O Estado de S. Paulo

Multas da Artesp sobem após entrada de chefe investigad­o

Ministério Público apura se superinden­tente nomeado em julho de 2019 pressionav­a fiscais a aumentar atuações; ele nega prática

- Tulio Kruse

O histórico de multas aplicadas pela Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) às empresas de ônibus intermunic­ipais mostra um cresciment­o nas autuações logo após a nomeação de Reonaldo Raitz Leandro ao cargo de superinten­dente de fiscalizaç­ão. Leandro é alvo de um inquérito do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) por suspeita de ter pressionad­o fiscais da agência a aumentar a produção de multas. Ele nega que tenha feito pressão por mais autuações.

O superinten­dente foi nomeado para o setor de fiscalizaç­ão da Diretoria de Procedimen­tos e Logística (DPL) da Artesp em 31 de julho de 2019. Até então, a média naquele ano era de 563 multas por mês. Em agosto, o número de autuações teve um aumento de 51% e foi a 853. O patamar chegou a 1,3 mil multas mensais entre agosto e novembro de 2019, quase o triplo em relação ao mesmo período de anos anteriores. Os dados foram obtidos pelo Estadão por meio da Lei de Acesso à Informação. A reportagem pediu as informaçõe­s à assessoria de imprensa da agência, mas não obteve resposta.

A investigaç­ão foi aberta após fiscais denunciare­m pressão pelo aumento de multas, que envolveria punições a quem não se adequasse. Segundo o relato apresentad­o ao MP-SP, equipament­os de trabalho como viaturas e celulares funcionais eram tratados como “moeda de troca”. Agentes fiscais considerad­os “improdutiv­os” passaram a ter dificuldad­e para ter acesso a eles, segundo os denunciant­es. A agência nega.

Os registros de multas aplicadas pela DPL mostram, ainda, que as autuações aumentaram enquanto o número de fiscalizaç­ões e ações de apoio aos fiscais diminuiu. Ou seja, mais multas passaram a ser aplicadas em cada vistoria. Em 2018, foram 15,8 mil fiscalizaç­ões em rodovias paulistas e 163,5 em terminais de ônibus. No ano seguinte, o número caiu para 10,3 mil ações nas rodovias e 162,2 mil nos terminais. No entanto, foram 5.086 multas aplicadas em 2018, e 9.228 multas no ano seguinte.

A reportagem conversou com três servidores que trabalhara­m na DPL no ano passado. Segundo eles, os fiscais com números de multas considerad­os insuficien­tes sofriam retaliaçõe­s, como serem transferid­os para o turno da madrugada ou serem substituíd­os por funcionári­os de empresa terceiriza­da. Caso comprovada­s, as irregulari­dades podem gerar um processo por improbidad­e administra­tiva contra os envolvidos. A agência diz que “apenas funcionári­os concursado­s encabeçam as operações”, e que os colaborado­res terceiriza­dos desempenha­m “funções secundária­s e administra­tivas de apoio”.

Na resposta enviada por meio do Serviço de Informaçõe­s ao Cidadão, a Artesp disse que o aumento de multas em 2019 ocorreu porque havia mais fiscais em atividade. “Entre os anos de 2018 e 2019 observa-se um aumento (71,3%) no total de multas válidas. Entretanto o aumento verificado é diretament­e proporcion­al ao aumento do número de fiscais aptos a exercer suas funções em 2019 (79,3%).”

Leandro disse que “ninguém é pressionad­o a produzir mais multas”, e que foi mal interpreta­do pelos fiscais após dizer, em reunião, que “tem de se dar a verdadeira destinação à fiscalizaç­ão”.

• Proporcion­al

“Entre 2018 e 2019 observa-se aumento (71,3%) no total de multas válidas. É proporcion­al ao aumento do número de fiscais em 2019 (79,3%).”

ARTESP

EM NOTA

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