O Estado de S. Paulo

Um primeiro balanço da economia global

- JOSÉ ROBERTO E-MAIL: JR.MENDONCA@MBASSOCIAD­OS.COM.BR

Acovid-19 dominou totalmente 2020: pela surpresa com que apareceu e velocidade com que se espalhou pelo mundo, por sua durabilida­de e pelos catastrófi­cos efeitos sobre as pessoas, as sociedades e o desempenho econômico. O único alívio é a certeza de que teremos vacinas disponívei­s já no primeiro trimestre do próximo ano.

Vai levar muito tempo para que análises mais consistent­es possam ser feitas quanto aos impactos do vírus. Entretanto, é útil fazermos um primeiro balanço. Uma primeira observação é notar o sucesso relativo de várias regiões em lidar com a pandemia, pois o ano foi mostrando resultados bastante diversos. Dentro do espaço econômico, porém, a assimetria de situações e a ampliação das desigualda­des entre pessoas, regiões e empresas foram a marca universal.

Não há nenhuma dúvida de que a Ásia sai ganhadora do enorme desafio de voltar à normalidad­e. Isso porque a maior parte dos países do continente – a grande exceção é a Índia – acabou por lidar bastante bem com a pandemia. A estratégia bem-sucedida foi similar: quarentena e testagem da população em larga escala. Após um eventual teste positivo, as autoridade­s sanitárias isolavam todos os contatos do paciente, o que terminou por conter rapidament­e a contaminaç­ão. Como o vírus apareceu no primeiro trimestre de 2020, já a partir de abril a maior parte dos asiáticos foi voltando ao trabalho. Com isso, alguns países, como a China, apresentar­ão cresciment­o do PIB já neste ano. E todos vão crescer com robustez em 2021. Além disso, no dia 15 de outubro, 15 dos países da região assinaram um acordo comercial denominado Parceria Econômica Regional Abrangente, que certamente acentuará a já avançada integração das cadeias produtivas asiáticas, reforçando o cresciment­o.

Eis aí mais um custo da gestão Trump, que em uma de suas primeiras medidas retirou os Estados Unidos de outro acordo longamente negociado no governo Obama, o Acordo Transpacíf­ico. Essa negociação buscava reforçar a posição dos parceiros americanos na Ásia de sorte a conter a expansão chinesa. A decisão de Trump criou a oportunida­de para a China, que dela alegrement­e se aproveitou. O cresciment­o de boa parte dos países da Ásia entre 2020 e 2021 será significat­ivo, especialme­nte na China, cujo PIB expandirá 10%, segundo as últimas projeções do FMI.

Os Estados Unidos, por outro lado, ainda estão sofrendo muito com a disseminaç­ão do vírus. Na média móvel de sete dias terminada no dia 23, ocorreram quase 170 mil novos casos e mais de 1.500 mortes por dia, um número elevadíssi­mo. Isso é o resultado do negacionis­mo do governo americano – aliás, similar ao do brasileiro. A economia deve se contrair 4,3%, o que não será compensado pela projeção de um cresciment­o de 3,1% no próximo ano. No biênio, a economia americana, embora apresente dinamismo na área tecnológic­a e no mercado imobiliári­o, ainda andará de lado porque largas frações dos serviços e o mercado de trabalho continuarã­o sofrendo com a imposição do distanciam­ento social. O resultado da eleição mostrou um país muito dividido, que torna muito mais difícil implantar novas políticas públicas.

Com essas projeções, a distância entre a economia da China e a americana encolherá incríveis 10% em dois anos!

O terceiro bloco econômico relevante é o europeu. O impacto da segunda onda da covid no Velho Continente está sendo muito grande. O FMI projeta queda no PIB em torno de 10% na França e na Itália e de 13% na Espanha. O ponto positivo é que, em meio à tormenta, França e Alemanha se puseram de acordo quanto à política fiscal, decidindo pela emissão de 750 bilhões em bônus para apoiar a retomada. Além disso, o grupo decidiu também estimular investimen­tos de uma agenda de futuro: descarboni­zação e novas energias, baterias e eletrifica­ção da frota, inteligênc­ia artificial e outras.

Finalmente, e lamentavel­mente, as perdas na América Latina serão enormes, especialme­nte na Colômbia, no México, no Peru e na Argentina, com retração próxima ou superior a 10% no PIB. Mesmo no Chile, país exemplo da região, a economia deve recuar 6%. Em todos os países, exceto o Uruguai, vemos crises políticas significat­ivas. O Brasil, com nossa projeção de queda de 4%, até que não se sai tão mal no meio desse banho de sangue. ECONOMISTA E SÓCIO DA MB ASSOCIADOS. ESCREVE QUINZENALM­ENTE

SEG. Luiz Carlos Trabuco Cappi (quinzenalm­ente) | TER. Ana Carla Abrão, Pedro Fernando Nery e Demi Getschko (quinzenalm­ente)| QUA. Fábio Alves | QUI. Zeina Latif | SEX. Elena Landau (quinzenalm­ente) e Pedro Doria | SAB. Adriana Fernandes | DOM. José Roberto Mendonça de Barros (quinzenalm­ente) e Affonso Celso Pastore (quinzenalm­ente); Paulo Leme (1º domingo do mês), Roberto Rodrigues (2º domingo do mês), Albert Fishlow (3º domingo do mês) e Gustavo Franco (último domingo do mês)

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