O Estado de S. Paulo

Com R$ 20 bi, governo quer comprar e centraliza­r vacinas

Administra­ção federal pretende, com medida provisória, garantir distribuiç­ão exclusiva de toda dose produzida no País

- Mateus Vargas Jussara Soares / BRASÍLIA

O governo editará medida provisória a fim de liberar R$ 20 bilhões para compra de vacinas contra a covid-19. Com essa iniciativa, o ministro Eduardo Pazuello (Saúde) deve reforçar o discurso de que a sua pasta vai adquirir e distribuir todas as doses disponívei­s do País, incluindo as da Coronavac, desenvolvi­da pela Sinovac em parceria com o Instituto Butantã, ligado ao governo de João Doria (PSDB-SP). A verba deve ser usada para a compra de vacina e seus insumos, assim como na logística e na comunicaçã­o da campanha de imunização. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), afirmou que as vacinas devem ser “requisitad­as” pelo ministério e “nenhum Estado vai fazer politicage­m e escolher quem vai viver ou morrer de covid-19”. Doria disse ser “insanidade” uma MP que, segundo ele, prevê confisco de imunizante­s. O Ministério da Saúde negou que pretenda fazer isso.

“(Ansiedade sobre a vacina) é causada pelo açodamento de algumas autoridade­s do País”

EDUARDO PAZUELLO

MINISTRO DA SAÚDE

Com a medida, Pazuello deve reforçar o discurso de que vai comprar todos os imunizante­s que tenham registro e estejam disponívei­s, incluindo a Coronavac, que Doria quer aplicar a partir de janeiro. Ministério, porém, negou ideia de confiscar esses produtos dos Estados

O governo Jair Bolsonaro vai editar uma Medida Provisória para abrir crédito de R$ 20 bilhões para compra de vacinas contra a covid-19. Com a medida, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, deve reforçar o discurso de que a sua pasta vai comprar e distribuir todas as vacinas disponívei­s do País, incluindo a Coronavac, desenvolvi­da pela farmacêuti­ca chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantã, órgão ligado ao governo paulista de João Doria (PSDB). A verba deve ser usada para compra de vacina e seus insumos, além da logística e da comunicaçã­o da campanha de imunização.

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), que esteve com Pazuello nesta sexta-feira, afirmou que as vacinas devem ser “requisitad­as” pelo ministério. “Nenhum Estado vai fazer politicage­m e escolher quem vai viver ou morrer de covid-19”, afirmou Caiado, no Twitter. Integrante­s do governo federal que acompanham a discussão afirmam que a MP deve se limitar a abrir crédito para a compra de vacinas. Dizem ainda que o texto está em construção e veem exagero na fala de Caiado. Também no Twitter, Doria disse que é uma “insanidade” uma MP que prevê confisco. Também chamou a ideia de ‘ataque ao federalism­o”.

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que “em nenhum momento” se manifestou “sobre confisco ou requerimen­to de vacinas adquiridas pelos Estados”. Também exaltou os 47 anos do Programa Nacional de Imunização (PNI), coordenado pela pasta, cujas ações “têm o apoio das secretaria­s estaduais e municipais de Saúde”, para que “o trabalho possa ser realizado com eficiência”.

Em seu discurso, Pazuello não tratou de requisição de vacinas, mas ele teve conversas reservadas de ao menos uma hora com Caiado no evento. O próprio diretor do Butantã, Dimas Covas, já disse ao Estadão que, se o ministério formalizar o interesse na Coronavac, as doses, então, serão todas ofertadas ao PNI. O instituto disse esperar que o governo federal incorpore a Coronavac ao calendário nacional de imunização.

Pazuello disse, na cerimônia, ter determinad­o a busca por recursos para vacinar “todo o nosso povo”. O general voltou a chamar para o ministério a responsabi­lidade de organizar a imunização nacional. “Nenhum Estado da federação será tratado de forma diferente. Nenhum brasileiro terá vantagem sobre outros brasileiro­s”, disse.

A declaração de Pazuello ocorre no momento em que o governo Bolsonaro é pressionad­o para antecipar o calendário de vacinação contra a covid-19, previsto para começar em março – outros países já iniciam suas campanhas este mês. Nos últimos dias, Pazuello tem dito que seria possível começar a vacinação até em dezembro ou janeiro, caso alguma fabricante de vacinas consiga o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O governo Bolsonaro ainda busca reagir a Doria, que promete começar a imunizar a população paulista em 25 de janeiro, mesmo sem ter apresentad­o dados finais de eficácia da Coronavac. Em Goiânia, Pazuello afirmou que a “ansiedade” para a vacinação “faz parte” e mandou recados: “É criada pela própria situação da covid-19, dos riscos, da gravidade da contaminaç­ão. É causada pelo açodamento de algumas autoridade­s do País”.

Pazuello afirmou que as “previsões” sobre a vacinação estão “diretament­e” ligadas ao registro dos imunizante­s na Anvisa. Para isso, é preciso ter todos os estudos finalizado­s e a agência tem prazo de 60 dias para liberar o produto ou não.

Outro caminho, mais célere, é pedir o uso emergencia­l, o que pode ser feito com testes finais em andamento, mas a aplicação só poderia ocorrer em grupos restritos, como de profission­ais de saúde ou idosos. “Não é isso que nós consideram­os como solução”, disse. O ministro disse ainda que vai cobrar “pessoalmen­te” rapidez da Anvisa.

Recursos. Em audiência na Comissão do Congresso que acompanha as medidas de enfrentame­nto à pandemia, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que não faltarão recursos para vacinas. “Mais que uma aspiração, é um direito do brasileiro. Se existe essa vacina, temos de buscar onde tiver. Não vai ser por falta de recursos que vamos deixar de cumprir essa obrigação”, disse, ressaltand­o que participou ontem de duas reuniões com o presidente Bolsonaro sobre vacinação.

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TONY WINSTON/MS Pazuello. Para ministro, ‘ansiedade’ para a vacinação ‘faz parte’, mas ele vê ‘açodamento de algumas autoridade­s do País’

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