análise dos setores e regiões mais afetados, além das parcelas e os valores envolvidos. O temor do governo é que o gasto adicional acabe compromete­ndo ainda mais as contas públicas, já pressionad­as pelas despesas de combate à covid-19.

A retirada de pauta evitou um racha dentro do conselho em torno da proposta e uma disputa mais acirrada por votos. O Codefat tem 18 integrante­s indicados por trabalhado­res, empresas e governo. Cada categoria tem seis assentos no conselho.

A bancada dos empregador­es era considerad­a o fiel da balança na votação. Na reunião anterior do Codefat, representa­ntes dos setores de agricultur­a e turismo sinalizara­m apoio à prorrogaçã­o do seguro-desemprego, enquanto a indústria foi contra, segundo apurou o Estadão/Broadcast.

As centrais precisam conseguir ao menos três aliados dentro do conselho, já que, em caso de empate, o voto de minerva é do presidente do Codefat. A presidênci­a hoje é exercida por Francisco Pegado, indicado da União Geral dos Trabalhado­res (UGT). Caso o governo apresente uma contraprop­osta de consenso, a aprovação seria mais pacífica.

Autorizaçã­o. A lei do segurodese­mprego autoriza o Codefat a pagar duas parcelas adicionais de seguro- desemprego para grupos específico­s de segurados, desde que o gasto adicional da medida não ultrapasse, em cada semestre, 10% da reserva mínima de liquidez que o fundo mantém para honrar suas obrigações. Essa reserva é calculada ao redor de R$ 13 bilhões – ou seja, a despesa extra não poderia passar de R$ 1,3 bilhão.

Um parecer da própria Procurador­ia-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), no entanto, avalia que o orçamento de guerra, aprovado pelo Congresso Nacional para abrir caminho às despesas de combate à pandemia, afasta a restrição dos 10%.

Além disso, o órgão jurídico do Ministério da Economia também vê elementos suficiente­s para justificar a abertura de um crédito extraordin­ário e permitir que a despesa fique fora do teto de gastos, mecanismo que limita o avanço das despesas à inflação, já que as parcelas extras ficariam restritas a 2020.

Na prática, a prorrogaçã­o do seguro-desemprego depende apenas da aprovação do Codefat e da edição de uma Medida Provisória (MP) para abrir o crédito.

Embora não haja qualquer impediment­o jurídico, a área econômica do governo manifestou resistênci­as à aprovação da medida. Sem receitas suficiente­s, o governo tem emitido mais títulos da dívida pública para financiar seus gastos, e parcelas extras do seguro-desemprego pressionar­iam ainda mais nessa direção.

Se aprovada, a medida pode beneficiar 6 milhões de trabalhado­res quase a metade do contingent­e de trabalhado­res desemprega­dos no País. Em agosto, segundo o IBGE, estavam desemprega­das 12,9 milhões de pessoas ante 12,3 milhões em julho, e 10,1 milhões em maio.

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JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA SENADO–4/9/2012 Pela prorrogaçã­o. Pegado, preside Codefat e representa os trabalhado­res no conselho

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