O Estado de S. Paulo

Brasil leva dois prêmios ‘Fóssil’ pelo clima

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Passados cinco anos do Acordo de Paris, os países continuam a dar tudo de si para superar os demais na missão de fazer o pior no combate à crise climática. Alguns conseguem ser melhores do que outros (a propósito: que surpresa eles não terem sido convidados para a festa de aniversári­o do acordo).

Através de um processo democrátic­o e transparen­te de votação (que não exigiu recontagem), a Rede de Ação para o Clima, a maior organizaçã­o mundial do gênero, com 1.300 sociedades civis atuando em defesa do clima em mais de 130 países, escolheu os Estados Unidos como grande vencedor do prêmio Fóssil Colossal em 5 Anos, criado para marcar a data. Os EUA ganharam também o segundo Prêmio Fóssil por Não Providenci­ar Dinheiro e Apoio. A Austrália ficou com o Troféu Fóssil por Não Honrar o Compromiss­o 1,5 ºc. Já o Brasil foi agraciado com dois Troféus Fóssil, um por Não Proteger a População dos Impactos Climáticos e Não Ouvir o Povo, e outro, o de Sufocar o Espaço Cívico.

Sejamos honestos, os EUA nunca chegaram a ser um torcedor entusiasta da causa climática. “America First” tem sido sempre o mote que norteia o país nas conversas internacio­nais sobre clima, como quando rechaça verbalment­e propostas de compensaçã­o pelo clima e financiame­nto para perdas e danos de países vulnerávei­s; por induzir nações pobres a aceitar modestas metas climáticas das ricas e exibindo seus músculos na hora de impor ou destruir acordos, sempre entre sorrisos e apertos de mão.

Brasil. Em meio a uma dura competição com a Rússia, o Brasil faturou um dos prêmios por sua escalada contra grupos da sociedade civil que resistiram a uma política agressiva e por lutar pelos direitos das comunidade­s indígenas.

Nada a estranhar que o Brasil seja o terceiro país do mundo no numero de mortes de lideres ambientali­stas.

Negacionis­mo. Um troféu como esse Colossal Fóssil dos Cinco Anos não conseguirá nunca expressar a profundida­de da inépcia e estrago dos anos Trump: por ampliar o negacionis­mo climático, por desmantela­r a política ambiental interna, por sabotar o progresso em espaços multilater­ais como o IPCC, o G20, o G7, entre outros. Nos anos Trump, os EUA têm sido especialme­nte sovinas no financiame­nto das ações climáticas.

Retirar-se do Acordo de Paris já foi suficiente o bastante, mas os EUA usaram o palco para obstruir a ajuda financeira a países em desenvolvi­mento. Assim, quando se fala em mudança climática “America First” significa simplesmen­te a liderança americana como maior emissor mundial de carbono.

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