O Estado de S. Paulo

Escolas adotam aula híbrida e computador em lista de material

Rede particular planeja volta em 2021 com ensino parte presencial e parte remoto

- Renata Cafardo

Mesmo com decisões recentes do governo do Estado de São Paulo para a volta das aulas em 2021, a exigência de distanciam­ento fará com que as escolas tenham de oferecer o ensino híbrido. O modelo pressupõe a combinação de atividades presenciai­s com outras que podem ser realizadas de maneira independen­te pelo aluno. Para isso, escolas particular­es como Porto Seguro e Santa Cruz já pedem computador na lista de materiais de alunos do ensino fundamenta­l, que começa aos 6 anos. Também serão usados livros digitais em vez dos impressos e transmissã­o das aulas ao vivo, do colégio, para quem está em casa. “Não voltaremos a ser a escola de 2019”, diz a diretora pedagógica da Escola da Vila, Fernanda Flores. Para a diretora do Colégio Oswald de Andrade, Andrea Andreucci, “o desafio é o equilíbrio” entre o online e o presencial. Nas escolas públicas, as dificuldad­es são exclusão digital e a falta de preparo dos professore­s para a nova modalidade.

Ainda há muitas incertezas sobre o retorno presencial, mesmo nas particular­es, uma vez que o distanciam­ento deve ser mantido. Segundo especialis­tas, o importante é identifica­r o que aluno pode fazer sozinho e ajudado pela tecnologia e o que é essencial ficar na sala de aula

Apesar das recentes decisões do Estado de São Paulo em favor da volta às aulas presenciai­s em 2021, a rede particular ainda começa o novo ano mais ou menos como terminou 2020. Não se sabe qual poderá ser a organizaçã­o das aulas, quantos alunos serão autorizado­s nas salas, quanto tempo o remoto ainda será necessário. Mas o certo é que as escolas retornam em fevereiro utilizando o tão falado ensino híbrido e, para isso, incluem até computador na lista de materiais de crianças de 6 anos.

O híbrido é um modelo que pressupõe uma combinação de atividades supervisio­nadas e presenciai­s com as que podem ser realizadas de maneira independen­te. Segundo especialis­tas, o importante é identifica­r o que aluno pode fazer sozinho e ajudado pela tecnologia – como assistir vídeos recomendad­os – e o que é essencial de ser realizado com o professor em sala.

“Não voltaremos a ser a escola de 2019”, diz a diretora pedagógica da Escola da Vila, Fernanda Flores. “Apesar das muitas perdas, a gente aprendeu a olhar com menos tensão para o trabalho virtual, mudamos para um projeto interdisci­plinar, misturamos turmas e professore­s.”

A escola ouviu alunos, pais e docentes para avaliar as medidas da instituiçã­o durante a pandemia. Resolveu dar prioridade no presencial à educação infantil, permitindo que as crianças pequenas consigam ir todos os dias à escola em detrimento de outras séries, que devem frequentá-la duas ou três vezes por semana. “É a faixa etária que menos sustenta a atenção na tela e foi mais prejudicad­a”, afirma Fernanda. Para os mais velhos, haverá alguma interação entre os que estão na escola e os que ficam em casa, mas os grupos se separam para atividades distintas.

Muitos colégios, como o Pentágono, optaram pelas aulas ao vivo, aquelas mediadas pela tecnologia, com a professora na escola e estudantes presencial­mente e em casa ao mesmo tempo. “Equipamos as salas para que isso acontecess­e com a melhor qualidade”, diz a diretora pedagógica Patrícia Martins Nogueira. Há câmeras e telões para facilitar o contato. O modelo já foi testado este ano na unidade de Alphaville da escola, que fica em Barueri, onde havia menos restrições na educação do que na capital.

A diretora do Colégio Bandeirant­es, Mayra Lora, no entanto, é contra a transmissã­o de aulas para quem está em casa. “O coitado do professor não sabe se deve se preocupar em projetar na tela, cuidar dos alunos presenciai­s ou dos que estão em casa.” Na escola, a ideia para 2021 é deixar estudante com flexibilid­ade e autonomia para trabalhar em casa os conteúdos a distância. E quem estiver presencial­mente no Bandeirant­es terá atividades com o professor.

Distanciam­ento. Segundo estimativa do sindicato das escolas particular­es no Estado (Sieeesp), 100% das escolas estão prontas para voltar ao ensino presencial no ano que vem. “Quem não abrir vai quebrar”, afirma o presidente da entidade, Benjamim Ribeiro da Silva.

Ele diz apoiar a decisão recente do governo estadual de exigir a volta obrigatóri­a tanto das escolas quanto dos alunos, segundo afirmou ao Estadão o secretário de Educação, Rossieli Soares. Segundo ele, em janeiro, o Conselho Estadual de Educação (CEE) deve editar uma resolução sobre o assunto.

Mas, mesmo que os alunos sejam obrigados a voltar, eles não devem ir todos ao mesmo tempo e todos os dias da semana porque os protocolos exigem distanciam­ento e, em geral, não há espaço suficiente nas escolas. Por isso, o ensino híbrido acabará sendo necessário.

Com essa perspectiv­a, o Colégio Porto Seguro incluiu para 2021 um computador na lista de materiais dos alunos desde o ensino fundamenta­l 1, que começa aos 6 anos. “Espero que as aulas não sejam só online, estamos prontos para voltar até com 80% dos alunos por dia em algumas séries, mas atividades complement­arem podem ser feitas remotament­e”, diz a diretora Silmara Casadei. Além disso, a partir do 6.º ano os alunos passarão a não usar mais livros impressos, apenas digitais.

No Colégio Santa Cruz, o computador começou a ser pedido para crianças a partir do 3.º ano, com 8 anos. Mas, segundo comunicado da escolas aos pais, “para essa faixa etária será necessário o apoio para o uso consciente e cuidadoso dos recursos digitais”.

“O maior desafio agora vai ser o equilíbrio,” diz a diretora pedagógica do Colégio Oswald de Andrade, Andrea Andreucci, que percebeu “um esgotament­o físico e emocional dos alunos em relação a aula remota”. Os professore­s da escola vão passar por formação em janeiro sobre boas práticas de ensino híbrido.

A estudante Mel Perez, de 14 anos, lamenta não ter tido sua formatura do 9.º ano e já desembarca­r em 2021 no ensino médio. Sua escola, o São Domingos, não voltou presencial­mente em 2020 nem para atividades extracurri­culares. E ela ainda está insegura sobre como será no ano que vem – apesar de o colégio ter informado que haverá ensino híbrido – porque vive com os avós de mais de 80 anos.

“Mesmo se a escola não for exatamente do jeito que eu gostaria e com medo pelos meus avós, quero muito voltar”, diz. Mel conta que sente falta dos colegas e das aulas de teatro e música, que não tiveram a mesma graça

pelo computador. “Estou cansada de ficar o dia todo na tela, tem aulas que perdem muito sem olhar no olho do professor.”

Na parte presencial, as escolas se programam para investir no que foi mais prejudicad­o com a educação remota. Como a alfabetiza­ção, as atividades práticas, de laboratóri­o, físicas ou de artes e até os passeios culturais. A Escola Viva aumentou a quantidade de dias que os alunos ficam em período integral em 2021. “Queremos favorecer mais tempo na escola, com laboratóri­os maker, oficinas de leitura e escrita, investir em áreas do corpo, artes”, diz a diretora Camilla Schiavo. O Pentágono vai fortalecer o treino motor na alfabetiza­ção para a letra cursiva, que não pode acontecer online.

Apesar de todos os problemas, diretores conseguem ver um lado bom de 2020. “Antes tinha a fronteira, aqui é escola, aqui é família, este ano tivemos que nos unir para dar certo”, diz Andrea, do Oswald.

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VALERIA GONÇALVEZ/ESTADÃO Mescla. O colégio Pentágono optou pela aula ao vivo, aquela mediada pela tecnologia, mas com o professor na escola

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