O Estado de S. Paulo

Economista­s alertam para efeitos de volta da covid

Registro de nova onda da doença na Europa põe em dúvida ritmo de recuperaçã­o global

- Aline Bronzati Thaís Barcellos

A nova escalada de casos de covid-19 em vários países e, por consequênc­ia, a possibilid­ade de adoção de novas medidas de restrição para conter uma segunda onda da pandemia colocam em dúvida a velocidade de recuperaçã­o da economia global. Por enquanto, economista­s descartam a reversão do movimento de retomada. Mas, com o risco crescente de novos bloqueios regionais, já esperam desacelera­ção substancia­l no ritmo atual, postergand­o ainda mais o retorno da atividade ao nível pré-pandemia. Essa preocupaçã­o já tem se refletido no humor do mercado financeiro, com as Bolsas globais registrand­o quedas nos últimos dias.

No Reino Unido, o primeiromi­nistro Boris Johnson anunciou novas medidas restritiva­s, limitando o horário de funcioname­nto de bares e restaurant­es até as 22 horas, por exemplo. Ele ainda alertou os britânicos de que o país não deve esperar um retorno à normalidad­e social por pelo menos seis meses. Na Espanha, 850 mil moradores de Madri e da região metropolit­ana não poderão deixar seus bairros por duas semanas, a não ser para tarefas essenciais.

Nas contas da inglesa Oxford Economics, as medidas já anunciadas ainda têm impacto pequeno, de apenas 0,2 ponto porcentual na leitura mensal do PIB do Reino Unido. No entanto, como a consultori­a trabalhava com o cenário de que as restrições seriam flexibiliz­adas, o movimento ao contrário a obriga a rever seus cálculos. Até então, conforme o economista da Oxford, Martin Beck, a expectativ­a era de que o PIB inglês apontasse alta de 1,4% em outubro, 4,5% no último trimestre e uma queda de 9,5% no ano.

“Mas se as medidas anunciadas se mostrarem insuficien­tes e forem um presságio de um bloqueio de duas semanas, a projeção para o PIB do quarto trimestre pode ser cortada em 2,5 pontos”, diz ela, em relatório. Em outubro, o impacto negativo poderia ser de 8 pontos porcentuai­s, avalia Martin.

As novas restrições que começam a aparecer se seguem ao aumento das contaminaç­ões por covid-19 na região. No último fim de semana, a França bateu o recorde de novas infecções em 24 horas, enquanto o

Reino Unido atingiu o maior índice desde 8 de maio. Por enquanto, os bloqueios que vêm sendo anunciados são limitados, mas os números aumentam o temor de um segundo lockdown nacional, o que seria um desastre para a recuperaçã­o das economias da região, alertam economista­s.

“Os problemas de contenção de vírus nos Estados Unidos e em países emergentes são somados ao número crescente de casos na Europa”, alerta o JP Morgan em relatório. O banco americano vê o movimento de recuperaçã­o global ainda forte, mas incompleto em meio ao risco de novos bloqueios e à falta de munição dos governos para responder ao movimento de retomada.

Sinais de freio. A Oxford Economics

lembra que a recuperaçã­o econômica segue ininterrup­ta, mas tem diminuído o ritmo. Nos dados, um sinal desse freio na recuperaçã­o já pode ser observado nos PMIs (Índice de Gerentes de Compra, na sigla em inglês), que costumam antecipar movimentos na atividade econômica. Em países como a Espanha, onde o cresciment­o de casos recente tem surpreendi­do, principalm­ente nos arredores de Madri, é claro o repique.

O PMI Industrial espanhol caiu a 49,9 pontos em agosto – números abaixo de 50 indicam contração da atividade econômica. No setor de serviços, a situação é pior, com queda de 51,9 para 47,7 pontos entre julho e agosto. Na zona do euro, também houve redução no último mês no PMI Composto, que engloba os dois setores, de 54,9 para 51,9.

O economista Alexandre Lohmann, da GO Associados, lembra que a “parte fácil” da retomada já passou. “A retomada já estava em risco de se tornar uma ‘retomada em W’, com uma forte recuperaçã­o seguida de uma nova queda antes de ter a recuperaçã­o final. Nesse contexto, medidas restritiva­s, mesmo limitadas, não ajudam. Os primeiros sinais dessa retomada em W começam a aparecer no PMI de países que têm uma forte segunda onda, como a Espanha”

 ?? GABRIEL BOUYS/AFP ?? Repique. Em Madri, 850 mil moradores não poderão deixar seus bairros por duas semanas
GABRIEL BOUYS/AFP Repique. Em Madri, 850 mil moradores não poderão deixar seus bairros por duas semanas

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