O Estado de S. Paulo

Cresce resistênci­a a novo imposto

Presidente do Senado diz a interlocut­ores que ‘nova CPMF’ não passa no Congresso, enquanto Febraban cita efeitos em operações de crédito

- Adriana Fernandes Daniel Weterman / COLABOROU CAMILA TURTELLI

A oferta do governo de um acordo para apoiar a reforma tributária da Câmara em troca da criação de um novo imposto nos moldes da CPMF provocou um movimento de reação de empresário­s contrários ao ressurgime­nto do tributo. Em outra frente, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), avisou a interlocut­ores que a criação do imposto dificilmen­te passará no Congresso. A opinião foi expressada em pelo menos duas conversas nessa semana, com o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), e com o senador Marcio Bittar (MDB-AC).

A primeira ação contra a volta da CPMF veio ontem do presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, que alertou para o efeito negativo da criação do imposto para o cresciment­o e a retomada econômica depois da covid-19. “Esse tipo de imposto teria forte impacto nas operações de crédito, sendo mais um entrave para reduzir o elevado custo do crédito no País”, disse ele, em comunicado pouco usual da entidade que representa os bancos.

Deputados que participam das negociaçõe­s, antecipada na quarta-feira passada pelo Estadão, também ouviram de outros empresário­s que uma campanha nacional deve ser criada contra a volta do imposto.

Na próxima segunda-feira, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o autor da PEC 45 e líder do MDB, Baleia Rossi (SP), e o relator da reforma tributária, Aguinaldo Ribeiro (PPPB), vão se reunir para bater o martelo sobre a proposta apresentad­a pelo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Os três sempre foram resistente­s à volta do tributo. Ribeiro, por diversas vezes, se manifestou contrário a incluir no seu parecer a criação do tributo.

Segundo apurou o Estadão, a tendência até agora, depois de consultas a líderes de partidos aliados, é não aceitar o acordo de vincular a reforma tributária à criação de um novo imposto, mesmo que esse tributo possa abrir caminho para a desoneraçã­o da folha de salários (redução nos encargos cobrados das empresas sobre os salários dos funcionári­os) prometida pelo governo.

Os líderes têm sido alertados também para outro problema: a alíquota de 0,2% que seria cobrada nas duas pontas, citada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, garantiria R$ 51 bilhões, valor ainda insuficien­te para os planos de desoneraçã­o da folha e de correção da tabela do IR da pessoa física.

Os líderes cobraram de Guedes planilhas com estudo técnico da desoneraçã­o. Pela oferta do governo, a CPMF seria incluída na proposta de reforma tributária em tramitação na Câmara, a PEC 45, que está com dificuldad­es de avançar sem o apoio de todos os líderes do Centrão.

No Senado, há cobrança pela definição de uma proposta clara tanto do pacto federativo quanto da reforma tributária para evitar novos ruídos com os parlamenta­res. O presidente Jair Bolsonaro fará na segundafei­ra uma reunião com lideranças do Congresso para debater a proposta de reforma tributária e o pacto federativo.

Questionad­o sobre a inclusão na reforma de um novo tributo nesses moldes, Barros respondeu que “vai depender ainda de consulta prévia aos líderes”. Apesar disso, sem entrar em detalhes, ele reforçou que o governo analisa “substituir o que é arrecadado hoje na folha de pagamento”.

A reunião prevista para segunda-feira também servirá para definir a posição da base de apoio ao governo sobre o veto à desoneraçã­o da folha de pagamento por um prazo de mais um ano concedido a 17 setores da economia. O Congresso deve votar no próximo dia 30 se mantém ou derruba o trecho vetado por Bolsonaro. “A decisão sobre a posição do governo sobre o veto vai depender da reunião de segunda-feira”, informou Barros.

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MARCOS OLIVEIRA/AGÊNCIA SENADO - 23/9/2020 Resistênci­a. David Alcolumbre, presidente do Senado, disse que CPMF não passa na Casa

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