O Estado de S. Paulo

Volta de restrições traz tensão à Europa

Autoridade­s país alertam para saturação de hospitais e pedem para que a população se proteja para evitar medidas restritiva­s mais duras

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Donos de bares e restaurant­es protestara­m ontem em Marselha contra a ordem de fechar por duas semanas em razão da alta nas mortes e infecções por covid-19. A OMS alerta que não só a França, onde os óbitos triplicara­m ontem em relação à véspera, mas a Europa em geral apresentam números “na direção errada”.

Com o mundo se aproximand­o de um milhão de mortes por covid-19, o número de novas infecções voltou a subir na Europa, puxado principalm­ente pela França, que registrou ontem 15,8 mil novos casos. Autoridade­s francesas alertaram para a saturação dos hospitais e pediram que a população se proteja para evitar medidas mais duras de isolamento.

O total de casos na França ultrapasso­u ontem a marca de 500 mil – é o terceiro país da Europa mais afetado pela covid-19. O número de mortos, que vinha se mantendo, em média, em torno de 50 por dia, triplicou e ontem chegou a 150. Mas o problema não é só francês. A americana Maria van Kerkhove, diretora técnica da Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS), responsáve­l pela covid-19, disse ontem que “os números da Europa estão indo na direção errada”.

“Estamos no fim de setembro e ainda nem começamos a temporada de gripe. Por isso, o que nos preocupa é a possibilid­ade de que essa tendência esteja indo na direção errada”, afirmou a epidemiolo­gista. “Queremos evitar novos lockdowns nacionais, como estava acontecend­o no início.” Segundo ela, o uso do corticoide dexametaso­na “está salvando vidas”.

Em Paris, declarada zona de “alerta elevado”, na quarta-feira, autoridade­s regionais alertaram que 20% das operações cirúrgicas teriam de ser adiadas neste fim de semana, porque os hospitais estavam “se aproximand­o da saturação” em razão das internaçõe­s pro covid-19.

Na quinta-feira, o primeiromi­nistro francês, Jean Castex, alertou a população, em pronunciam­ento da TV, que a situação é grave e a adoção de medidas de proteção é urgente. Em seu relatório semanal, o governo contabiliz­ou, na semana de 14 a 20 de setembro, um aumento de 25% no número de mortes, de 34% nas internaçõe­s em hospitais e 40% na ocupação de UTIS.

Na França, 45 departamen­tos estão acima de 50 casos por 100 mil habitantes e 16 acima de 100 casos por 100 mil. Em Paris, o número de infecções confirmada­s atingiu 217 para cada 100 mil pessoas. O que mais preocupa, segundo especialis­tas, é o aumento do número de casos na faixa etária acima de 65 anos.

O relatório do governo indica que a maioria dos novos infectados pegou o vírus no ambientes de trabalho, seguido por escolas e universida­des e aglomeraçõ­es públicas e privadas, como festas. Apesar do agravament­o da situação, a decisão de fechar bares e restaurant­es em Marselha e Aix-en-provence, considerad­a zona de “alerta máximo”, a partir de hoje, provocou revolta de autoridade­s locais e proprietár­ios. Por causa da proibição, ao menos mil donos de bares protestara­m em Marselha ontem pela manhã. Eles tiveram o apoio dos políticos locais. Em Paris e em várias outras grandes cidades, onde a contaminaç­ão também se acelerou, os estabeleci­mentos devem fechar às 22 horas.

As restrições também afetaram o torneio de tênis de Roland Garros, o Aberto da França, que vai até o dia 11 de outubro. Apesar de liberar a presença de público, o número de espectador­es foi limitado a mil pessoas.

Na Holanda, o primeiro-ministro, Mark Rutte, também alertou sobre uma segunda onda de infecções após o país registrar 2,7 mil novos casos em 24 horas. “Os números parecem terríveis. A situação é muito preocupant­e e nos obriga a tomar medidas extras”, disse o premiê, que anunciará novas restrições na semana que vem.

Na Espanha – que teve 735 mil casos confirmado desde o início da pandemia –, o governo central de Madri não se entende com as autoridade­s locais. Ontem, o comando da capital espanhola rejeitou os apelos do governo central para um lockdown total da cidade, mantendo apenas alguns distritos em quarentena.

Quando a ordem entrar em vigor, na segunda-feira, mais de um milhão de pessoas só terão permissão para entrar e sair de suas zonas de origem por motivo de trabalho, escola, questões legais ou de saúde. As reuniões públicas e privadas foram limitadas a seis pessoas e os parques, fechados.

Islândia. A situação parece ter se agravado até em países que tinham a pandemia sob controle. Ontem, o governo da Islândia anuncio uum nicho de pelo menos 100 infecções que teriam sido causadas por dois turistas franceses.

Thorolfur Gudnason, epidemiolo­gista do governo, disse que os dois franceses chegaram em meados de agosto e testaram positivo, mas se recusaram ficar em isolamento.

Os casos foram rastreados e ligados à ida de ambos a dois bares de Reykjavik – 2 mil pessoas tiveram de ser colocadas em quarentena.

“Queremos evitar novos lockdowns nacionais, como estava acontecend­o no início” Maria van Kerkhove

DIRETORA TÉCNICA DA ORGANIZAÇíO MUNDIAL DA SAÚDE

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NICOLAS TUCAT / AFP Protesto. Donos de bares e restaurant­es de Marselha em ato contra a ordem do governo para fechar os estabeleci­mentos
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