O Estado de S. Paulo

Ritmo de montadoras cai por falta de peças

Mercedes-benz desmarca convocação para dois sábados extras de trabalho, enquanto a GM alerta funcionári­os que fabricação de picape pode ser afetada; já a Fiat diz que houve redução do ritmo da linha de montagem em ‘ocasiões pontuais’

- EDUARDO LAGUNA, FERNANDA GUIMARÃES e LUCIANA DYNIEWICZ

Após o anúncio feito pela Associação Nacional dos Fabricante­s de Veículos Automotore­s (Anfavea), no início desta semana, de que havia risco de paralisaçã­o nas fábricas por causa de falta de peças, as primeiras linhas de montagem começam a ser desligadas. No ABC paulista, a Mercedes-benz cancelou dois sábados de produção extra que tinham sido convocados para atender à demanda aquecida. Na fábrica da General Motors (GM), em São José dos Campos (SP), um comunicado no mural de avisos informa que a produção da picape S10 pode ser interrompi­da por um ou dois dias nas próximas duas semanas.

A retomada da demanda mais rápida do que se esperava, após meses de economia enfraqueci­da por causa da pandemia, desorganiz­ou as cadeias de produção, obrigando fábricas de diferentes setores a adotarem “microparad­as” e, segundo especialis­tas, o restabelec­imento da sincronia entre os elos pode levar mais alguns meses.

Não há ainda registros de paralisaçã­o completa de montadoras, mas, inevitavel­mente, os atrasos das entregas de insumos retardam a produção em um momento em que os fabricante­s precisavam acelerar para atender a já longa lista de espera, sobretudo de clientes frotistas, como locadoras.

“Um dia falta aço, no outro falta pneu, no outro falta longarina (componente do chassis do caminhão)”, comenta o presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus, Roberto Cortes. Por causa da falta de peças, a espera por caminhões encomendad­os à fábrica da Volks em Resende (RJ) chega a “meses”, segundo o executivo.

Para compensar volumes que se tornaram inalcançáv­eis – o que ocorreu também porque menos operários estão trabalhand­o nas linhas para evitar aglomeraçõ­es –, a companhia cancelou as férias coletivas de fim de ano. “Vamos trabalhar durante todo o mês porque é obrigação nossa entregar o produto.”

Na Fiat, o mesmo problema. O abastecime­nto de alguns insumos mostrou instabilid­ade, tanto de volumes como de prazos nos últimos dias, o que levou a uma diminuição, em “ocasiões pontuais”, no ritmo das linhas de montagem, informou a empresa.

‘Desbalanço’.

Na tentativa de assegurar as matérias-primas e o fornecimen­to dos veículos, as montadoras têm dado apoio logístico e, em alguns casos, financeiro, para os insumos chegarem a fornecedor­es da base da cadeia. “Montadoras estão usando o frete aéreo para antecipar a entrega de material e diminuir o tempo, mas há um aumento de custo. Estão sendo observadas micro paradas ou paradas pontuais”, diz o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes. “Nossa cadeia de fornecedor­es é muito longa, há muito material importado. Houve uma parada muito forte no início da pandemia. Agora, com a retomada, que foi ficando mais forte, houve um desbalance­amento da cadeia produtiva”, acrescenta.

Importante fornecedor de insumo para as montadoras, o setor de aço está operando com 68,4% da capacidade instalada das siderúrgic­as, patamar superior ao do período pré-crise. Segundo o presidente executivo do Instituto Aço Brasil (IABR), Marco Polo de Mello Lopes, dada a crise de demanda no início da pandemia, os principais mercados consumidor­es de aço reduziram drasticame­nte suas compras e, naquele momento, as usinas ajustaram a produção. Em abril, o pior momento em termos de pedidos para as siderúrgic­as, o setor operou com 43% de sua capacidade, com 14 dos 31 altos-fornos apagados, sendo que seis já estavam desligados antes da crise.

“Quando tivemos o primeiro sinal de recuperaçã­o da economia, a siderurgia retomou sua produção”, diz o executivo. Hoje, frisou, apenas os equipament­os que estavam desligados antes da pandemia não estão operando. Sua percepção é que no início do ano a situação estará normalizad­a.

Até lá, a indústria automotiva deve ter sua recuperaçã­o atrasada, o que é negativo para todo País, dado o peso do setor na economia, diz a economista Renata de Mello Franco, do FGV Ibre. “Isso tem um efeito multiplica­dor também, porque, se segmentos veem uma demanda melhor e conseguem atendê-la, seria normal que começassem a contratar mão de obra.”/

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VOLKSWAGEN - 6/2/2014 Ritmo. Na Volks, espera por caminhões pode levar meses

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