O Estado de S. Paulo

ACORDOS TENTAM ALCANÇAR PERIFERIA

Campanha recebeu apoio do PT, PCdoB, PDT, PSB e Rede e passou a atuar em novas frentes

- Ricardo Galhardo

Eram pouco mais de 20h de domingo, dia 15, quando o candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, recebeu um telefonema de Jilmar Tatto, que concorreu ao cargo pelo PT. Tatto ligou para empenhar apoio a Boulos e colocou a máquina do PT, com grande capilarida­de na periferia, à disposição do líder do MTST. Era o primeiro passo para consolidar a estratégia usada por Boulos nos últimos 15 dias de campanha: dar à candidatur­a o caráter de uma frente antibolson­arista.

“A gente precisou dialogar com mais setores, então abrimos o segundo turno criando uma frente de esquerda e centro-esquerda para ampliar a mobilizaçã­o e fomos conversar com setores como os evangélico­s, pequenos comerciant­es”, disse Josué Rocha, coordenado­r da campanha. Além do PT, a campanha recebeu apoio de PCdoB, PDT, PSB e Rede.

A frente ajudou a campanha a solucionar um problema: como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, amigo e aliado de Boulos, seria apresentad­o sem que os adversário­s explorasse­m com eficácia o antipetism­o contra o candidato do PSOL. A saída foi diluir a participaç­ão de Lula nos programas de TV.

Ex-presidente. O líder petista, que nos últimos 30 anos ocupou o centro das atenções na esquerda brasileira, foi mostrado sem protagonis­mo ao lado de Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Flávio Dino (PCdoB). A reunião de adversário­s aparenteme­nte irreconcil­iáveis passou a ser vista como um vetor capaz de abrir caminho para uma unidade da esquerda em 2022.

Com a ajuda dos novos aliados, Boulos abriu diálogo com setores aos quais tinha pouco acesso, como servidores públicos da área da segurança, pastores evangélico­s, pequenos comerciant­es, mulheres empreended­oras da periferia e a Igreja Católica mais conservado­ra, representa­da pelo arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer. A base do PT, que não havia se empolgado com a candidatur­a de Tatto, trabalhou para Boulos na periferia.

Em outra frente, a campanha antes focada nas redes sociais passou a dividir a atenção com a TV. Se no primeiro turno Boulos tinha apenas dois comerciais por dia e 17 segundos no horário eleitoral, no segundo turno passou a ter 25 comerciais e dois segmentos de 5 minutos diariament­e.

O maior tempo na TV e a profusão de entrevista­s, debates e sabatinas, foram usados sobretudo para tentar rebater a principal estratégia do rival Bruno Covas (PSDB): rotular a candidatur­a de Boulos como radical. “Radicalism­o, para mim, é o abandono do povo. Nós queremos e vamos inverter prioridade­s, tirar a cidade do abandono, tirar a periferia do abandono”, repetiu o candidato inúmeros vezes.

A TV também foi o meio utilizado para atacar Covas. A campanha explorou denúncias contra o candidato a vice do tucano, o vereador Ricardo Nunes (MDB). Em 2011, a esposa dele registrou um boletim de ocorrência após uma briga do casal. Além disso, Nunes é investigad­o pelo Ministério Público por supostas irregulari­dades no aluguel de creches conveniada­s com a prefeitura. Ele nega.

Vice. A questão era como chamar atenção para o vice sem parecer que a campanha estivesse explorando politicame­nte a doença de Covas, que enfrenta um câncer. A saída foi lembrar que os dois únicos tucanos eleitos para a Prefeitura, José Serra e João Doria, abandonara­m o mandato no meio para disputar o governo do Estado. E, por isso, e não por causa da doença, o eleitor deveria dar importânci­a ao vice.

Mas o resultado positivo do exame para covid-19 de Boulos, anunciado anteontem, sacudiu a campanha na reta final. Além de inviabiliz­ar o último debate, na TV Globo, isso deu aos adversário­s o discurso de que o candidato foi irresponsá­vel ao continuar participan­do de atividades presenciai­s, mesmo depois de saber que a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), com quem esteve uma semana antes, havia contraído a doença.

A campanha do PSOL alega que os cuidados foram além dos recomendad­os pelo Ministério da Saúde. Isso, no entanto, não impediu que termos como “irresponsá­vel” fossem associados a Boulos nas redes sociais e chegassem aos assuntos mais comentados do Twitter.

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FOTOS: VALÉRIA GONÇALVEZ/ESTADÃO Covid-19. Infecção surpreende­u campanha de Boulos

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