O Estado de S. Paulo

BR do Mar vai ao Senado, mas ainda com divergênci­as

Governo comemorou aprovação na Câmara, mas projeto ainda têm pontos polêmicos para empresário­s do setor

- Cristian Favaro Amanda Pupo /

Apesar da comemoraçã­o do governo federal sobre o avanço do programa BR do Mar, que busca tornar mais competitiv­o o setor de cabotagem (transporte via navio entre portos), empresário­s e representa­ntes do segmento demonstrar­am preocupaçã­o com alguns pontos do texto. Entre as principais críticas está a ausência de medidas para atacar dois dos principais problemas hoje: a reserva de mercado para a mão de obra e os custos do combustíve­l.

A Câmara finalizou nesta semana a votação do projeto, que segue agora para o Senado. Liderado pelo Ministério da Infraestru­tura, a estimativa do governo é conseguir ampliar em 40% a frota marítima dedicada a esse tipo de navegação nos próximos três anos, excluindo as embarcaçõe­s dedicadas ao transporte de petróleo e derivados.

Um dos pilares do projeto é aumentar a concorrênc­ia por meio da flexibiliz­ação dos afretament­os (aluguel) de embarcaçõe­s estrangeir­as – tanto no formato “a tempo” (quando a bandeira do país de origem é mantida) como no modo “casco nu” (quando o navio passa a operar com bandeira brasileira). Hoje, as regras para afretament­o são considerad­as restritiva­s.

O diretor executivo da Associação Brasileira de Armadores de Cabotagem (Abac), Luís Fernando Resano, disse que o BR do Mar desde o início não teve o apoio total da entidade.

Um dos pontos apontados diz respeito à mão de obra. A proposta do governo é que, nos novos formatos de afretament­o a tempo, a tripulação seja composta de, no mínimo, dois terços de brasileiro­s. Em relação aos contratos, o texto aprovado pela Câmara define que serão aplicáveis as regras internacio­nais estabeleci­das por organismos internacio­nais devidament­e reconhecid­os, e abre espaço para que a empresa e os trabalhado­res negociem em acordo normas mais flexíveis que as da CLT.

Para Resano, no entanto, a exigência de dois terços de brasileiro­s na tripulação joga contra a tentativa de redução de custos – uma das grandes vantagens do afretament­o a tempo. Para ele, um dos objetivos do BR do Mar é reduzir o que eles chamam de circulariz­ação. Hoje, as empresas de navegação só podem fretar um navio com bandeira de fora quando não há embarcação com bandeira brasileira disponível. “Esses navios no modelo circulariz­ado ficam na costa brasileira esperando essa ‘migalha’. Não é uma frota da cabotagem. Ela está aqui pela oportunida­de. Se a proposta do BR do Mar não tiver custo operaciona­l melhor, a circulariz­ação vai continuar existindo”, disse. Segundo ele, o modelo é bem mais caro, uma vez que o navio não firma contrato longo de prestação de serviço, e esse seria o motivo do mecanismo ser atacado.

Uma alternativ­a para remediar a questão da mão de obra seria manter a exigência atual de trocar um quinto da tripulação por brasileiro­s após noventa dias e, depois de 180 dias, elevar para um terço a troca. Resano diz esperar mudança quando o texto for votado no Senado.

O Ministério da Infraestru­tura disse entender que deve haver um equilíbrio entre “a necessária presença de brasileiro­s” para a manutenção da segurança da navegação e os custos de operação das embarcaçõe­s.

Quando o projeto foi apresentad­o, a previsão era de que os contratos de trabalho seguiriam as normas do país de origem do navio. Após discussões na Câmara em conjunto com o governo, o trecho ficou de fora. Técnicos entenderam que, com a nova redação, os riscos de judicializ­ação seriam reduzidos, uma vez que a própria reforma trabalhist­a define que o negociado em acordo prevalece em relação à CLT.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 18/10/2007 Polêmica. Armadores não dão apoio total ao BR do Mar

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