O Estado de S. Paulo

EDITAL DO MUNICIPAL É CRITICADO

Instituto Baccarelli questiona impessoali­dade do processo e cláusulas colocadas pela Prefeitura

- João Luiz Sampaio

O Instituto Baccarelli entrou com pedido de impugnação do edital lançado pela Prefeitura de São Paulo para escolher uma organizaçã­o social responsáve­l pela gestão do Teatro Municipal no período de novembro de 2020 a outubro de 2025. A entidade questiona exigências feitas pelo governo municipal e considera que o chamamento viola a isonomia e a impessoali­dade, cerceando a competitiv­idade do processo.

O pedido de impugnação foi obtido pelo Estadão e confirmado pelos advogados do Instituto Baccarelli que, há duas décadas, mantêm projeto de formação musical e inclusão social em Heliópolis. A Prefeitura também confirmou ter recebido o documento, mas não quis responder aos questionam­entos feitos pela reportagem: em nota, disse apenas que responderá ao pedido dentro do prazo legal de cinco dias.

O primeiro ponto questionad­o pelo instituto tem a ver com a presença de cláusulas que tiram pontos de organizaçõ­es sociais concorrent­es que não tenham contratos de gestão prévios com equipament­os culturais estaduais ou municipais. Essa exigência, diz o pedido de impugnação, privilegia­ria “o mesmo seleto grupo de organizaçõ­es sociais que já tem contratos de gestão em curso para equipament­os culturais”, levando a uma possível “dominação de mercado”. Segundo o Baccarelli, há pelo menos dez entidades qualificad­as como OSS que perderiam chances por estarem sem contratos de gestão atuais.

“Além disso, as exigências de comprovaçã­o de experiênci­a na gestão de equipament­os, programas e projetos de porte semelhante ao do Teatro Municipal de São Paulo e a Praça das Artes são impossívei­s de se cumprir na prática, exceto pela atual entidade que gere o teatro, visto que se trata do mais complexo equipament­o cultural do País”, diz o pedido.

O edital foi lançado pela Prefeitura em 10 de setembro e prevê que as organizaçõ­es interessad­as entreguem até o dia 1º de outubro suas propostas. Atualmente, a gestão do Municipal é feita pelo Instituto Odeon: o contrato inicial estava previsto para durar até 2022, mas a Fundação Teatro Municipal decidiu, no começo do ano, romper a parceria por conta de problemas nas prestações de contas da entidade.

O prazo é outra das questões levantadas pelo pedido de impugnação. O edital exige, por exemplo, já na proposta apresentad­a, que as concorrent­es apresentem até oito parcerias internacio­nais para a gestão do teatro, o que seria difícil em um período de cerca de vinte dias. Para o Baccarelli, há nesse quesito também incoerênci­a. “O próprio edital veda a realização de qualquer ação internacio­nal dos corpos estáveis do Teatro Municipal de São Paulo ou da programaçã­o do equipament­o em território­s estrangeir­o com recursos do contrato de gestão.”

A metodologi­a de avaliação das propostas também está sendo questionad­a. O edital afirma que serão atribuídos pontos para os seguintes critérios: vanguarda, excelência, experiment­ação, processo decisório para definição da programaçã­o e clareza da proposta e da linha curatorial. Para o Baccarelli, os termos são “amplamente genéricos, sem uma definição concreta”. “Como resultado, os membros da Comissão Especial de Seleção terão de realizar uma análise absolutame­nte subjetiva para definição da pontuação de tais critérios, trazendo inseguranç­a jurídica para o edital.”

O Instituto Baccarelli não questiona a composição da comissão especial, formada pela secretária adjunta de Cultura do município, Regina Silvia Pacheco, e por Carlota Mingolla e Luísa de Oliveira Dias, que já passaram pela chefia de gabinete da Secretaria Municipal de Cultura. Mas profission­ais de outras entidades ligadas à gestão em cultura ouvidos pelo Estadão, sob a condição de anonimato, afirmam ver problemas na análise de elementos específico­s da atividade operística por um comitê essencialm­ente técnico, sem a presença de artistas ou especialis­tas na área.

Segundo Fabio Cesnik, advogado do Instituto Baccarelli, a avaliação com relação ao edital é “no geral, positiva”. “O edital avançou em inúmeras frentes e permitiu que o modelo de contrato de gestão pudesse, de fato, contribuir para o gerenciame­nto do complexo Teatro Municipal/praça das Artes. No que pesem os avanços, acreditamo­s que os critérios de julgamento podem ser aprimorado­s para o devido atendiment­o do princípio de isonomia”, diz. “Nosso objetivo é que o edital seja retificado para, dentre outros pontos, permitir uma ampla participaç­ão de entidades no processo e diversidad­e dos planos de trabalho a serem avaliados pela administra­ção municipal.”

NOVO CONTRATO TERÁ VALIDADE DE NOVEMBRO DE 2020 A OUTUBRO DE 2025

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LEO SOUZA/ESTADÃO À espera. Instituto Baccarelli entrou com pedido de impugnação do edital; Prefeitura tem cinco dias para responder

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