Uma economia à espera da vacina
Os dados da economia confirmam forte recuperação, ainda que heterogênea. Enquanto a indústria se recupera aceleradamente – favorecida pela demanda de bens –, o setor de serviços – demandante de interação social – cresce abaixo do PIB. Essa configuração ficou nítida no terceiro trimestre, com a indústria praticamente retornando ao nível pré-pandemia e o setor de serviços ainda 5,0% abaixo.
É fato que a recuperação até agora foi marcada por dois fenômenos: a reabertura da economia após a primeira onda e os estímulos econômicos sem precedentes. As contas públicas não suportarão novas rodadas de estímulos, por isso, a recuperação do PIB, daqui em diante, depende essencialmente do retorno à normalidade.
Nesse aspecto, os dados de emprego têm surpreendido positivamente, os estoques estão no menor nível em duas décadas e a utilização da capacidade industrial superou a média histórica. Assim, não só é esperado que a indústria siga acelerando sua produção, como faça novas contratações e amplie os investimentos, que se recuperaram parcialmente no trimestre passado.
O Brasil reúne plenas condições para ingressar em uma retomada cíclica a partir de 2021: a demanda externa e os preços das commodities vão nos ajudar; a pandemia não produziu uma crise de crédito; muitas famílias e empresas foram capazes de poupar; os juros nunca foram tão baixos e o mercado de capitais tem apoiado a recuperação. Mas emprego e investimentos não vão se recuperar sem confiança no futuro.
Por isso, as vacinas são fundamentais, sim, no plural. A vacina contra a covid-19 protegerá a vida das pessoas e permitirá que a oferta da economia se restabeleça, respondendo a essa demanda por recomposição de estoques e geração de empregos. Mas também precisamos de uma vacina contra a incerteza. Para aproveitar plenamente as oportunidades dessa retomada cíclica e transformá-la em estrutural, o País precisa assegurar um regime fiscal sólido e avançar na agenda da produtividade, males que nos acompanham há décadas.