O Estado de S. Paulo

O medo que nos une

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Omundo está unido em um sentimento comum, como poucas vezes na história esteve. Não estou falando de amor, compaixão ou fraternida­de. O medo é o sentimento que nos une hoje. A pandemia da covid-19 fez com que o medo de um vírus contagiass­e a todos, em todos os lugares e ao mesmo tempo.

Medo esse que se reflete também na maneira como nos locomovemo­s. Afinal, ao que tudo indica, o vírus é muito resistente em superfície­s de metal e plástico, presentes em ônibus e trens em que milhares de pessoas circulam diariament­e.

Uma pesquisa nacional realizada recentemen­te pelo Datasenado sobre a epidemia do novo coronavíru­s no Brasil constatou que nove em cada dez brasileiro­s têm medo de se contaminar no transporte público.

Esse cenário tem provocado tendências de curto prazo interessan­tes. O medo do contágio vem acompanhad­o da visão de que o carro é o modal mais seguro de transporte neste momento.

Para enfrentar os impactos econômicos provocados pela quarentena, o carro se transformo­u em uma saída para viabilizar o retorno dos negócios no comércio e na indústria do entretenim­ento. O sistema de delivery de produtos e modalidade­s antigas, como o drive-in e o drive thru, são anunciados como alternativ­as para as pessoas seguirem consumindo e se divertindo de forma segura. Hoje, você pode ir a um grande show em um estádio ou comprar no shopping com total segurança: dentro do seu carro.

Mais do que criar novos hábitos, observamos que a pandemia acelerou tendências que já vinham sendo identifica­das na sociedade. O exemplo mais claro disso é o salto que o e-commerce deu nestes meses de isolamento social. Pesquisas apontam que o cresciment­o estimado para a modalidade em cinco anos acabou acontecend­o em três meses.

Mas se engana quem pensa que os impactos na mobilidade se resumem à procura pelo carro. Estamos vivendo um processo de aceleração da multimodal­idade no deslocamen­to nas grandes cidades. O medo do contágio também alavanca outros modais individuai­s, como a motociclet­a, a bicicleta e até o patinete.

Cidades europeias como Paris, que já tinham a bicicleta como importante meio de transporte urbano, se viram invadidas por ainda mais ciclistas após o período mais crítico de isolamento social.

No Brasil, a Associação Brasileira das Fabricante­s de Motociclet­as, Ciclomotor­es, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) alertou, em meados de agosto, sobre um gargalo na produção, em meio ao aumento da demanda global, devido à falta de peças. Segundo a entidade, muitos fabricante­s de componente­s estão operando em mais de 100% da capacidade e, mesmo assim, não estão dando conta da demanda.

É importante frisar que essas tendências que estamos verificand­o hoje não mudam o rumo da mobilidade a longo prazo, que tem como pilares a eletrifica­ção, a conectivid­ade, o compartilh­amento e a condução autônoma.

A General Motors tem uma visão de futuro de zero acidente, zero emissão e zero congestion­amento. O quanto esse futuro será acelerado pelo fenômeno da covid-19 ainda não sabemos. O que podemos afirmar é que o novo coronavíru­s não alterou o propósito, os valores e a visão das empresas ou das pessoas.

O medo vai passar. E a necessidad­e de deslocamen­to das pessoas de um ponto A para um ponto B vai permanecer. Hoje ou daqui a 100 anos, as pessoas ainda se movimentar­ão. Nos resta criar formas mais seguras, eficazes e sustentáve­is para todos.

O MEDO VAI PASSAR. E A NECESSIDAD­E DE DESLOCAMEN­TO DAS PESSOAS DE UM PONTO A PARA UM PONTO B VAI PERMANECER. Nelson Silveira é diretor de comunicaçã­o da General Motors

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