O Estado de S. Paulo

Calçados

Vulcabrás repassa marca Azaleia à rival Grendene.

- Fernando Scheller

Após comprar o direito de fabricar e comerciali­zar a japonesa Mizuno da Alpargatas, a Vulcabrás dá agora um passo definitivo para se tornar uma empresa apenas de calçados esportivos. Para se concentrar no setor, a Vulcabrás vai terceiriza­r a marca de calçados femininos Azaleia para a concorrent­e Grendene, conhecida por fabricar Melissa e Ipanema, entre outras.

No processo de modificar o portfólio, a Vulcabrás – que também produz as marcas esportivas Under Armour e Olympikus – também vai descontinu­ar a Dijean, enquanto tenta encontrar um interessad­o no nome.

Segundo Pedro Bartelle, presidente da Vulcabrás, o movimento trará, logo de imediato, um aumento de faturament­o para a fabricante gaúcha.

A companhia vai abrir mão da Azaleia, que fatura cerca de R$ 100 milhões por ano, e colocará para dentro a Mizuno, que teve receita de R$ 444 milhões no ano passado. Para ficar com a marca esportiva, a empresa desembolsa­rá cerca de R$ 200 milhões, segundo comunicado divulgado pela Alpargatas na última segunda-feira.

“Esse movimento faz muito sentido para nós, que sempre tivemos uma tradição em calçados esportivos. Foi a Vulcabrás que originalme­nte trouxe a Adidas para o Brasil, ainda nos anos 1960”, diz Bartelle. “Agora temos a Mizuno, que é uma marca de performanc­e, a Under Armour, que é ligada a fitness, e a Olympikus, que é uma força democratiz­adora, dá acesso a esse mercado.”

O executivo também ressalta que não haverá demissões. Pelo contrário: estão previstas contrataçõ­es. As fábricas da Bahia e do Ceará vão produzir as três marcas esportivas. As linhas antes dedicadas aos sapatos femininos serão adaptadas. Dos 13 mil funcionári­os da Vulcabrás, 650 ficam na sede de Parobé (RS), onde está concentrad­o o desenvolvi­mento das três grifes esportivas.

Analistas de mercado reagiram bem à adaptação do negócio da Vulcabrás, especialme­nte pelo fato de que os calçados da Mizuno, dedicados a praticante­s de corrida, têm um valor médio bem no varejo superior ao das demais marcas da companhia.

‘Dança das cadeiras’. De acordo com Jaime Troiano, presidente do Grupo Troiano de Branding, essa “dança das cadeiras” de marcas entre Vulcabrás, Grendene e Alpargatas revela uma maturidade corporativ­a dessas empresas. “Sempre digo que as empresas devem se concentrar naquilo em que são mais eficientes. E, nos três casos, vemos uma caminhada nessa direção.”

Para o especialis­ta em construção de marcas, a decisão de descontinu­ar ou repassar marcas a terceiros revela também uma ausência de vaidade corporativ­a. “Às vezes a gente pode abrir mão de algo que criamos por algo que não criamos, mas tem mais a nossa cara. Aí é que entra a maturidade: a Azaleia tem bem mais conexão com a Grendene. É a hora de deixar o filho crescer.”

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JARBAS OLIVEIRA - 8/4/2019 Mudança. Bartelle: receita maior com calçados esportivos

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