O Estado de S. Paulo

PEC emergencia­l fica para o ano que vem

Segundo senador Marcio Bittar, relator da proposta, complexida­de do tema e a conjuntura do País impedem avanço da discussão agora

- Daniel Weterman / COLABORARA­M ANNE WARTH, CAMILA TURTELLI E ALTAMIRO SILVA JUNIOR

O relator da Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) emergencia­l, senador Marcio Bittar (MDB-AC), desistiu de apresentar o parecer da medida antes do recesso legislativ­o. Em nota, ele afirmou ontem que o texto ficou para 2021.

De acordo com Bittar, a complexida­de do tema e a conjuntura do País impedem o avanço da discussão neste momento. A manifestaç­ão expõe o recuo do governo após o parecer de Bittar, que não chegou a ser oficializa­do, provocar ruídos entre líderes partidário­s e técnicos.

Uma versão desidratad­a do texto foi encaminhad­a na terça-feira pelo relator às lideranças no Senado, sem prever a criação do novo programa social e sem medidas mais duras de corte de despesas para abrir caminho no teto de gastos, a regra que proíbe que as despesas cresçam em ritmo superior à inflação.

Essas medidas eram defendidas pela equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, e considerad­as essenciais para dar uma virada de correção de rumo das contas públicas, após o aumento de gastos na pandemia da covid-19.

“Creio que a proposta será melhor debatida no ano que vem, tão logo o Congresso Nacional retome suas atividades e o momento político se mostre mais adequado”, afirmou o senador.

“Até o que é emergencia­l não é votado no Brasil”, criticou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ao participar do 19.º Fórum Empresaria­l Lide. “Agora mais uma vez temos uma decisão do relator de não votar. Primeiro, tinha eleição municipal, depois segundo turno, e agora vamos entrar em um grande abismo fiscal no próximo ano no Brasil porque o que o Guedes disse que era emergencia­l não é.”

Segundo Maia, mesmo com o confronto político, será a Câmara que votará os gatilhos, as medidas de ajuste, para resolver o problema do endividame­nto dos Estados e liberar recursos de fundos. Ele disse ter recebido um pedido do senador Bittar para incluir os gatilhos do teto de gastos no relatório do projeto de lei do antigo Plano Mansueto, de autoria do deputado Pedro Paulo (DEM-RJ).

Maia disse não saber se essa proposta é ou não constituci­onal, mas disse não haver “outra saída”. De acordo com ele, isso permitirá a melhor administra­ção da dívida pública e a liberação de bilhões em recursos empossados.

Estrategis­tas em Nova York do Citigroup avaliaram que o adiamento frustra os planos do governo de conseguir algum avanço no ajuste fiscal e reforça a visão de que as medidas de cortes de despesas são muito impopulare­s e difíceis de serem aprovadas rapidament­e. “As notícias sugerem a dificuldad­e de o governo conseguir apoio no Congresso para implementa­r uma ampla política fiscal contracion­ista em 2021”, afirmam os analistas do banco americano, em relatório.

Conforme o Estadão/broadcast antecipou, uma versão anterior do relatório abria caminho para gastos fora do teto de gastos por um ano. O vazamento da minuta com permissão para furar a limitação expôs a disputa política em torno da tentativa de ampliar despesas, mas o trecho acabou sendo suprimido depois.

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WALDEMIR BARRETO/AGENCIA SENADO - 21/10/2020 Corte. Versão do texto foi encaminhad­a na 3ª-feira às lideranças do Senado sem prever a criação do novo programa social

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