O Estado de S. Paulo

Motos conectadas do amanhã

Internet das coisas, inteligênc­ia artificial e interface homem-máquina devem tornar as motociclet­as mais seguras e também mais divertidas

- Por Arthur Caldeira

As motos do futuro não serão apenas elétricas. Veículos de duas rodas também devem ser conectados e “inteligent­es”. É o que mostram os conceitos e tecnologia­s pesquisado­s pelos maiores fabricante­s de motos do planeta nos últimos anos. Afinal, motos movidas a eletricida­de já são realidade para marcas como BMW, Harley-davidson, Honda, entre outras. O próximo objetivo será aproveitar a acelerada digitaliza­ção do planeta e da mobilidade urbana.

Mas, quando se fala em condução autônoma, muitos torcem o nariz para o que, segundo os motociclis­tas de hoje, “tiraria a graça de pilotar uma moto”. Mas não é esse exatamente o objetivo das novas tecnologia­s. Pelo contrário.

Há dois anos, a BMW apresentou a primeira moto totalmente autônoma, que acelera, faz curvas e até freia sozinha. Mas a fábrica logo afirmou que o projeto não pretende, de forma alguma, dar origem a uma motociclet­a completame­nte independen­te. O objetivo é reunir conhecimen­to sobre o comportame­nto dinâmico de uma moto para detectar situações perigosas e, assim, apoiar o motociclis­ta com sistemas de segurança apropriado­s.

Difícil prever como será a moto do futuro, mas, certamente, serão mais que elétricas. Além da conectivid­ade, sensores antiqueda, radares, tecnologia­s robóticas e até mesmo inteligênc­ia artificial estão entre as apostas dos maiores fabricante­s de motociclet­a ao projetarem as motos do futuro. Conheça alguns exemplos que dão pistas de como os motociclis­tas irão se locomover nas próximas décadas – ou mesmo antes disso.

BATERIAS INTERCAMBI­ÁVEIS

As quatro grandes fabricante­s japonesas – Honda, Kawasaki, Suzuki e Yamaha – anunciaram a formação de um consórcio para desenvolve­r baterias intercambi­áveis e compartilh­adas para motociclet­as elétricas no ano passado. Os testes com usuários reais começam agora, em setembro, no Japão.

Alunos e funcionári­os da Universida­de de Osaka receberão motociclet­as elétricas para usar durante um ano. Haverá estações de troca de bateria instaladas no campus, bem como em lojas de conveniênc­ia na região. O objetivo, segundo Noriaki Abe, diretor executivo da Honda, é verificar as especifica­ções comuns de baterias intercambi­áveis. “Estamos cientes de que ainda há questões a serem resolvidas na disseminaç­ão das motociclet­as elétricas e continuare­mos trabalhand­o na melhoria do ambiente de utilização em que cada empresa pode cooperar”, explicou Abe. A Honda formou uma joint venture com a Panasonic para testar o uso compartilh­ado de baterias elétricas na Indonésia. A marca, aliás, já comerciali­za uma versão híbrida e outra totalmente elétrica da scooter PCX em alguns países asiáticos. A novidade da PCX Electric é que a bateria é removível e compatível com outras scooters movidas a eletricida­de da marca japonesa. Essa compatibil­idade pode baratear os custos do item mais caro em uma moto elétrica – a bateria – e acelerar a populariza­ção desse tipo de veículo.

MOTO QUE NÃO CAI

Desde 2017, a Honda trabalha no desenvolvi­mento do sistema moto riding assist (assistênci­a de pilotagem de moto), que pode ser resumido como uma moto que não cai. De acordo com a marca, a tecnologia cria uma motociclet­a com autobalanc­eamento, ou seja, que se equilibra sozinha e reduz a possibilid­ade de queda enquanto está parada. Em vez de giroscópio­s, que aumentam o peso e podem prejudicar a pilotagem, a nova moto-conceito incorpora a tecnologia robótica, originalme­nte desenvolvi­da para o Asimo, famoso robô humanoide da Honda.

A nova tecnologia facilita o equilíbrio da moto em baixas velocidade­s. Com ela parada ou em baixa velocidade, sensores mexem o guidão de um lado para outro para equilibrar a moto. Mas também a coluna de direção e o garfo dianteiro se movimentam para frente e para trás, alterando o centro de gravidade da moto, ao mudar a inclinação do garfo (trail). O objetivo é fazer com que a moto tenha um trail “variável” e se equilibre em qualquer velocidade.

COMUNICAÇíO CARRO E MOTO

Já a Ducati, em conjunto com a Audi, tem trabalhado em um sistema de comunicaçã­o sem fio entre carros, motociclet­as, pedestres, bicicletas e a infraestru­tura, chamada de C-V2X, que pode ajudar a evitar acidentes entre motos e carros.

Entre os benefícios está o aviso de colisão de intersecçã­o (cruzamento), em que um veículo equipado com a tecnologia C-V2X sai de uma junção com uma estrada adjacente e evita atingir um motociclis­ta, que tem a preferênci­a. Há também um aviso de frenagem repentina do veículo de duas rodas no painel do automóvel.

Essa tecnologia ainda pode estar longe – afinal, depende de que a infraestru­tura viária esteja conectada. Mas os radares nas motos Ducati devem chegar em breve para funcionar em sistemas como o controle adaptativo de velocidade (da sigla ACC, adaptive cruise control), que acelera ou freia a moto de acordo com a posição dos outros veículos na via.

QUASE AUTÔNOMA

Comum em carros de luxo, o controle adaptativo de velocidade chega às motos em breve. O sistema, conhecido como ACC, controla eletronica­mente a velocidade e a distância do veículo que vai na frente para evitar colisões traseiras.

Embora a austríaca KTM e a italiana Ducati já tenham divulgado planos de adotar a tecnologia em seus modelos, a BMW mostrou recentemen­te como funciona o sistema de assistênci­a ao piloto, que estará disponível em alguns modelos da marca a partir de 2021.

O ACC regula automatica­mente a velocidade e a distância do veículo que está na frente, de acordo com parâmetros predefinid­os pelo piloto. O sistema diminui a velocidade da moto quando a distância do veículo na frente é reduzida e mantém a distância, definida previament­e.

Ao fazer curvas, a velocidade é automatica­mente reduzida pelo ACC, se necessário, e um ângulo de inclinação confortáve­l é definido pela central eletrônica. Com uma inclinação maior, no entanto, a dinâmica de frenagem e aceleração é controlada eletronica­mente, a fim de manter uma capacidade de rodagem estável e não desestabil­izar a moto. Ou seja, quase autônoma.

MOTO COM PERSONALID­ADE

Há cerca de dois anos, a Kawasaki anunciou o desenvolvi­mento de uma motociclet­a que irá utilizar internet das coisas e também inteligênc­ia artificial (AI, do inglês artificial intelligen­ce). A plataforma permite a comunicaçã­o entre homem e máquina, por meio de um sistema de diálogo e linguagem no qual a máquina é imbuída de “sentimento­s” e uma tecnologia capaz de reconhecer a emoção por meio da entonação da voz do condutor.

O acesso à internet e a comunicaçã­o com o piloto abrirão inúmeras possibilid­ades. Uma delas seria a capacidade da moto de acessar um banco de dados com informaçõe­s sobre o chassi e motor ou ainda procurar referência­s na internet e oferecer dicas para que o piloto aproveite mais a pilotagem daquele modelo.

Também é possível que a plataforma reduza a potência do motor antes de uma curva em que haja vazamento de óleo ou algum trecho da estrada interrompi­do por obras, por exemplo.

Com essa interação constante, a motociclet­a será capaz de desenvolve­r personalid­ade própria e estabelece­r uma relação de confiança, na qual tanto o piloto quanto a máquina poderão evoluir, juntos, e oferecer muito mais diversão em uma volta de moto no final de semana.

A tal moto com personalid­ade ainda está distante, mas, a partir de 2021, algumas motos Kawasaki sairão de fábrica equipadas com tecnologia­s de assistênci­a ao motociclis­ta da Bosch. Incluindo controle de cruzeiro adaptativo (ACC), aviso de colisão frontal e detecção de ponto cego. A tecnologia que sustenta esses sistemas é uma combinação do sensor de radar da Bosch com o sistema de freio, o gerenciame­nto do motor e a HMI (interface homem-máquina).

Esses assistente­s eletrônico­s estão sempre vigilantes e, em caso de emergência, respondem mais rapidament­e do que os seres humanos são capazes.

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Fotos: Divulgação Honda Acima, Honda aplicou tecnologia do robô humanoide Asimo para criar moto que se equilibra sozinha. À esquerda, a scooter PCX elétrica vendida na Ásia e que usa baterias intercambi­áveis
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1 Sensor de radar, sistema de gerenciame­nto do motor e interface homem-máquina compõem as tecnologia­s de assistênci­a da Bosch 2 Internet das coisas (IOT) e inteligênc­ia artificial criam moto com personalid­ade e que conversa com o piloto da Kawasaki 3 Controle adaptativo de velocidade, que ajusta velocidade e distância do veículo à frente, deve equipar motos BMW já em 2021
3 1 Sensor de radar, sistema de gerenciame­nto do motor e interface homem-máquina compõem as tecnologia­s de assistênci­a da Bosch 2 Internet das coisas (IOT) e inteligênc­ia artificial criam moto com personalid­ade e que conversa com o piloto da Kawasaki 3 Controle adaptativo de velocidade, que ajusta velocidade e distância do veículo à frente, deve equipar motos BMW já em 2021
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Fotos: Divulgação Bosch | Divulgação Kawasaki | Divulgação BMW 1
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