Miguel Jorge
Mayrink nunca deixou de ser amigo, de ser repórter, nunca deixou sua religião de lado. Não será esquecido.
José Maria Mayrink foi um de meus melhores amigos. Cordato, tranquilo, sempre bom humorado, com enorme senso de responsabilidade, católico praticante, ex-seminarista, ocupou um lugar importante em nossa imprensa. Mineiro de Jequeri, então distrito de Ponte Nova, na zona da Mata de Minas, onde nasci. Meu pai e o dr. Mayrink, pai do Zé, também foram amigos. Predestinação? Certamente!
O primeiro contato com o jornalismo foi no Jornal
do Povo, em 1961, colaborando no pequeno semanário de Ponte Nova. Foi para Belo Horizonte, começou a estudar jornalismo e mudou-se para o Rio, onde ficou cinco anos como repórter de importantes jornais. Foi para SP, formou-se na Cásper Líbero. Depois de anos na Veja, onde eu o conhecera e ganhara um Prêmio Esso de Reportagem, junto com Ricardo Gontijo, outro mineiro.
Saudoso das Minas Gerais, voltou para BH, com a família – esposa Maria José e quatro filhas –, para trabalhar na sucursal do Jornal do
Brasil. O sonho só durou dois meses: nada era como tinha sido e, decepcionado, Mayrink quis voltar para São Paulo.
Em 1977, eu acabara de assumir a direção de redação do Estadão e convidei-o para voltar e ser o editor de Internacional, uma das mais importantes editorias do jornal. Foi a escolha certa: com sua seriedade, retidão e seu senso de profissionalismo, tornou a editoria uma das mais respeitadas do jornal.
Dirigiu a seção por cinco anos, até sair para ser repórter especial, quando destacou-se cobrindo religião: era o jornalista com mais fontes na Igreja Católica e sabia de tudo o que se passava nos bastidores da notícia. Cobriu escolha de papas; em Roma, hospedavase num mosteiro ao lado do Vaticano, fez matérias importantes e passou a ser ainda mais respeitado por seu trabalho.
Nunca deixou de ser amigo, nunca deixou de ser repórter, nunca deixou sua religião de lado.
José Maria morreu aos 82 anos. Não será esquecido.