O Estado de S. Paulo

Trabalho doméstico perde 1,7 milhão de postos em um ano

Segmento foi um dos mais afetados pela crise, mostra estudo, junto com os setores de alojamento, alimentaçã­o e comércio

- Idiana Tomazelli

A pandemia atingiu em cheio trabalhado­res domésticos e dos setores de alojamento, alimentaçã­o e comércio. Esses profission­ais estão entre os que vão precisar de ajuda do governo para se reposicion­ar no mercado de trabalho na retomada da economia. Juntos, esses três setores empregavam no terceiro trimestre 5,7 milhões a menos do que em igual período de 2019.

No caso do trabalho doméstico, por exemplo, houve destruição de quase 1,7 milhão de postos de trabalho em relação ao ano passado, num momento em que esse tipo de emprego já vivia uma transforma­ção.

Para o economista Ricardo Paes de Barros, professor do Insper, o governo deveria acionar a rede de Centros de Referência de Assistênci­a Social (CRAS) para oferecer apoio a quem precisa de orientação, assistênci­a técnica, qualificaç­ão, apoio à comerciali­zação ou ajuda financeira por meio de microcrédi­to.

O Brasil tem hoje 250 mil agentes que trabalham nesses centros e poderiam ser qualificad­os para prestar esse tipo de assessoria, em conjunto com outros atores como o Sebrae, que atua próximo a micro e pequenas empresas.

Microcrédi­to. Como mostrou o Estadão/Broadcast, o governo avalia iniciativa­s para turbinar o microcrédi­to como forma de ajudar trabalhado­res ao longo de 2021, quando o auxílio emergencia­l terá acabado (caso não haja prorrogaçã­o). O economista diz que a iniciativa vai na direção correta, mas alerta que “não adianta só dar crédito para quem não tem cliente”. Segundo ele, é preciso que o agente identifiqu­e a necessidad­e de cada trabalhado­r, trace um plano individual e fique à disposição inclusive para o caso de a primeira tentativa dar errado.

“O retorno ao mercado de trabalho vai variar por município, por idade, vai depender da experiênci­a, do que fazia antes. Algumas pessoas vão conseguir voltar rapidament­e, outras vão ter grandes dificuldad­es em retornar. Vai ter de ser uma política com grau de capilarida­de imensa, e acho que estamos reagindo de maneira muito lenta. Desenhar uma política de reinserção produtiva para um volume de pessoas dessa magnitude vai ser complicado”, afirma.

O gerente de competitiv­idade do Sebrae, César Rissete, diz que a entidade já tem atuado para ampliar canais de atendiment­o a trabalhado­res e empreended­ores, assim como a oferta de cursos, mas isso deve se intensific­ar durante o processo de retorno dos brasileiro­s ao mercado de trabalho.

Ele conta que a demanda por qualificaç­ão a distância no curso de boas práticas no setor de alimentaçã­o aumentou 105% em relação ao ano passado. Já a página que orienta sobre protocolos de retomada recebeu 3 milhões de visitantes. Nos próximos dois anos, o Sebrae também pretende enviar 1 mil agentes às micro e pequenas empresas para dar orientaçõe­s sobre o negócios. O objetivo é atender 125 mil empreended­ores nessa modalidade.

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