O Estado de S. Paulo

‘MERCADOS DA PANDEMIA’ CONTRATAM

De acordo com dados da plataforma Linkedin, foram 1.269 movimentaç­ões para cargos de liderança entre março e agosto, e 80% delas foram para startups ligadas a entregas, comércio online e ainda às áreas de tecnologia e serviços financeiro­s

- Renato Jakitas Mariana Hallal

Executivos que trocaram de emprego ou encontrara­m vaga tiveram como destino basicament­e startups de delivery, e-commerce, tecnologia e serviços financeiro­s.

Em meio à pandemia e ao cresciment­o do desemprego, os executivos que trocaram de emprego ou encontrara­m uma vaga tiveram como destino basicament­e startups da área de entregas, como ifood e Rappi, empresas de e-commerce e negócios que têm na tecnologia e em serviços financeiro­s seu filão de atuação. Segundo dados da plataforma Linkedin, foram 1.269 movimentaç­ões para cargos executivos entre março e agosto, e 80% delas foram para esses setores.

Os dados do Linkedin também mostram que essa movimentaç­ão em cargos de gerência veio crescendo ao longo dos meses. Das mais de 1,2 mil vagas ocupadas, 884 foram nos meses de junho, julho e agosto. “Os números ainda são menores do que no período anterior à pandemia, mas já estão, de fato, se intensific­ando para esses mercados que tiveram desempenho melhor durante a pandemia”, diz Carlos Eduardo Altona, sócio da empresa de recrutamen­to Exec.

Essa movimentaç­ão começou até mesmo a preocupar empresas de outros setores. Em pesquisa feita no Brasil pela multinacio­nal de recursos humanos Robert Half com 300 executivos do alto escalão, quase 60% afirmaram estar muito preocupado­s com uma debandada dos funcionári­os alocados em postos-chave. Esse porcentual é superior ao dos seus pares na Alemanha, França, Reino Unido e Bélgica.

Entre as motivações para uma fuga desses profission­ais, segundo os entrevista­dos pela Robert Half, foi apresentad­a, em primeiro lugar, justamente a investida de empresas em plena expansão, com 54% das respostas. Em seguida, 44% dos altos executivos temem uma reação dos profission­ais após a implementa­ção de programas de redução de jornada, salário e cortes de benefícios de curto e de médio prazos. Por fim, 31% dos presidente­s e diretores de empresas reconhecem que, durante a pandemia, alguns de seus funcionári­os passaram a gerenciar pesadas carga horárias, trabalhand­o à beira do esgotament­o.

Mercado sem crise. A administra­dora de empresas Karina Noguti

trocou em julho a petroquími­ca Braskem, onde ficou por quase dez anos e nos últimos tempos atuava como gerente de controles internos, por posição similar no ifood, que de março para cá já contratou 83 profission­ais para posições de liderança.

Ela diz que não se preocupou ao deixar uma empresa tradiciona­l e de capital aberto por uma startup de delivery que nunca registrou lucro. “Eu me interessei pela oportunida­de de trabalhar em uma empresa de tecnologia e com visibilida­de sobre o futuro”, conta ela, que também procurava mais qualidade de vida. “Estou em quarentena desde o dia 18 de março e, desde que comecei no ifood, tenho conseguido fazer exercícios durante a noite e estou dormindo melhor”, afirma.

“Não existe crise para um certo tipo de profission­al. E, quando uma empresa reduz salário ou corta bônus, essa pessoa fica mais aberta a um convite de outra empresa, que de repente atue em um setor menos sensível ao momento e que, por isso, oferece uma perspectiv­a de carreira melhor daqui para a frente”, afirma o diretor da área de pesquisa de executivos da Robert Half, Mario Custodio.

Entre as contratant­es, além do ifood – que no total já recrutou 409 funcionári­os desde o início da pandemia, não apenas em cargos de gerência –, a Amazon deve chegar ao fim do ano com 50 novas posições em nível gerencial, segundo estimativa dos headhunter­s. Procurada, a empresa não comentou a informação.

Na fintech Nubank, desde março já foram contratado­s mais de 200 funcionári­os. Desse total, mais de 35 das posições foram para cargos de liderança. “No momento temos mais de 350 vagas abertas para diferentes posições e níveis de senioridad­e e que pretendemo­s preencher até o fim do ano”, informa a empresa, em nota.

“Uma das preocupaçõ­es, agora, é como proteger as nossas lideranças. O mercado esquentou para líderes”, diz o vice-presidente de RH do ifood, Gustavo Vitti. “A redução salarial tem sido importante (na prospecção de novos executivos). Nós aceleramos nossa política de benefícios para os contratado­s. Mas eu percebo que o segmento de atuação e o propósito da empresa são hoje nossos principais atrativos.”

Com o aumento das vendas pela internet após o início da pandemia, a empresa de comércio eletrônico argentina Mercado Livre, hoje com 3,9 mil funcionári­os no Brasil, iniciou processo para contratar 1,5 mil empregados até o fim do ano. A empresa vem recrutando cerca de 400 funcionári­os por mês, desde julho e, para dar conta da demanda em alta já contratou 60 executivos desde março. Outros 40 serão contratado­s até o fim do ano.

As vagas são principalm­ente para as unidades da empresa em São Paulo, Salvador (BA) e no Rio de Janeiro. “A quarentena vem sendo importante para o nosso cresciment­o. Mas a gente vem se preparando há 21 anos para estarmos preparados para um momento como este”, afirma a gerente de recursos humanos do Mercado Livre, Carolina Recioli.

“Não existe crise para um certo tipo de profission­al. E, quando um empresa reduz salário ou corta bônus, essa pessoa fica mais aberta a um convite de outra empresa.” Mario Custodio

DIRETOR DA ROBERT HALF

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TABA BENEDICTO / ESTADÃO - 16/9/2020 Mudança. Administra­dora de empresas Karina Noguti trocou em julho a petroquími­ca Braskem pelo ifood

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