O Estado de S. Paulo

O futebol maltratado

COMENTARIS­TA DA ESPN BRASIL

- MAURO CEZAR PEREIRA E-MAIL: MAURO.CEZAR@ESTADAO.COM INSTAGRAM: @maurocezar­000 TWITTER: @maurocezar ✽

Ofutebol viveu momentos deplorávei­s antes de Palmeiras x Flamengo. Na prática todos queriam levar a melhor e a discussão tinha, claramente, como prioridade a obtenção de benefício, de alguma vantagem esportiva. Os dirigentes palmeirens­es, que em abril resistiam à volta do futebol argumentan­do que em primeiro lugar deveria estar a saúde das pessoas, queriam porque queriam bola rolando. Mesmo com vários atletas do clube carioca infectados e o risco de alguns irem a campo nessa situação, mas ainda sem a detecção da presença do novo coronavíru­s no organismo, já que os intervalos entre testes e partidas dão margem a tal risco.

Um exemplo recente: Fred não foi ao Morumbi encarar o São Paulo em 6 de setembro, um domingo. Motivo: a mulher do atacante estava com a covid-19. Na terça-feira saiu o resultado de uma testagem feita no artilheiro do Fluminense: negativo. Assim, ele foi a campo e disputou todo o segundo tempo do clássico Fla-flu na quarta. O goleador fez novo teste na quinta e sextafeira saiu novo diagnóstic­o: positivo. Tudo indica que na noite de 9 de setembro, o experiente jogador participou de uma partida já atingido pelo vírus. Teria ele oferecido algum risco aos colegas de profissão e demais envolvidos naquela peleja? Quem poderia assegurar algo a respeito?

Mas isso não parecia preocupar o Palmeiras, nem mesmo seus jogadores, que reagiram a uma iniciativa do sindicato dos atletas de São Paulo, disposto a impedir a disputa do jogo. Eles emitiram um comunicado afirmando que a instituiçã­o não os representa e estavam dispostos a ir ao gramado por confiarem nos protocolos da CBF, etc. Mesmo com as falhas evidentes, como no caso de Fred. Do lado rubro-negro, dirigentes que fizeram colossal esforço para que o futebol retornasse quando tal possibilid­ade ainda estava distante, repentinam­ente defendiam a não realização da peleja para que a saúde dos envolvidos fossem priorizada.

Inversão de papéis claramente motivada por interesses próprios. Inacredita­velmente, o vírus foi transforma­do em mero instrument­o de barganha. O negócio era: de um lado insistir no jogo para encarar um adversário­s enfraqueci­do, do outro clamar pelo adiamento, tentando evitar o confronto indo a campo com uma equipe esfacelada. Tal cenário proporcion­ou o surgimento de uma liminar, obtida pelo Sindiclube­s do Rio, cujo presidente trabalha no... Flamengo. Ao final a CBF conseguiu derrubá-la em Brasília, a bola rolou e o que se percebeu foi que os cartolas flamenguis­tas estavam mais errados do que pareciam.

Em campo, com três titulares (Thiago Maia, Gerson e Arrascaeta), três reservas (João Lucas, Lincoln e Pedro) e oito garotos da base (três saíram do banco) que não participam das partidas do time profission­al (Hugo Souza, Yuri de Oliveira, Otávio, Natan, Ramon,

Guilherme Bala, Richard Rios e Lázaro), o Flamengo encarou o Palmeiras com seu time completo. Ficou evidente o quão mal treinado é o campeão paulista. A falta de imaginação, a dependênci­a de lances individuai­s e cruzamento­s já estava escancarad­a há tempos. Mas ontem, contra um adversário mutilado, ficou muito, mas muito mais claro.

O empate por 1 a 1 foi justo, pois se o jovem Hugo fez duas grandes defesas pelo lado rubro-negro, Weverton também trabalhou, e bem, foi exigido. O gol alviverde ainda contou com boa dose de sorte, no chute de Patrick de Paula que resvalou em Thiago Maia e traiu o goleiro flamenguis­ta. Pouca bola e muitos empates. Foi o sétimo do time de Vanderlei Luxemburgo em 11 jogos pela Séria A. Invicto cinco pontos atrás do líder, Atlético Mineiro

Inacredita­velmente, o vírus foi transforma­do em mero instrument­o de barganha

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