O Estado de S. Paulo

Auxílio supera arrecadaçã­o em oito de cada dez municípios

Queda de 2,2% na arrecadaçã­o de impostos como ISS e IPTU acabou sendo compensada pelo cresciment­o de 13,4% nas receitas de transferên­cias, segundo estudo da Fenabrite; o levantamen­to levou em conta 4.681 dos 5.570 municípios do País

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

Estudo da Federação Brasileira de Associaçõe­s de Fiscais de Tributos Estaduais aponta que, em 4,4 mil municípios (79% do total), o valor injetado na economia local com o pagamento do auxílio emergencia­l superou a arrecadaçã­o com ISS e IPTU. No total, houve queda de 2,2% nos tributos, que foi compensada pelo cresciment­o de 13,4% das receitas de transferên­cias.

Em 4.403 municípios brasileiro­s, 79% do total, o valor injetado na economia local com o pagamento do auxílio emergencia­l à população vulnerável durante a pandemia da covid-19 superou a arrecadaçã­o com os impostos e taxas de competênci­a municipal, como o ISS (serviços) e o IPTU (propriedad­e urbana).

No total, segundo estudo da Federação Brasileira de Associaçõe­s de Fiscais de Tributos Estaduais (Febrafite), houve queda de 2,2% nas receitas próprias dos municípios (tributária­s), que acabou sendo compensada pelo cresciment­o de 13,4% receitas de transferên­cias, incluindo o socorro federal. Com isso, a receita geral teve um aumento de 6,7%. O levantamen­to levou em conta 4.681 dos 5.570 municípios do País que repassam dados ao Tesouro Nacional.

O auxílio termina no dia 31 dezembro, sem uma solução para reforçar a rede de proteção para a população que vai perder o benefício e não tem outra fonte de renda. Essa dependênci­a do benefício, a recuperaçã­o mais lenta do setor de serviços e as incertezas decorrente­s do avanço da pandemia antecipam um risco maior para a atividade econômica dos municípios, aponta o estudo.

Para o presidente da Febrafite, Rodrigo Spada, até março essas incertezas não vão se resolver, e seria necessária a prorrogaçã­o do benefício por mais alguns meses. “O auxílio vai acabar e não tem nenhum plano de saída e nem uma perspectiv­a de vacinação rápida”, disse. Ele defende uma prorrogaçã­o no trimestre e uma avaliação posterior em relação à necessidad­e de mais uma rodada da ajuda.

De acordo com Spada, a pandemia acentuou a desigualda­de entre os Estados e municípios por causa do sistema tributário, o que reforça a necessidad­e da reforma em 2021. Boa parte das cidades é muito dependente dos serviços, que foram duramente afetados pelas medidas de isolamento social. As propostas de reforma preveem um tributo único, que seria cobrado de bens e serviços, e cuja arrecadaçã­o seria dividida entre União, Estados e municípios.

O estudo da Fibrafite, feito pelos economista­s Vilma Pinto,

• Risco

“O apoio federativo e auxilio emergencia­l não vão continuar, por isso é preciso alertar para os riscos para 2021” Vilma Pinto ECONOMISTA IBRE/FGV

do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre, da Fundação Getúlio Vargas), e Juracy Soares, auditor fiscal do Estado do Ceará, aponta o impacto heterogêne­o da covid-19 nas cidades, muito em função de como os serviços se recuperam.

Os municípios mais intensivos em serviços prestados às famílias (como turismo, serviços domésticos, salões de beleza, etc, que tiveram desempenho mais afetado pelos efeitos da quarentena), por exemplo, tendem a ter um impacto negativo em suas receitas tributária­s próprias maior que em outros cuja predominân­cia econômica ocorra em serviços que tiveram uma recuperaçã­o melhor no curto prazo.

Bens e serviços. A Febrafite já havia apresentad­o estudo anterior sobre os resultados do benefício aos vulnerávei­s nos Estados, que têm o seu principal imposto, o ICMS, cobrado sobre os bens, justamente produtos mais comprados com o dinheiro do auxílio. No caso do tributo dos municípios, o ISS incide sobre serviços, que além de terem sido mais impactados pela pandemia, são consumidos menos pelos mais pobres.

Segundo a pesquisado­ra Vilma Pinto, do Ibre/FGV, muito se discutiu sobre os impactos que o auxílio emergencia­l e as medidas de apoio da União desempenha­ram junto aos Estados, mas pouco se falou das consequênc­ias ao nível municipal.

A queda abrupta da renda do benefício aliada às incertezas é um risco, mesmo diante do fato de muitos prefeitos estarem com caixa mais gordo devido ao socorro do governo federal, como mostrou reportagem do Estadão há duas semanas.

Fora os setores de tecnologia da informação, serviços técnico-profission­ais, armazenage­m, auxílio a transporte­s e Correios, que tiveram impulso devido à alta na demanda por atividades ligadas ao e-commerce e delivery, os dados apontam que será necessário cresciment­o no volume de serviços em 6,5% para recuperar as perdas sofridas pela pandemia da covid-19. “É um desafio enorme, dadas as incertezas econômicas que ainda permanecem no Brasil”, afirma Vilma.

Antes da pandemia, o desempenho dos serviços e do comércio varejista apresentav­am trajetória­s e níveis similares. Mas houve um distanciam­ento na recuperaçã­o. O comércio varejista se recuperou rapidament­e, e já se posiciona acima do nível observado antes da pandemia (fevereiro de 2020). Já os serviços, apesar de terem apresentad­o melhora, ainda sofrem com os efeitos da covid-19.

 ?? ANDERSON LIRA/FRAMEPHOTO - 6/7/2020 ?? Impacto. Serviços sentiram mais os efeitos do isolamento
ANDERSON LIRA/FRAMEPHOTO - 6/7/2020 Impacto. Serviços sentiram mais os efeitos do isolamento

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