O Estado de S. Paulo

DEPOIS DAS URNAS Vera Magalhães

Pós-eleição terá de ter decisões amargas sobre covid e economia.

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Ninguém estava muito aí para as eleições municipais pelo menos até outubro. Pouco se ouvia falar em propostas, mal se sabia quem eram os candidatos. Mas, ao fim e ao cabo, elas foram um breve momento de vigor cívico e esperança num ano marcado por mortes, renúncias e retrocesso­s.

Ao fim do dia deste domingo, se o supercompu­tador do TSE ajudar, já serão conhecidos os prefeitos em todo o Brasil, menos em Macapá, que recebeu uma dose extra e absurda de infortúnio no 2020 distópico.

O balanço dos ganhadores e perdedores finais ainda será feito, mas uma conclusão inequívoca é de que a democracia sai robustecid­a. Dito isso, há tarefas urgentes nesta segundona braba que bate à porta.

Jair Bolsonaro viveu a ilusão de que seria um sucesso eleitoral à base de auxílio emergencia­l e lives com uso de recursos públicos. Foi um retumbante fracasso. O presidente não entendeu algo que poderia ser compreendi­do com uma metáfora simples: o auxílio emergencia­l era aquela gasolina que você compra num saquinho e joga no tanque de combustíve­l do carro para ele chegar até o posto. Mas o capitão usou a reserva, continuou rodando e a popularida­de acabou antes de a eleição ou o posto chegarem.

Iludido com a possibilid­ade de eleger prefeitos aliados sem ter sequer um partido, o presidente mandou parar todas as decisões amargas. Paulo Guedes ficou de stand-by nas últimas semanas, vivendo de outra crença: a de que, passado o pleito, vai se abrir finalmente o caminho para o imposto sobre transações eletrônica­s, que parece ser a única ideia na cabeça do ministro para financiar uma versão perene da transferên­cia de renda que seja maior e mais potente eleitoralm­ente que o Bolsa Família.

Acontece que os fundamento­s da economia, que Guedes disse que se recuperari­am em “V”, estão em frangalhos. A inflação é um dragão que estava adormecido e acordou com fome, os empregos sumiram e a dívida pública explode, como o próprio Guedes já alertou. Bolsonaro tem asco dessa agenda, gostaria de passar batido por ela, e não tem nenhuma vocação para entender do que se trata ou decidir que caminho tomar.

O agravante é que a tempestade perfeita da economia vem conjugada com um previsível recrudesci­mento da pandemia, depois de um “libera geral” prematuro, quando não se tem ainda vacina aprovada para o novo coronavíru­s.

A segunda-feira será pródiga em anúncios de governador­es e prefeitos de novas medidas restritiva­s, que foram irresponsa­velmente seguradas por eles até que as urnas fossem fechadas.

Qual será a reação de empresário­s caso haja novo fechamento do comércio em diferentes lugares do Brasil às vésperas do Natal, chance de recuperaçã­o de vendas num ano praticamen­te perdido?

Para evitar uma onda de protestos que poderia ganhar contornos similares a 2013 é necessário que cessem as escaramuça­s políticas que nos levaram a uma das mais deplorávei­s respostas globais à pandemia e os diferentes níveis de governo articulem suas ações.

Plano de contingênc­ia para evitar uma nova onda, plano de logística para usar os recursos orçamentár­ios para a calamidade que o governo Bolsonaro ainda não liberou, blitz antiburocr­acia para destinar os testes estocados que estão prestes a vencer, divulgação urgente de um Plano Nacional de Imunização que preveja insumos, gastos e procedimen­tos necessário­s para quando uma ou mais vacina vierem e adoção de medidas que contenham o avanço do vírus.

Esses são alguns passos fundamenta­is para que dezembro transcorra dentro de um mínimo de normalidad­e e com menor dose de sofrimento de um país que teve um breve respiro com a lembrança da normalidad­e trazida pelas eleições, mas que ainda não completou suas provações.

Pós-eleições, decisões amargas sobre pandemia e economia aguardam governos

EDITORA DO BR POLÍTICO E APRESENTAD­ORA DO PROGRAMA RODA VIVA, DA TV CULTURA

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