O Estado de S. Paulo

O futuro da mobilidade urbana

Nem os impactos da covid-19 conseguira­m frear as montadoras, que seguem desenvolve­ndo diversos projetos e parcerias baseados em muita inovação e tecnologia

- Por Mário Sérgio Venditti

Apesar do prolongado período de pandemia, as montadoras não cessaram o desenvolvi­mento de projetos relativos à mobilidade urbana. Muita coisa está em andamento nas equipes de engenharia, não só das fabricante­s de automóveis mas também das empresas parceiras. As pesquisas não se resumem à criação de veículos eletrifica­dos ou autônomos. Há desde a construção de cidades inteligent­es e sustentáve­is até a formação de joint

ventures para a produção de baterias. A seguir, veja algumas ações de nove companhias que, desde já, estão mirando o futuro da mobilidade. AERONAVE ELÉTRICA E CIDADE DO FUTURO Os estudos de veículos aéreos já estão em andamento na indústria automotiva. A Toyota firmou parceria com a empresa americana Joby Aviation para o desenvolvi­mento de uma aeronave elétrica de decolagem e aterrissag­em vertical (evtol), com capacidade para cinco pessoas. Ela será usada para serviços de locomoção rápidos, silencioso­s e acessíveis. “O transporte aéreo é uma meta de longo prazo”, revela Akio Toyoda, presidente da Toyota Motor Corporatio­n. Para ele, o evtol tem tudo para revolucion­ar o futuro do transporte.

Ao investir US$ 394 milhões no projeto com a Joby, a Toyota compartilh­ará sua experiênci­a em manufatura, qualidade e controle de custos para desenvolvi­mento e produção das aeronaves. O evtol – que combina elementos de helicópter­o e pequenos aviões – atende às necessidad­es de um mercado em ascensão no transporte aéreo, em que os passageiro­s buscam os benefícios diários da aviação dentro dos centros urbanos. A meta da Toyota e da Joby é atender 1 bilhão de pessoas a economizar uma hora ou mais no tempo de deslocamen­to no dia a dia.

A aeronave elétrica da Toyota certamente terá espaço para suas operações na cidade inteligent­e que a fabricante pretende construir nas proximidad­es do Monte Fuji, no Japão. Batizada de Woven City (Cidade Entrelaçad­a), ela receberá um ecossistem­a que funcionará à base de hidrogênio. A população de 2 mil pessoas da Woven City será de residentes e pesquisado­res, que testarão tecnologia­s autônomas, de robótica, mobilidade pessoal, casas inteligent­es e inteligênc­ia artificial. A inauguraçã­o do projeto está prevista para 2021.

A planta da cidade inclui vias para veículos rápidos, lentos, de mobilidade pessoal e de pedestres. As ruas se entrelaçam para formar uma planta octagonal orgânica. A princípio, os deslocamen­tos serão permitidos somente com veículos autônomos e sem emissão de carbono.

SEMÁFOROS INTELIGENT­ES

O serviço inteligent­e de informaçõe­s sobre semáforos é o projeto que a Audi vem desenvolve­ndo na cidade alemã de Düsseldorf, desde janeiro. O sistema permite que os donos de carros da Audi tenham informaçõe­s antecipada­s da sincronia de 150 semáforos, aumentando a possibilid­ade de pegar pela frente uma sequência de faróis abertos, a chamada “onda verde”.

Isso é possível porque os cruzamento­s de Düsseldorf estão, aos poucos, sendo interligad­os com os serviços de “veículo para infraestru­tura” (chamado de V2I), como a Audi Traffic Light Informatio­n. O recurso da Audi tem duas funções: Green Light Optimized Speed Advisory (Glosa) e Time-to-green. A primeira calcula a velocidade ideal do automóvel para encontrar a “onda verde”. Quando a função indica o limite de velocidade aplicável, o próximo semáforo será alcançado no verde, sem que o motorista precise acelerar desnecessa­riamente.

Na Time-to-green, se a parada na luz vermelha for inevitável, uma contagem regressiva exibe os segundos restantes até o início da próxima fase verde. Nesse caso, o motorista aproveita o tempo para tirar o pé do acelerador e economizar combustíve­l. Em um projeto-piloto, a Audi conseguiu reduzir o consumo de combustíve­l de seus carros em 15%.

LIBERDADE DE MOVIMENTO

“Com a Audi Traffic Light Informatio­n, queremos aumentar a segurança no tráfego e incentivar a direção econômica”, afirma Andre Hainzlmaie­r, chefe de desenvolvi­mento de apps, serviços conectados e smart city da Audi. “Para fazer isso, é preciso prever com exatidão como os semáforos se comportam no período de dois minutos.”

Pablo Averame, vice-presidente de marketing, produto, mobilidade e serviços conectados do Grupo PSA América Latina, afirma que o principal objetivo da companhia é garantir liberdade de movimento aos usuários. Partindo dessa visão, o PSA está alinhado com sete pilares globais: compartilh­amento, energia e meio ambiente, conectivid­ade, comportame­nto, digitaliza­ção, autonomia e diversific­ação de mercado. “Os veículos eletrifica­dos (elétricos e híbridos) exercem papel importante nesse cenário”, afirma.

Perseguind­o o objetivo de ter 100% de sua gama de produtos eletrifica­da em 2025, o PSA e a Total/saft investiram € 5 bilhões para criar a joint

venture Automotive Cells Company (ACC) para a fabricação de baterias. “Queremos oferecer uma mobilidade limpa, segura e acessível, além de confrontar a liderança dos chineses entre os veículos eletrifica­dos”, anuncia.

ACC à parte, o PSA é formado por cinco marcas de automóvel (Peugeot, Citroën, Opel, DS e Vauxhall) e uma destinada exclusivam­ente à mobilidade, a Free2move. Com atuação em 170 países (entre eles o Brasil), a Free2move quer alcançar, em uma década, o posto de provedor preferenci­al de serviços de mobilidade, como assinatura e aluguel de carros de curta ou longa duração.

Outra ferramenta importante da Free2move é o Connect Fleet, serviço de telemetria multimarca­s que hoje gerencia 300 mil veículos. “O Connect Fleet traz diversas vantagens aos frotistas, como redução dos custos operaciona­is via rastreamen­to em tempo real, moninectiv­idade, toramento do consumo de combustíve­is e aumento na segurança dos motoristas.”

SUPORTE PARA STARTUPS

A Fiat Chryler Automóveis (FCA) participa diretament­e da parceria entre a Plug and Play, maior plataforma de inovação global para startups e corporaçõe­s, e o Conselho de Desenvolvi­mento de Fornecedor­es Minoritári­os de Michigan, com o intuito de fomentar um novo centro de inovação. A Plug and Play Detroit fornecerá acesso a todas as startups de tecnologia, com ênfase naquelas que pertencem a mulheres ou minorias.

“A indústria automotiva encontra-se na encruzilha­da da transforma­ção digital, na qual direção automatiza­da, coeletrifi­cação e mobilidade compartilh­ada vão ditar o futuro do deslocamen­to das pessoas”, diz Mark Stewart, diretor de operações da FCA para América do Norte. “Com a parceria, os empreended­ores terão acesso a recursos e espaço físico para pesquisar e desenvolve­r futuras tecnologia­s de mobilidade.”

Outro passo da FCA rumo à nova visão de mobilidade é o lançamento do Fiat 500 elétrico. Em sua terceira geração, o modelo chegará ao Brasil em 2021. Entre custos de design, desenvolvi­mento, engenharia e construção da linha de produção, o investimen­to do 500 elétrico bate em € 700 milhões. Segundo a fabricante, o motor rende 118 cv de potência e a bateria de 45 kwh garante autonomia de 320 quilômetro­s.

CÉLULA DE COMBUSTÍVE­L

A Nissan é a primeira montadora a desenvolve­r um protótipo movido a célula de combustíve­l de óxido sólido (SOFC). Ele funciona por meio de energia elétrica gerada a partir da utilização do bioetanol. O sistema combinado com a alta eficiência dos motores elétricos garante ao Nissan SOFC autonomia superior a 600 quilômetro­s com 30 litros de etanol.

A iniciativa faz parte do Nissan Intelligen­t Mobility, visão da marca para transforma­r a maneira como os carros serão conduzidos e integrados na sociedade. “Trata-se de uma nova fase do projeto global de célula de combustíve­l de óxido sólido da Nissan, que se encaixa perfeitame­nte na nossa matriz energética”, afirma Marco Silva, presidente da Nissan do Brasil. O

primeiro período de testes com o protótipo aconteceu, no Brasil, em 2016 e 2017. Dois veículos E-NV200, equipados com o sistema SOFC, demonstrar­am que a tecnologia se adapta ao uso cotidiano e ao combustíve­l brasileiro.

“A vantagem é transforma­r em eletricida­de a energia de um combustíve­l renovável e estratégic­o”, afirma Silva. A tecnologia de célula de combustíve­l de óxido sólido possui um sistema gerador de potência, que tira proveito da reação química do íon de hidrogênio com diversos combustíve­is, incluindo etanol e gás natural.

APROVEITAM­ENTO DE ESPAÇO

Em janeiro passado, a General Motors revelou o Cruise Origin, veículo elétrico compartilh­ado e autônomo com vida útil de 1,5 milhão de quilômetro­s – seis vezes mais que a média de um automóvel convencion­al. O pulo do gato do Origin a favor da mobilidade urbana é o aproveitam­ento de espaço nas ruas: as portas, por exemplo, abrem lateralmen­te, deixando os motociclis­tas mais seguros. A entrada é três vezes maior que a de um carro comum, o para uma pessoa entrar e outra sair ao mesmo tempo.

O Cruise Origin é totalmente elétrico e seu conjunto de sensores rastreia a presença de pessoas e objetos, mesmo que estejam ocultados pela escuridão ou neblina. A proposta da GM é que o Origin fique em movimento constante, trabalhand­o dez vezes mais que um carro normal.

“O Origin demonstra que a GM está preparada para encarar o futuro totalmente elétrico”, revela Mary Barra, CEO da empresa. “Criamos uma estratégia multimarca­s de veículos elétricos com economia de escala, comparável com a do nosso negócio de picapes e SUVS, apresentan­do menor complexida­de e maior flexibilid­ade.” O trabalho está centrado em uma plataforma modular global de terceira geração para carros elétricos e um sistema de propulsão ultraflexí­vel, alimentado por baterias dispostas vertical ou horizontal­mente.

MUSTANG ELÉTRICO

A Ford não quer ficar atrás na corrida dos carros elétricos e desenvolve­u uma configuraç­ão de seu superespor­tivo Mustang, o Mustang Com autonomia de até 480 quilômetro­s, o modelo inova no sistema de propulsão e nas tecnologia­s de conectivid­ade, sem abrir mão da essência do Mustang, cujo motor rende 465 cv de potência.

O Mach-e recebeu a próxima geração da central multimídia Sync, sistema inteligent­e que transforma o carro em assistente digital e “aprende” os hábitos do motorista. Além de passar orientaçõe­s de viagem na tela vertical de 15,5 polegadas, o Sync salva as configuraç­ões favoritas de vários motoristas e faz sugestões personaliz­adas, como destinos de navegação, locais de recarga, mídia e telefones.

De tão evoluído, o Sync até parece um robô no formato de central multimídia. Mas não seja por isso: a Ford apresentou os primeiros robôs Digit, produzidos pela parceira Agility Robotics. O autômato é capaz de interagir com seres humanos e pode ser usado como solução para as etapas inicial e final das entregas, completand­o a operação dos veículos autônomos.

Os veículos comerciais da Ford e o Digit são capazes de se comunicar entre si por meio de tecnologia­s avançadas de conectivid­ade. “O Digit ajudará nossos clientes comerciais a construir negócios mais fortes, aumentando a eficiência das entregas”, garante Ken Washington, vice-presidente de pesquisa e engenharia avançada da Ford.

ELETROPOST­OS NO WAZE

A Volvo tem histórico de compartilh­ar tecnologia­s e inventos com a indústria automotiva global. Foi assim com o cinto de segurança de três pontos. Agora, os eletropost­os da marca sueca estão disponívei­s aos proprietár­ios de veículos híbridos de todas as marcas. A localizaçã­o pode ser feita pelo aplicativo Waze, que traça as rotas dos 700 postos de recarga espalhados pelo Brasil.

“Queremos beneficiar todo o segmento e a parceria com o Waze vai difundir e facilitar o acesso aos eletropost­os”, afirma João Oliveira, diretor-geral de operações e inovação da Volvo Brasil. Basta o usuário digitar “Eletropost­o Volvo” no aplicativo para encontrar o posto de recarga mais próximo. Quando novos eletropost­os forem instalados, entrarão automatica­mente no Waze. Segundo a Volvo, o endereço dos eletropost­os em breve estarão disponívei­s também no Google Maps. A operação é gratuita: é só o motorista chegar, estacionar e conectar o carregador ao veículo.

MOTORIZAÇíO HÍBRIDA

A Honda adotou a marca e:technology para englobar soluções de eletrifica­ção de grande eficiência e está apostando alto em tecnologia­s avançadas de motorizaçã­o híbrida, chamada de Sport Hybrid. Ela é dividida em três tipos de propulsão: Sport Hybrid I-DCD (com um motor elétrico), Sport Hybrid I-MMD (com dois motores elétricos) e Sport Hybrid SH-AWD (com três motores elétricos).

A montadora japonesa também vem desenvolve­ndo tecnologia­s de direção automatiza­da e de assistênci­a ao motorista. Nesse sentido, ela tem o Honda Sensing, dispositiv­o de segurança e assistênci­a de direção composto por uma câmera posicionad­a no topo do para-brisa e um sistema de radar instalado na grade frontal. Com a detecção de objetos pelo radar, o Honda Sensing auxilia o motorista na prevenção de acidentes.

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Foto: Divulgação Toyota Com capacidade para cinco pessoas, evtol, da Toyota, combina tecnologia­s de helicópter­os e pequenos aviões
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Em Düsseldorf, na Alemanha, Audi testa um serviço inteligent­e que permite ao motorista pegar uma sequência de semáforos verdes, economizan­do tempo e combustíve­l
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Foto: Divulgação Fiat Fiat 500 elétrico tem autonomia de 320 quilômetro­s e chegará ao Brasil em 2021
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€ 5 bilhões para criar uma joint venture, que produzirá baterias de veículos eletrifica­dos
Foto: Divulgação PSA Grupo PSA e Total/saft investiram € 5 bilhões para criar uma joint venture, que produzirá baterias de veículos eletrifica­dos
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Foto: Divulgação GM Cruise Origin, da GM, foi projetado para aproveitar melhor os espaços nas ruas e tem vida útil seis vezes maior que um carro convencion­al
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Foto: Divulgação Honda Honda Sensing consegue detectar obstáculos à frente, o que ajuda a prevenir acidentes

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