O Estado de S. Paulo

‘Setor automotivo deve cair 30% em 2020’ •

Com a ação em queda de 41,6% no ano, executivo da fabricante de componente­s projeta as saídas para a crise

- Jenne Andrade

A pandemia do coronavíru­s derrubou economias do mundo inteiro e impactou fortemente até as maiores empresas globais. Foi o caso da brasileira Iochpe-maxion, líder mundial em produção de rodas e componente­s estruturai­s automotivo­s. A companhia, que tem 32 fábricas em 14 países, viu sua receita diminuir 56% no segundo trimestre de 2020. Como resultado do choque no segmento, as ações da empresa estão caindo 41,6% no ano.

“Como tínhamos pouca visibilida­de, não sabíamos da profundida­de e duração da crise. Uum movimento forte que fizemos foio de reforçar a posição de caixa”, explica Elcio Ito, diretor financeiro global da Iochpe-maxion.

De fato, a multinacio­nal chegou ao final do segundo trimestre com R$ 1,4 bilhão em caixa, valor três vezes maior que o observado em igual período, do ano passado. Na visão de Ito, o setor automotivo brasileiro deve demorar mais para se recuperar do que nos demais países da Europa e América do Norte. “O País tem mostrado uma recuperaçã­o maior nos últimos dois meses, mas ainda muito abaixo dos volumes que a gente viu no ano passado”, diz o executivo.

• Como está a recuperaçã­o do setor automotivo?

Uma consultori­a muito reconhecid­a no mundo automotivo, chamada IHS, apontou que o mês de junho já mostrou uma recuperaçã­o importante. No segundo trimestre, o Brasil caiu em torno de 80%, a América do Norte, aproximada­mente 71% e a Europa, 66%, na comparação com o ano anterior. Quando olhamos para o terceiro trimestre, vemos uma queda bem menor: no Brasil de 25% e, na América do Norte e na Europa, abaixo de 10%. A recuperaçã­o continua de forma consistent­e e gradual. O pior, que foi lá em abril, não estamos prevendo que aconteça novamente, pelo menos no horizonte próximo.

• O que esperar do mercado brasileiro?

O Brasil entrou no ciclo do vírus um pouco mais tarde que os outros países. Isto é, o País tem mostrado uma recuperaçã­o maior nos últimos dois meses, mas ainda muito abaixo dos volumes que vimos no ano passado. E, mesmo com essa recuperaçã­o que tem se mostrado positiva e gradual, ainda assim vamos ter uma queda muito relevante em relação a 2019, ao redor de 30%.

• Como o sr. avalia a redução do uso do carro em razão da pandemia da covid? É um novo comportame­nto? Os novos comportame­ntos advindos da pandemia ainda estão na esfera das possibilid­ades. Muitos países ainda nem saíram da pandemia, como é o caso do Brasil. Mas o que percebemos foi que, em mercados que já estão um pouco na frente desse processo de recuperaçã­o, especifica­mente na China e na Índia, tem ocorrido uma demanda um pouco maior de veículos de entrada, que são um pouco mais básicos. Isso vem na tendência de as pessoas buscarem ter um veículo próprio, em vez de utilizar o transporte público. Mas isso está no início, não sabemos se será permanente ou temporário.

• E a avaliação da chegada dos carros elétricos?

Os carros elétricos já eram no pré-pandemia e continuam sendo uma tendência. Em alguns mercados, acabam até colocando incentivos adicionais em relação aos veículos elétricos para fomentar a demanda. Do nosso lado, já fornecemos rodas e componente­s estruturai­s que estão presentes nos veículos elétricos.

Hoje, o maior risco para o setor continua sendo o coronavíru­s?

Ainda tem uma incerteza grande sobre o próprio processo do vírus, então não dá para descartar totalmente que esse processo está finalizado. Mas, de forma geral, a indústria automotiva global tem seus altos e baixos, e vem em uma tendência mais estável, esses solavancos grandes que tivemos agora são mais difíceis de acontecer. Passado esse momento, ajustando nosso balanço, a ideia é continuar expandindo nosso cresciment­o de forma bastante forte.

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IOCHPE-MAXION Novo foco. Pandemia mudou hábitos de compra em mercados como China e Índia, diz Ito

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