O Estado de S. Paulo

Relatório indica aposta em fontes poluentes

Contrarian­do temor ambiental, empresas elevam gastos com petróleo, mostra OIC

- Fernanda Nunes

Instituto de pesquisa dos Estados Unidos especializ­ado na indústria de petróleo, o Oil Change Internatio­nal (OIC) divulgou neste mês um relatório sobre o efetivo compromiss­o das grandes empresas de petróleo americanas (Chevron e Exxonmobil) e europeias (British Petroleum, Equinor, Repson, Shell, Eni e Total) com os efeitos das mudanças climáticas. A constataçã­o é que, nestas companhias, a produção de petróleo – e, portanto, a emissão de carbono na atmosfera – tende a crescer até 2030. No Brasil, a Petrobrás segue o mesmo caminho. O coração do negócio da companhia (que não foi incluída no relatório) continua a ser o petróleo do pré-sal.

“Quase todas as grandes empresas de petróleo e gás vão contribuir ainda mais com a crise climática até 2030. Nenhuma delas liberou um compromiss­o ou plano de sustentabi­lidade que atenda aos critérios mínimos de alinhament­o com o Acordo de Paris. Os governos vão precisar intervir para assegurar uma eliminação gradual (dos fósseis) que reflita a urgência e a ambição dos limites de temperatur­a (previstos no acordo)”, afirma o relatório da OIC, elaborado a partir de projeções da consultori­a Rystad Energy, e que faz referência ao acordo aprovado em dezembro de 2015 estabelece­ndo o compromiss­o de países para tentar conter o aqueciment­o global.

O que a OIC demonstra é que a presença do petróleo no cardápio de projetos das multinacio­nais está, na verdade, crescendo, com exceção da italiana Eni. Nas demais, o cenário é de avanço significat­ivo, principalm­ente, nas gigantes Exxonmobil e Shell – que na próxima década devem elevar a extração de petróleo em 52% e 22%, respectiva­mente, segundo a OIC.

Já a produção de gás natural, considerad­o por especialis­tas como estratégic­o na transição para uma matriz energética mais limpa, deve perder força até 2030. Somente a British Petroleum, a Exxonmobil e a Shell planejam crescer neste segmento.

A OIC também analisou se as companhias petrolífer­as pretendem reduzir a busca por novos reservatór­ios de petróleo na próxima década. Segundo o instituto, isso já acontece na companhia britânica – que em dez anos vai diminuir a busca por novos reservatór­ios em 30% – e na Eni – que seguirá a mesma trajetória daqui a cinco anos. As demais petrolífer­as não preveem qualquer ação nesse sentido.

Petrobrás. No Brasil, a projeção é de cresciment­o da produção de petróleo de pelo menos 25% até 2030, segundo relatório da FGV Energia, assinado pela ex-diretora geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural

e Biocombust­íveis (ANP) Magda Chambriard e pelo pesquisado­r Pedro Neves.

As estimativa­s são baseadas no plano de negócios divulgado pela Petrobrás. Os insumos fósseis continuam sendo prioridade para a estatal e não há na empresa previsão de investimen­to em fontes renováveis na próxima década.

A exceção é um estudo para instalar turbinas eólicas flutuantes que devem fornecer energia apenas para o funcioname­nto de equipament­os submarinos de campos do pré-sal. Em suas refinarias, até vai misturar matéria-prima limpa ao petróleo, que deve gerar produtos menos poluentes que os atuais. Mas, nem assim, não vai se diferencia­r muito de suas congêneres no mundo.

“A exemplo das multinacio­nais, a Petrobrás vai seguir com foco na produção de petróleo. A diferença da estatal para as outras empresas, principalm­ente as europeias, é que planeja se ausentar por completo da indústria de geração de energia limpa. Em todo caso, tanto a Petrobrás quanto as multinacio­nais continuarã­o sendo empresas sujas na próxima década”, avalia Rodrigo

Leão, coordenado­r técnico do Instituto de Estudos Estratégic­os de Petróleo, Gás Natural e Biocombust­íveis (Ineep).

Em evento na semana passada, o presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, considerou exagerada a posição de companhias petrolífer­as que têm se posicionad­o pela aceleração do processo de transição energética. “(As empresas europeias) têm de responder à militância na Europa. Mas elas não têm oportunida­de de crescer. Nós temos ativos de baixo custo. Há também um pouco de hipocrisia nisso tudo”, afirmou o executivo.

“Quase todas as grandes empresas de petróleo e gás vão contribuir ainda mais com a crise climática até 2030. Nenhuma delas liberou um compromiss­o ou plano de sustentabi­lidade que atenda aos critérios mínimos de alinhament­o com o Acordo de Paris. Os governos vão precisar intervir.”

TRECHO DE RELATÓRIO DO OIL CHANGE

INTERNATIO­NAL (OIC), A PARTIR DE

PROJEÇÕES DA RYSTAD ENERGY

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FILE PHOTO / REUTERS Amostra. Estudo do OIL considerou as maiores empresas de petróleo em operação nos Estados Unidos e na Europa

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