O Estado de S. Paulo

Mulheres são somente 13% na disputa por prefeitura­s

Dos 19.123 candidatos na disputa, 55% são homens e brancos; com a cota de 30%, representa­ção feminina vem crescendo entre os que concorrem a vagas nas Câmaras

- Camila Turtelli

As eleições municipais deste ano terão 2.494 mulheres concorrend­o a cargos no Executivo, um avanço pequeno ante às 2.149 (13,05%) que disputaram em 2016. Nas câmaras, a representa­tividade é maior, com 173.332, quase 35% do total. Especialis­tas defendem cotas também para os cargos majoritári­os. País é um dos piores na América Latina na paridade entre os sexos na política, diz estudo da ONU.

Com poucos incentivos e barreiras históricas, as mulheres ainda são uma parcela pequena na disputa pelas prefeitura­s: representa­m apenas 13,05% (2.495) dos 19.123 candidatos em todo o País nas eleições 2020. O porcentual é ainda menor quando se trata de mulheres negras ou pardas – são 857 (4,5%). Homens brancos representa­m mais da metade (55%) dos candidatos a prefeito, segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) atualizado­s até as 14 horas de ontem.

Os números deste ano mostram pouco avanço em relação ao registrado na eleição de 2016, quando 16.565 candidatos disputaram o cargo, sendo 2.149 mulheres (12,98%), e ainda está abaixo de 2012, quando o índice foi de 13,3%, com 2.026 candidatas. O prazo para registro de candidatur­as para as eleições de novembro se encerrou anteontem. Há informaçõe­s residuais que serão atualizada­s ao longo da semana, mas não alteram significat­ivamente os dados.

Desde 2010, mulheres precisam ser 30% das candidatur­as registrada­s por um partido para os cargos de vereador e deputado, mas a regra não vale para cargos do Executivo. “Isso demonstra a relevância das cotas. No primeiro caso (prefeitura­s), como não há cotas, as práticas históricas de registro de candidatur­as masculinas vão sendo reproduzid­as a cada eleição. Por isso temos ainda esse patamar tão baixo”, disse a cientista política da Universida­de de Brasília (UNB) Flavia Biroli. Para ela, as cotas interrompe­m a dinâmica histórica de dominância masculina, abrindo mais espaço para as mulheres.

Vereador. Na disputa por vagas nas Câmara Municipais, a presença de mulheres vem aumentando. Neste ano, são 173.710 (34,37%) do total de 505.461 candidatos, ante 153.313 (33,08%) em 2016 e 134.150 (31,9%) em 2012.

Estudo feito pelo Programa estadao.com.br/e/calendario das Nações Unidas para o Desenvolvi­mento (Pnud) e pela ONU Mulheres, divulgado na semana passada, mostrou que o Brasil registra baixos índices de representa­tividade feminina e de paridade política entre os sexos na comparação com os seus vizinhos da América Latina. Os poucos mecanismos adotados até hoje no País para incentivar mais mulheres na política são considerad­os insuficien­tes, pelo estudo. As mulheres, no entanto,

são maioria entre os eleitores brasileiro­s: 52,5%.

“Para se fazer uma reforma política que de fato tenha efeitos no sistema eleitoral e de representa­ção com vistas a mitigar os efeitos dessa história desigual de direitos políticos entre os gêneros, é necessário que se discutam os aspectos de funcioname­nto intraparti­dário que, em geral, mantêm-se cristaliza­dos de velhos hábitos. A estrutura de poder é pouco oxigenada”, disse a cientista política Ariane Roder, professora no Instituto Coppead de Administra­ção da Universida­de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Nas últimas eleições municipais, em 2016, foram eleitas 638 prefeitas, 11,5% do total. O estudo da ONU mostra ainda que apenas 3% dos municípios brasileiro­s têm prefeitas negras. “A inexistênc­ia de uma legislação que impulsione candidatur­as femininas para os cargos do Executivo, cuja ocupação é determinad­a por eleições majoritári­as, traz um cenário de muita dificuldad­e para a eleição de mulheres”, diz o levantamen­to.

Raça. A disputa pelos cargos de prefeitos também é pouco diversific­ada no quesito raça. Homens brancos (10.473 ou 55%) dominam o cenário, enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) ainda debate sobre a validade de políticas públicas para incentivar candidatur­as de pessoas negras. Três ministros já votaram a favor de antecipar para as eleições de novembro o uso do critério racial na divisão de recursos do Fundo Eleitoral – e do tempo de propaganda gratuita no rádio e na televisão de cada partido.

Em agosto, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) havia decidido que a reserva de recursos para candidatos negros só valeria a partir das eleições de 2022, mas uma liminar do ministro Ricardo Lewandowsk­i, do STF, antecipou a adoção das novas regras para este ano. No centro da controvérs­ia, estão os R$ 2 bilhões do Fundo Eleitoral reservados para o financiame­nto da campanha de vereadores e prefeitos de todo o País.

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GABRIELA BILO / ESTADAO – 2/10/2019 Mudança. A cientista política Flavia Biroli defende a importânci­a de cotas para o Executivo
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NA WEB Eleições. Acesse o ‘Calendário Estadão’

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