O Estado de S. Paulo

Trump ficou 10 anos sem pagar imposto, diz NYT

Funcionári­os da ONU estimam que pelo menos 24 milhões de crianças no mundo deixarão estudos; na Índia, 200 milhões foram atingidas

- Jeffrey Gettleman Suhasini Raj

O presidente dos EUA, Donald Trump, pagou só US$ 750 em tributos em 2016, quando se elegeu, segundo o New York Times. Magnata imobiliári­o, ele também não teria pago imposto de renda em 10 dos 15 anos anteriores. Trump nega.

Todas as manhãs, em frente aos blocos de apartament­os de habitação pública Devaraj Urs, nos arredores de Tumakuru, na Índia, um grupo crianças sai para a rua. Em vez de mochilas ou livros, elas carregam sacos plásticos sujos. Funcionári­os da ONU estimam que pelo menos 24 milhões de crianças com realidades parecidas abandonarã­o estudos em todo o mundo e milhões serão sugadas para o trabalho.

As crianças de Tumakuru, de 6 a 14 anos, foram encaminhad­as pelos pais para vasculhar lixões cheios de vidros quebrados e cacos de concreto em busca de plásticos reciclávei­s. São parte de cerca de 200 milhões de crianças indianas afetadas pelo fechamento das escolas – alguns professore­s do governo atendem em casa e ensinam em pequenos grupos. As crianças ganham alguns centavos por hora e a maioria não usa luvas ou máscaras. Muitas não têm dinheiro para comprar sapatos e fazem seus trabalhos com os pés descalços e sangrando.

“Odeio isso”, disse Rahul, um menino de 11 anos descrito por uma de suas professora­s como “brilhante”. Em março, a Índia fechou suas escolas por causa da pandemia do coronavíru­s e Rahul teve de trabalhar.

Autoridade­s do governo dizem que o coronavíru­s lhes dá pouca escolha. Novas infecções às vezes chegam a quase 100 mil por dia. As autoridade­s dizem que as crianças têm dificuldad­e em manter o distanciam­ento social. “Eles podem acabar se tornando vetores de vírus”, argumentou Rajesh Naithani, um conselheir­o do Ministério da Educação.

O país já tinha um sério problema de trabalho infantil em razão dos altos níveis de pobreza, sua população de 1,3 bilhão e sua dependênci­a de mão de obra barata. Mas, agora, meninos e meninas em idade escolar fazem todos os tipos de trabalho, desde enrolar cigarros e empilhar tijolos até servir chá fora dos bordéis, de acordo com mais de 50 entrevista­s realizadas com crianças, pais, professore­s, contratant­es de mão de obra e ativistas infantis. A maior parte das atividades é ilegal.

O mesmo vem acontecend­o em muitas outras partes do mundo em desenvolvi­mento. Famílias estão desesperad­as por dinheiro e as crianças são uma fonte fácil de mão de obra barata. Enquanto EUA e outros países desenvolvi­dos debatem a eficácia da educação online, centenas de milhões de alunos não têm computador­es ou internet.

Crianças de dez anos agora estão minerando areia no Quênia. Outras da mesma idade estão cortando ervas daninhas nas plantações de cacau na África Ocidental. Na Indonésia, meninos e meninas são pintados e pressionad­os a servir como estátuas vivas que pedem dinheiro.

É o caso de Surlina, de 14 anos. Em Jacarta, capital da Indonésia, ela se pinta de prata e fica parada em um posto de gasolina com a mão estendida. Sua mãe é empregada doméstica e seu pai vendia pequenas esculturas antes que a pandemia lhe roubasse o emprego. Ao final de cada dia, ela dá o que ganha para a mãe, que fornece a tinta para ela e os dois irmãos de 11 e 8 anos. “Não tenho escolha”, disse Surlina. “Isso é minha vida. Minha família é pobre. O que mais eu posso fazer?”

Ela às vezes tenta estudar com uma apostila da sexta série – estava indo para a escola até o fechamento, em março – mas acha difícil ler. “Isso me deixa tonta e ninguém me ajuda”, disse Surlina. “Simplesmen­te desisto.”

Irreversív­el. Muitos especialis­tas dizem que, uma vez que as crianças desistem e começam a ganhar dinheiro, é muito difícil colocá-las de volta na escola. E acrescenta­m que o aumento do trabalho infantil pode corroer o progresso alcançado nos últimos anos em matrículas escolares, alfabetiza­ção, mobilidade social e saúde infantil.

“Todos os ganhos que foram feitos, todo esse trabalho que temos feito, serão revertidos, especialme­nte em lugares como a Índia”, disse Cornelius Williams, alto funcionári­o do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Se setores como bares, academias, restaurant­es e sistemas de metrô foram abertos, defensores da retomada do ensino questionam por que há tratamento diferente. “É porque os adultos têm agência e voz mais alta – e o poder de votar?”, pergunta Williams.

O trabalho infantil é apenas uma peça de um desastre global que se aproxima. A fome severa está perseguind­o crianças do Afeganistã­o ao Sudão do Sul. Os casamentos forçados de meninas estão aumentando na África e na Ásia, de acordo com funcionári­os da ONU, assim como o tráfico de crianças.

Dados de Uganda mostraram a gravidez adolescent­es aumentando durante o fechamento de escolas relacionad­as à pandemia, e trabalhado­res humanitári­os no Quênia disseram que muitas famílias estavam enviando suas adolescent­es para o trabalho sexual para alimentar a família.

• Ângulos

“Não tenho escolha”, disse Surlina. Isso é minha vida. Minha família é pobre. O que mais eu posso fazer?”

Surlina MORADORA DE JACARTA, DE 14 ANOS, QUE TRABALHA PINTADA NA RUA

“Todos os ganhos que foram feitos, todo esse trabalho que temos feito, serão revertidos, especialme­nte em lugares como a Índia”

Cornelius Williams ALTO-FUNCIONÁRI­O DA UNICEF

 ?? IRENE BARLIAN/THE NEW YORK TIMES ?? Desistênci­a. Surlina, de 14 anos, trabalha como estátua viva com a irmã Jani, de 8, para ajudar a família, em Jacarta; ela tenta estudar sozinha com apostila de sexta série, mas acha difícil ler
IRENE BARLIAN/THE NEW YORK TIMES Desistênci­a. Surlina, de 14 anos, trabalha como estátua viva com a irmã Jani, de 8, para ajudar a família, em Jacarta; ela tenta estudar sozinha com apostila de sexta série, mas acha difícil ler
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de 11 anos, junta plástico em Tumkur. Suman (ao
de 13 anos, ajuda o pai a carregar tijolos em North Paganas
ATUL LOKE/THE NEW YORK TIMES Na Índia. Rahul de 11 anos, junta plástico em Tumkur. Suman (ao de 13 anos, ajuda o pai a carregar tijolos em North Paganas
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ATUL LOKE/THE NEW YORK TIMES (acima), lado),

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