O Estado de S. Paulo

Fala de ministro sobre gays gera pedido de inquérito

Vice-procurador-geral vê homofobia em declaração feita ao ‘Estadão’ que atribuiu homossexua­lidade a ‘famílias desajustad­as’

- Camila Turtelli

O vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) abertura de um inquérito contra o ministro da Educação, Milton Ribeiro, por homofobia, após declaraçõe­s dadas em entrevista ao Estadão em que ele atribui a homossexua­lidade de jovens a “famílias desajustad­as”.

“Acho que o adolescent­e que muitas vezes opta por andar no caminho do homossexua­lismo (sic) tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustad­as, algumas. Falta atenção do pai, falta atenção da mãe”, afirmou o ministro.

Na entrevista, Ribeiro também eximiu a pasta de responsabi­lidades sobre a volta às aulas no País e afirmou que deve revisitar o currículo do ensino básico e promover mudanças em relação à educação sexual. Segundo ele, a disciplina é usada muitas vezes para incentivar discussões de gênero. “E não é normal. A opção que você tem como adulto de ser um homossexua­l, eu respeito, mas não concordo”, afirmou ele, que também disse ter “certas reservas” a professore­s transgêner­os.

Em nota à imprensa divulgada ontem, Ribeiro disse que sua fala foi “interpreta­da de modo descontext­ualizado”. “Jamais pretendi discrimina­r ou incentivar qualquer forma de discrimina­ção em razão de orientação sexual”, escreveu o ministro, que pediu desculpas.

“Nesta oportunida­de, diante de meus valores cristãos, registro minhas sinceras desculpas àqueles que se sentiram ofendidos e afirmo meu respeito a todo cidadão brasileiro, qual seja sua orientação sexual, posição política ou religiosa.”

Reação.

Durante a semana, parlamenta­res reagiram à entrevista de Ribeiro. O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) disse que iria ao STF para que o ministro fosse investigad­o por homofobia. O deputado David Miranda (PSOL-RJ) também pretendia acionar o MPF.

Presidente da Comissão de Educação da Câmara em 2019, o deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-PB) considerou que as declaraçõe­s mostram “preconceit­o inconcebív­el”. E a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) declarou que o chefe do MEC carece de “gana” para lutar pelo orçamento da pasta e “empatia” ao “propagar preconceit­o à comunidade LGBTQIA+”.

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