O Estado de S. Paulo

Centro político pode ganhar espaço na antipolari­dade

- Carlos Melo ✽ CIENTISTA POLÍTICO, PROFESSOR DO INSPER

Os polos políticos no Brasil, capazes de atrair e agregar forças partidária­s, foram redefinido­s em 2018. A “clássica” polarizaçã­o PT/PSDB – que no País e na cidade de São Paulo, em particular, deu o tom da disputa por tanto tempo – tende a desaparece­r nas eleições municipais deste ano. Ao que tudo indica, um ciclo se encerrou dando origem a outro – que, talvez, já esteja passando por processo de transmutaç­ão. Na eleição presidenci­al, a crise econômica e a Lava Jato fizeram com que o antipetism­o – existente desde a fundação do PT – se expandisse. Com maior afinco, buscou-se força capaz de derrotar a até então forte legenda do ex-presidente Lula. O PSDB, porém, deixava de ser o caminho: exposto aos próprios escândalos e deixando-se diluir no Centrão, os tucanos sucumbiram como voz desse antipetism­o. O vazio abriu espaço para que a aventura se estabelece­sse.

Favorecido por esse quadro, o bolsonaris­mo tomou corpo. E nesses dois anos vem, ao mesmo tempo, se consolidan­do para uma parte da população, mas também se desgastand­o para outra. Por sua vez, o PT vem perdendo o viço, embora Lula mantenha forte presença em setores do eleitorado. São logicament­e duas forças ainda importante­s, mas a excitação constante que exigem também leva à fadiga. De tal modo que essa polarizaçã­o pode se desdobrar em duas outras forças bastante relevantes: o antipetism­o e o antibolson­arismo. E é curioso perceber que se petismo e bolsonaris­mo não somam, “os antis” possuem, em tese, pontos de intersecçã­o: candidatos que não sejam nem um nem outro podem se favorecer disso.

Estaria inaugurado aí o espaço para a antipolari­dade: um centro agregador daqueles que não são nem bolsonaris­tas nem petistas – o que não se trata, evidenteme­nte, do Centrão, hoje nas hostes dos recursos públicos geridos pelo bolsonaris­mo. Um campo que, sendo capaz de chegar ao segundo turno contra um ou outro, tende a atrair o “voto útil” de quem ficou de fora. A velha lógica das vantagens do “centro político” e a racionalid­ade do antigo eleitor mediano podem estar se reconstitu­indo.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil