Quanto é preciso juntar para viver de dividendos
O investidor deve projetar qual é a renda mensal ou anual necessária para receber proventos de uma ação
Viver de renda é o desejo de muitos investidores. Por isso, um dos caminhos escolhidos são as ações que distribuem dividendos. Se em um passado não tão distante a renda fixa era a preferida na hora de projetar um ganho recorrente no futuro, essa atratividade se perdeu com a taxa Selic em seu piso histórico de 2% ao ano. Mas como calcular o montante necessário para atingir esse objetivo?
Recentemente, a economista Louise Barsi contou em sua coluna quinzenal no E-investidor que a premissa básica é buscar papéis que pagam, no mínimo, 6% de retorno em dividendos por ano. Segundo dados da Economática, 15 ações alcançaram este patamar nos últimos 12 meses (confira o ranking na tabela ao lado).
Ela disse que descobriu a “mágica dos juros compostos” ao convencer seu pai, Luiz Barsi, a receber uma mesada de R$ 300. O bilionário pagava por meio de dividendos de uma ação. Dessa maneira, a filha entendeu como se planejar financeiramente para viver com os proventos de uma empresa.
Porém, não é todo o brasileiro que teve lições de educação financeira na infância. Mesmo assim, é possível ter os dividendos como meta. “É totalmente possível viver dessa forma, mas é necessário muito planejamento e disciplina para atingir esse objetivo”, diz Felipe Romcy, sócio fundador e assessor de investimentos da Aplix Capital.
Antes de tudo, é necessário conhecer o dividend yield. Esse é o indicador que calcula qual é a porcentagem do pagamento recebido por ação. Por exemplo, imagine que uma ação esteja cotada a R$ 30 e nos últimos 12 meses a empresa pagou R$ 1 por ação.
Para realizar o cálculo, é necessário dividir o segundo valor pelo primeiro e, depois, multiplicar por 100: (1 / 30) x 100. No exemplo acima, o dividend yield é de 3,33% ao ano.
Acumulação. Segundo os especialistas, o ponto de partida para viver de dividendos é saber exatamente qual é o valor mensal necessário para se sustentar. “Não há um valor fixo para viver de dividendos, varia de caso a caso, pois as necessidades financeiras são diferentes”, afirma Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo.
Se o seu custo de vida é de R$ 5 mil por mês, ou seja, R$ 60 mil por ano, para receber esse valor em dividendos basta realizar a conta do valor anual necessário dividido pela rentabilidade de, no mínimo, 6% ao ano (R$ 60 mil / 0,06 = R$ 1 milhão).
Portanto, o investidor que necessita de R$ 5 mil por mês deve ter R$ 1 milhão em ações de empresas com um dividend yield de 6% ao ano. Já quem precisa de R$ 20 mil mensais, terá de investir R$ 4 milhões. Se o seu objetivo é uma renda de R$ 100 mil, então, será preciso acumular R$ 20 milhões.
Quem sonha com um desses montantes precisa realizar um planejamento de aportes mensais para atingir o valor e seguir firme na estratégia até o objetivo.
“O autoconhecimento para definir a meta de quanto é necessário é o básico para começar”, diz Romcy, frisando que, para quem já possui o patrimônio acumulado, basta apenas montar uma carteira diversificada com boas pagadoras de dividendos.
Boas pagadoras. Finalizada a primeira etapa, o próximo passo é decidir quais papéis farão parte do portfólio. Vale lembrar que não são todas as ações que pagam dividendos, pois algumas empresas reinvestem seus lucros para expandir os negócios, enquanto outras remuneram os acionistas. “Há setores muito lucrativos em que as companhias não praticam os pagamentos. Então, não basta só a empresa ter boa performance, ela também tem de adotar a política de dividendos e os investidores devem ficar atentos a isso”, diz Madruga.
Uma prova disso é que apenas oito das 25 maiores empresas dos Estados Unidos, em valor de mercado, optam por distribuir algum tipo de provento aos acionistas.
Segundo os especialistas, as empresas que costumam pagar bons dividendos no Brasil são as companhias que atuam nos setores elétrico e de mercado financeiro. “São setores lucrativos e que adotam a política, pois não precisam realizar investimentos internos e sobra mais caixa”, diz o executivo da gestora Monte Bravo.
Modifique a carteira. Além de buscar por boas ações, o investidor não deve apenas comprar o papel e “esquecer” o ativo em sua carteira. Isso porque, como se trata de uma aplicação em renda variável, os valores dos pagamentos também oscilam conforme a conjuntura. “A (empresa) boa pagadora de dividendos de hoje não necessariamente será a do futuro”, ressalta Romcy.
Então, é de suma importância acompanhar constantemente como está a performance da empresa, pois o pagamento pode diminuir ou até ser suspenso, dependendo das escolhas dos executivos que avaliam os cenários e a situação financeira da companhia. Portanto, o investidor que não ficar atento aos resultados internos da empresa e se houve alguma modificação na política do pagamento de dividendos, pode ficar no prejuízo. “Tem de reciclar a carteira de tempos em tempos”, comenta Romcy, da Aplix.
Ainda, há papéis que remuneram o acionista mensalmente, trimestralmente, semestralmente ou anualmente. Assim, é fundamental escolher as ações que pagam os dividendos na data que o dinheiro é necessário.
“Por isso que não dá para comprar a ação e esquecer dela, tem de verificar periodicamente se todas as questões ainda são favoráveis ao objetivo da pessoa”, diz Madruga, da Monte Bravo.