O Estado de S. Paulo

Quanto é preciso juntar para viver de dividendos

O investidor deve projetar qual é a renda mensal ou anual necessária para receber proventos de uma ação

- Mateus Apud

Viver de renda é o desejo de muitos investidor­es. Por isso, um dos caminhos escolhidos são as ações que distribuem dividendos. Se em um passado não tão distante a renda fixa era a preferida na hora de projetar um ganho recorrente no futuro, essa atrativida­de se perdeu com a taxa Selic em seu piso histórico de 2% ao ano. Mas como calcular o montante necessário para atingir esse objetivo?

Recentemen­te, a economista Louise Barsi contou em sua coluna quinzenal no E-investidor que a premissa básica é buscar papéis que pagam, no mínimo, 6% de retorno em dividendos por ano. Segundo dados da Economátic­a, 15 ações alcançaram este patamar nos últimos 12 meses (confira o ranking na tabela ao lado).

Ela disse que descobriu a “mágica dos juros compostos” ao convencer seu pai, Luiz Barsi, a receber uma mesada de R$ 300. O bilionário pagava por meio de dividendos de uma ação. Dessa maneira, a filha entendeu como se planejar financeira­mente para viver com os proventos de uma empresa.

Porém, não é todo o brasileiro que teve lições de educação financeira na infância. Mesmo assim, é possível ter os dividendos como meta. “É totalmente possível viver dessa forma, mas é necessário muito planejamen­to e disciplina para atingir esse objetivo”, diz Felipe Romcy, sócio fundador e assessor de investimen­tos da Aplix Capital.

Antes de tudo, é necessário conhecer o dividend yield. Esse é o indicador que calcula qual é a porcentage­m do pagamento recebido por ação. Por exemplo, imagine que uma ação esteja cotada a R$ 30 e nos últimos 12 meses a empresa pagou R$ 1 por ação.

Para realizar o cálculo, é necessário dividir o segundo valor pelo primeiro e, depois, multiplica­r por 100: (1 / 30) x 100. No exemplo acima, o dividend yield é de 3,33% ao ano.

Acumulação. Segundo os especialis­tas, o ponto de partida para viver de dividendos é saber exatamente qual é o valor mensal necessário para se sustentar. “Não há um valor fixo para viver de dividendos, varia de caso a caso, pois as necessidad­es financeira­s são diferentes”, afirma Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo.

Se o seu custo de vida é de R$ 5 mil por mês, ou seja, R$ 60 mil por ano, para receber esse valor em dividendos basta realizar a conta do valor anual necessário dividido pela rentabilid­ade de, no mínimo, 6% ao ano (R$ 60 mil / 0,06 = R$ 1 milhão).

Portanto, o investidor que necessita de R$ 5 mil por mês deve ter R$ 1 milhão em ações de empresas com um dividend yield de 6% ao ano. Já quem precisa de R$ 20 mil mensais, terá de investir R$ 4 milhões. Se o seu objetivo é uma renda de R$ 100 mil, então, será preciso acumular R$ 20 milhões.

Quem sonha com um desses montantes precisa realizar um planejamen­to de aportes mensais para atingir o valor e seguir firme na estratégia até o objetivo.

“O autoconhec­imento para definir a meta de quanto é necessário é o básico para começar”, diz Romcy, frisando que, para quem já possui o patrimônio acumulado, basta apenas montar uma carteira diversific­ada com boas pagadoras de dividendos.

Boas pagadoras. Finalizada a primeira etapa, o próximo passo é decidir quais papéis farão parte do portfólio. Vale lembrar que não são todas as ações que pagam dividendos, pois algumas empresas reinvestem seus lucros para expandir os negócios, enquanto outras remuneram os acionistas. “Há setores muito lucrativos em que as companhias não praticam os pagamentos. Então, não basta só a empresa ter boa performanc­e, ela também tem de adotar a política de dividendos e os investidor­es devem ficar atentos a isso”, diz Madruga.

Uma prova disso é que apenas oito das 25 maiores empresas dos Estados Unidos, em valor de mercado, optam por distribuir algum tipo de provento aos acionistas.

Segundo os especialis­tas, as empresas que costumam pagar bons dividendos no Brasil são as companhias que atuam nos setores elétrico e de mercado financeiro. “São setores lucrativos e que adotam a política, pois não precisam realizar investimen­tos internos e sobra mais caixa”, diz o executivo da gestora Monte Bravo.

Modifique a carteira. Além de buscar por boas ações, o investidor não deve apenas comprar o papel e “esquecer” o ativo em sua carteira. Isso porque, como se trata de uma aplicação em renda variável, os valores dos pagamentos também oscilam conforme a conjuntura. “A (empresa) boa pagadora de dividendos de hoje não necessaria­mente será a do futuro”, ressalta Romcy.

Então, é de suma importânci­a acompanhar constantem­ente como está a performanc­e da empresa, pois o pagamento pode diminuir ou até ser suspenso, dependendo das escolhas dos executivos que avaliam os cenários e a situação financeira da companhia. Portanto, o investidor que não ficar atento aos resultados internos da empresa e se houve alguma modificaçã­o na política do pagamento de dividendos, pode ficar no prejuízo. “Tem de reciclar a carteira de tempos em tempos”, comenta Romcy, da Aplix.

Ainda, há papéis que remuneram o acionista mensalment­e, trimestral­mente, semestralm­ente ou anualmente. Assim, é fundamenta­l escolher as ações que pagam os dividendos na data que o dinheiro é necessário.

“Por isso que não dá para comprar a ação e esquecer dela, tem de verificar periodicam­ente se todas as questões ainda são favoráveis ao objetivo da pessoa”, diz Madruga, da Monte Bravo.

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AMANDA PEROBELLI/REUTERS Aposta. Investidor tem de ficar atenção à variação da Bolsa

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