O Estado de S. Paulo

Micromodai­s: nos dias de hoje, mobilidade não tem idade

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SÃO TEMPOS MAIS MODERNOS, COM NOVAS TECNOLOGIA­S CHEGANDO A TODAS AS IDADES, NOVAS FORMAS DE VIVER E NOVOS PROCEDIMEN­TOS.

Os cinquentõe­s e sessentões não são mais os mesmos. Eles estão cada vez mais dispostos, arrojados, saudáveis, modernos e buscando novas experiênci­as. Os tempos mudaram. Os chamados agelles (pessoas cuja idade não se define pela cronologia) misturam-se facilmente a quarentões e trintões em bares, shoppings, restaurant­es, festas e, com muita frequência, é difícil até de identifica­r, entre eles, quem é o mais jovem ou o mais velho. Não se trata apenas de visual, jeito de se vestir ou local que frequentam. É uma questão de mentalidad­e e vitalidade, que mudaram muito nas últimas décadas.

A turma que nasceu nos anos 1950 e 60 sempre enxergou, durante sua adolescênc­ia, as pessoas dessa faixa etária como alguém ‘velho’. Pessoas acima de 40 anos já eram reconhecid­as como idosas. Mas o tempo passou, muita coisa mudou e, com isso, vivemos tempos mais modernos, com novas tecnologia­s chegando a todas as idades, novas formas de viver e novos procedimen­tos. Basta reparar como os cinquentõe­s e sessentões se vestem hoje, como fazem atividade física regularmen­te nas academias e parques, estudam, iniciam faculdades e cursos, viajam com frequência, fazem planos para o futuro, mudam de carreira, se reinventam. Há dados oficiais que mostram que, cada vez mais, pessoas com 50 anos entram na universida­de – em 2017, por exemplo, segundo o Censo da Educação Superior, eles somaram 73 mil estudantes.

Na mobilidade urbana, não é diferente e fica cada vez mais perceptíve­l o cresciment­o desse perfil de usuário, sobretudo no que se refere aos micromodai­s elétricos. Uma pesquisa realizada pela extinta Yellow, em 2019, com 4.302 usuários do aplicativo, mostrou que cerca de 5% dos clientes dos serviços de compartilh­amento estavam, na ocasião, na faixa etária acima dos 50 anos. Mas, atualmente, basta uma volta pelas ruas e ciclovias de São Paulo para constatar que eles estão lá em seus patinetes, bikes e monociclos elétricos, em números cada vez maiores.

Na loja, a base principal dos clientes oscila entre 25 e 45 anos. Até um ano atrás, para ter uma ideia, o número de clientes acima dos 50 anos era próximo do zero. Hoje, sem dúvida, essa turma que nasceu nos anos 50 e 60 já representa perto de 20% dos nossos negócios. Esse salto aconteceu em apenas um ano, e parece ser uma tendência irreversív­el. De certa forma, a questão da pandemia acabou por impulsiona­r a adesão das pessoas mais maduras, especialme­nte aquelas do grupo de risco da covid-19, já que os micromodai­s são uma opção mais segura de locomoção. Mas, para muitos deles, modais como o monociclo elétrico também são sinônimo de liberdade, qualidade de vida e diversão pura.

“VAI ANDAR DE MONO!”

Eles vão ao mercado, à farmácia, visitar netos e filhos, simplesmen­te passear e até trabalhar. Não são raros os casos de cinquentõe­s que trocaram o automóvel pela praticidad­e de se locomover diariament­e em seu pequeno veículo elétrico para o seu trabalho com mais prazer. Muitos são os relatos desses novos usuários que chegam até nós. Um deles, com quase 70 anos, não saía mais de casa até descobrir o monociclo elétrico: ‘Melhorou muito minha disposição e até as dores que tinha pelo corpo’. Outro disse: ‘Para mim, é uma terapia. Quando estou estressado, até minha mulher fala: vai andar de mono!’ Uma cliente, já na casa dos 60 anos, comentou que os netos, quando a vêm num monociclo elétrico, dizem: ‘Lá vai a vovó doidinha’.

Claro que não estou abordando aqui outros fatores que levam pessoas ainda mais maduras a optar por veículos especiais para mobilidade reduzida – o que seria outro assunto. Mas o fato é que esse público, em especial, vem se livrando das crenças limitantes atribuídas à idade cronológic­a e percebendo que, ao mudar a forma como se locomovem, ganham, entre outras coisas, algo que vai se tornando cada dia mais valioso. O tempo.

Future-se.

Márcio Canzian é diretor da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) e CEO da Eletricz, empresa especializ­ada na distribuiç­ão de veículos elétricos portáteis

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Foto: Roberto Tarik | Divulgação

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