Estante*
Em seu livro que é a Arte, o historiador norte-americano Arthur Danto
(1924-2013), que um dia decretou o fim da arte, trata, em seu testamento crítico, de um problema
que a arte contemporânea tem
enfrentado há algumas décadas, Editora: especialmen- te após o advento da pop art: como distinguir arte de objetos banais como a caixa de sabão Brillo apropriada por Warhol? Se não há um padrão distinguível, então tudo pode ser arte – e nada é arte. Recorrendo a conceitos filosóficos de Hegel (Fenomenologia do Espírito) e Kant, Danto propõe que nossa tarefa como espectadores seja a de descobrir o sentido oculto dos objetos, suas propriedades invisíveis.
José Eduardo
Agualusa é um dos mais celebrados autores de língua portuguesa em atividade. Angolano de origens portuguesas e brasileiras, transita por entre países lusófonos com sua literatura como poucos. Em seu mais novo livro, Os Vivos e os
Outros, um festival literário em Moçambique reúne dezenas de escritores africanos quando, após acontecimentos insólitos, os personagens criados por esses autores ganham vida e começam a caminhar por entre seus criadores. Embora escrito antes da pandemia, o livro dialoga com a atualidade por meio da ideia de isolamento físico. Em tempos de retorno de ideologias como a neonazista, um livro como O
Gueto Interior é essencial. Trata exatamente do advento e evolução do antissemitismo na Europa
sob comando de
Hitler. O argenti- Autor:
no Santiago H.
Amigorena não precisou ir longe para contar essa história: ele só procurou sintetizar na vida de um único indivíduo essa tragédia da intolerância. Esse personagem é Vicente Rosemberg, que, na década de 1940, deixou a Polônia natal para viver em Buenos Aires, onde se tornou dono de uma loja de móveis e prosperou. Sua mãe, porém, ficou em Varsóvia, enfrentando a fúria nazista e a formação do gueto que isolou os judeus. Vigoroso.
Reza a lenda que, no início do século 12, zarparam da
Europa ocidental duas legiões de crianças, da Alemanha e da França, com o objetivo de retomar a Terra
Santa. Isso porque o Evangelho segundo
Lucas diz:
“Deixai vir a mim as crianças”. Porém os franceses foram sequestrados por traficantes de escravos e vendidos no Egito e os alemães se perderam, possivelmente dando origem à lenda do flautista de Hamelin, segundo Jorge Luis Borges. Esse trágico retrato do fanatismo religioso medieval é narrada sob várias perspectivas pelo escritor francês Marcel Schwob em A Cruzada das Crianças. Num trabalho de alta qualidade editorial, a Companhia das Letras recoloca no mercado a obra do russo Tolstoi por alguns de seus melhores tradutores, como Rubens Fi- gueiredo, respon- Autor: sável por Ressur- Ed.: reição, história de um príncipe que, jurado num tribunal que vai decidir o destino de uma prostituta, acusada de roubar e envenenar um cliente, nela reconhece a moça que, quando jovem, engravidou e abandonou. A mesma editora relançou agora O Diabo e Outras Histórias, reunião de contos escritos por Tolstoi entre 1859 e 1904 que tratam igualmente de temas incômodos – a relação entre religião e Estado, a falta de diálogo, o ciúme e as paixões.
Permeado por referências que vão da pintura do suprematista russo Kazimir Malevich ao teatro de Alfred Jarry, A Filha da Figura é uma novela gráfica que satiriza o ambiente político recente em
Santa Catarina, onde mora o escritor Sérgio Medeiros. Na obra, o autor mescla artes visuais e poesia para traçar um panorama do sinistro clima ideológico que sente no Estado. Essa obra é uma das várias publicações digitais – e de acesso gratuito – que Medeiros vem realizando ao longos dos últimos meses, encontrando no espaço digital um território fértil para sua literatura e sua poesia visual.
Em 1985, o físico inglês Stephen
Hawking (19422018), logo depois da traqueostomia, não conseguiu mais viver sem cuidadores
24 horas por dia.
A Fundação MacArthur bancou o tratamento e, graças a amigos, ele conseguiu sobreviver. Um deles foi seu cola- borador Leonard Mlodinow , o físico norte-americano que virou best-seller graças à forma de comunicação simples que também caracteriza Stephen Hawking: Histórias de Física e de Uma Amizade, em que ele conta histórias engraçadas sobre o amigo e tenta “traduzir’ algumas de teorias complexas (sobre o tempo, os buracos negros e o big bang) usando metáforas inventivas e surpreendentes.
Pandora Pandêmica é um dos diversos acontecimentos literários de 2020 motivados pelo período de quarentena desencadeado pela pandemia do novo coronavírus.
A obra é composta de 40 textos, entre contos e crônicas, do escritor Glauco Gonçalves. Os textos são curtos, de leitura rápida, tratando por meio de lentes diversas do isolamento social. Dialogando com 40 ilustrações do artista Estêvão Parreiras, essas narrativas breves vão do utópico ao distópico (mais comum), do sci-fi ao realismo, tentando abarcar o atual momento pelo qual passamos sem perder o humor ácido.
Psicóloga, filha do ex-presidente
Temer, Maristela
Temer estreia no romance com
Fragmentos de
Alma, saga feminina que já começa com a descrição de uma senhora no hospital humilhada por usar fraldas geriátricas. O livro relata a dor de ser uma mulher num mundo chauvinista que, obrigada a casar com um homem que não desejava, fez uma promessa: nunca daria filhos ao marido. Claro que ela não se cumpre e a narradora conta sua infância na fazenda, mimada pela avó, a dor de perder os parentes e suas dificuldades para superar a depressão. Confirmando a observação da avó, ela conclui que não existe final feliz. “Se for final, então é triste”.
O escritor sul-africano
J.M. Coetzee foi agraciado com o prêmio
Nobel de Literatura em
2003, entre outras características, por seu “brilho analítico”. É justamente esse atributo que fica claro na coletânea de ensaios Mecanismos Internos: Textos Sobre Literatura, que reúne 21 textos nos quais o autor se debruça sobre a obra de nomes como Walt Whitman, William Faulkner, Samuel Beckett, Gabriel García Márquez e Walter Benjamin. O livro abarca textos publicados entre 2000 e 2005, fazendo par com Ensaios Recentes, que reúne textos de 2006 a 2017, também recém-lançado.