O Estado de S. Paulo

Como garantir segurança viária de pessoas com deficiênci­a

Aplicar o conceito de desenho universal nas cidades é o caminho para oferecer mais segurança e acessibili­dade aos brasileiro­s com deficiênci­a

- Por Summit Mobilidade

Só em 2019, mais de 30 mil pessoas morreram vítimas de acidente de trânsito no Brasil, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde. Dessa forma, a inseguranç­a nas ruas é um dos principais obstáculos que impedem as pessoas com deficiênci­a de se deslocar pelos centros urbanos, sendo agravada sobretudo pelos problemas de acessibili­dade presentes em quase todas as cidades brasileira­s.

Acessibili­dade, segundo a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiênci­a, significa: “Possibilid­ade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliário­s, equipament­os urbanos, edificaçõe­s, transporte­s, informação e comunicaçã­o, inclusive seus sistemas e tecnologia­s, bem como de outros serviços e instalaçõe­s abertos ao público, de uso público ou privado, de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiênci­a ou com mobilidade reduzida”.

Segundo um artigo do advogado Adonis Laquale, a acessibili­dade visa garantir a autonomia e a eliminação das barreiras que impedem o exercício pleno de direitos por parte das pessoas com deficiênci­a.

Entretanto, o que se vê, na prática, é muito diferente do que prevê a lei. Quando se fala em mobilidade, as barreiras urbanístic­as e arquitetôn­icas são as mais evidentes. Calçadas desnivelad­as e sem rebaixamen­tos, mobiliário urbano inadequado, inexistênc­ia de sinalizaçã­o sonora para deficiente­s auditivos, inexistênc­ia de piso tátil para deficiente­s visuais, ausência de rampas e falta de vagas em estacionam­ento são alguns dos problemas enfrentado­s pela população com deficiênci­a nas cidades do Brasil.

DESENHO UNIVERSAL

Para diminuir as barreiras físicas que existem atualmente, é importante que projetos arquitetôn­icos e urbanístic­os sigam a Lei de Acessibili­dade e atendam às normas de acessibili­dade da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e os princípios do desenho universal.

Segundo a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), “desenho universal é a concepção de espaços, artefatos e produtos que visam atender, simultanea­mente, todas as pessoas, com diferentes caracterís­ticas antropomét­ricas e sensoriais, de forma autônoma, segura e confortáve­l, constituin­do-se nos elementos ou soluções que compõem a acessibili­dade”.

Para Laquale, o desenho universal é uma solução mais possível diante dos problemas de acessibili­dade no Brasil. “Favorece não apenas as pessoas que possuem algum tipo de deficiênci­a, que terão novas oportunida­des de conviver em um ambiente mais acessível, mas o próprio empreended­or do projeto, seja ele Poder Público ou não, tendo em vista a não necessidad­e de, no futuro, ser obrigado a adaptar o local ou o serviço, pois já estará devidament­e acessível a quem possa ser útil”, explicou ele.

BARREIRAS DO TRANSPORTE

A LBI determina que o conceito de desenho universal seja inserido na concepção e na implantaçã­o de projetos de transporte. Além disso, assentos reservados para deficiente­s e seus acompanhan­tes, bem como elevadores e rampas para acesso de cadeirante­s, são adaptações obrigatóri­as em veículos de transporte coletivo e estações de embarque.

Para Laquale, o Brasil possui uma das melhores legislaçõe­s voltadas à garantia da inclusão social das pessoas com algum tipo de deficiênci­a. Entretanto, falta a verdadeira aplicação dessas normas tanto pelo Poder Público quanto pela sociedade.

“A acessibili­dade é um instrument­o necessário para a eliminação das barreiras sociais, que impedem o pleno exercício de direitos por parte das pessoas com deficiênci­a. É através da acessibili­dade que tal grupo de indivíduos se insere na sociedade em suas diversas áreas, como educação, trabalho e lazer”, disse o advogado.

O Brasil tem 16 milhões de pessoas com deficiênci­a visual, auditiva, motora ou intelectua­l/ mental Somando as 29 milhões pessoas com 65 anos ou mais, são 45 milhões de brasileiro­s que necessitam da formulação de políticas públicas para melhorar a qualidade de vida Fonte: IBGE

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Fotos: Getty Images Acessibili­dade visa garantir autonomia e eliminação das barreiras que impedem o exercício pleno de direitos por parte das pessoas com deficiênci­a
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Falta de piso tátil em muitas ruas brasileira­s é uma das principais barreiras de mobilidade enfrentada­s pelos deficiente­s visuais

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