O Estado de S. Paulo

Estados negociam criação de fundos para apoiar reforma

Fundos somariam repasse de R$ 485 bi em 10 anos para governos estaduais, que temem perder receita com alterações tributária­s

- Idiana Tomazelli /

Os governos estaduais deflagrara­m uma articulaçã­o junto ao Congresso Nacional para incluir na reforma tributária dois fundos bilionário­s de compensaçã­o para os Estados e municípios. A estratégia é tentar contornar a resistênci­a da equipe econômica a esses repasses, que somariam R$ 485 bilhões em dez anos.

O impasse é considerad­o um dos pontos mais delicados das negociaçõe­s. Ontem, a presidente da Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ) do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), defendeu um “freio de arrumação” na reforma tributária e argumentou sobre a necessidad­e de convidar o ministro da Economia, Paulo Guedes, para prestar esclarecim­entos.

“O governo vai entregar ou não as quatro fases da reforma? Vai ou não ter recursos para compensar Estados e municípios?”, questionou durante reunião da comissão mista que discute a proposta.

Os governos querem usar parte da alíquota do novo imposto sobre valor agregado (IVA), que vai ser criado com o objetivo de fundir outros tributos, para irrigar os fundos. Guedes, por sua vez, vê nessa proposta uma tentativa de “sangrar” os cofres da União. A equipe econômica argumenta que os Estados já receberão R$ 65,6 bilhões até 2037 devido à negociação que pôs fim ao imbróglio da Lei

Kandir, que desonerou exportaçõe­s do pagamento de ICMS.

Em substituiç­ão a esses dois fundos, o governo federal propõe entregar aos Estados a gestão e a governança de seis fundos já existentes, três constituci­onais e três regionais. Os fundos constituci­onais do Norte, Nordeste e Centro-oeste recebem anualmente 3% da arrecadaçã­o com impostos federais e hoje acumulam cerca de R$ 150 bilhões. Já os fundos regionais dependem de dotação orçamentár­ia e estão desde 2015 praticamen­te parados.

Sem garantia. Os governos estaduais rejeitam essa proposta porque não há garantia concreta de recursos. Parte dos impostos federais que hoje servem de base para os repasses aos fundos constituci­onais seriam inclusive extintos e unificados no IVA, ou seja, não haveria novas entradas. Além disso, esse dinheiro não vai diretament­e para os cofres estaduais – eles servem de fonte para bancar financiame­ntos.

A estratégia dos Estados agora é defender a criação dos fundos regional e de compensaçã­o das exportaçõe­s junto ao Congresso,

negociando diretament­e com o relator, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), e com lideranças partidária­s para incluí-los no texto final da reforma. A articulaçã­o é delicada inclusive entre os Estados, já que os governos do Sul e do Sudeste temem que a divisão do bolo acabe benefician­do muito mais Norte e Nordeste.

O secretário de Fazenda do Paraná, Renê Garcia Junior, disse ao Estadão/broadcast que o relator “será ousado” em seu parecer, mas não deu pistas se houve sinalizaçã­o positiva à criação dos fundos. “Ele não tem necessaria­mente obrigação de agradar à União”, disse o secretário.

Garcia Junior disse defender que os Estados tenham condições de “andar por conta própria”, mas admitiu que a situação fiscal do governo federal dificulta “acenos mais generosos da União. “A questão vai ter que ser resolvida, o Congresso está num passo que está forçando os agentes para que tenham uma solução”, afirmou o secretário, acrescenta­ndo que a intenção do relator de apresentar seu parecer até o fim de outubro.

A reportagem não conseguiu contato com o relator Aguinaldo Ribeiro. O Ministério da Economia não comentou.

Na audiência, Tebet sugeriu que, em meio ao impasse sobre as compensaçõ­es, os parlamenta­res façam uma aprovação “em módulos”, com um IVA federal primeiro e depois, quando houver recursos para os fundos, incluir Estados e municípios.

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PEDRO FRANÇA/AGÊNCIA SENADO - 23/9/2020 ‘Freio de arrumação’. Simone Tebet quer convocar Guedes para falar sobre reforma

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