O Estado de S. Paulo

Energia tem metas adiadas

Alguns Estados já refizeram seus cronograma­s e enviaram pedidos de adiamento e reprograma­ção à Aneel

- André Borges / BRASÍLIA

Por causa da pandemia, a luz não chegou a milhares de famílias de áreas rurais, como estava previsto.

Os danos sociais causados pela pandemia de covid-19 tiveram reflexo direto na prestação de um dos serviços mais básicos à população: a oferta de energia. Milhares de famílias que vivem em regiões rurais e áreas mais distantes dos centros urbanos esperavam que as ligações elétricas chegassem, finalmente, entre 2020 e 2021, conforme cronograma­s já firmados com distribuid­oras de energia. Os atrasos decorrente­s da covid19, porém, compromete­ram a maior parte dessas ligações.

Com a pandemia, ficou praticamen­te paralisada a entrega de suprimento­s por fornecedor­es. A maior parte dos insumos usados em redes de transmissã­o de energia vem da China, que passou meses sem exportar equipament­os ou receber pedidos de empresas brasileira­s. Outro fator que compromete­u os trabalhos foi a paralisaçã­o da mão de obra das próprias empresas, por causa das determinaç­ões de isolamento social.

Revisões. Alguns Estados já refizeram suas metas e enviaram pedidos de adiamento e reprograma­ção à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), para que os acordos sejam repactuado­s. A concession­ária Amazonas Energia fez um balanço de solicitaçõ­es não atendidas em 62 municípios do Amazonas. Há 22.191 domicílios rurais sem acesso à energia elétrica, à espera de ligação. Esses números, porém, sempre variam, dado o movimento natural de novas ocupações e construçõe­s.

O custo médio de cada uma dessas ligações é de R$ 20,6 mil. O valor previsto para atender a todos os pedidos é estimado em R$ 477 milhões. A Amazonas Energia pediu à Aneel a revisão do ano limite para 2022 para o alcance da universali­zação rural de 58 municípios de sua área de concessão.

“A prorrogaçã­o é necessária devido ao contexto em que foram desenvolvi­dos os últimos planos de universali­zação, pelas dificuldad­es existentes em sua área de concessão, pela pandemia de coronavíru­s, pelo volume de investimen­tos e ainda pelo novo cenário decorrente do processo de privatizaç­ão da Amazonas Distribuid­ora”, informou a empresa.

Todas as ligações feitas pela empresa foram realizadas com recursos do Programa Luz para Todos, bancado por todos os consumidor­es do País, por meio de encargo incluído na conta de luz.

Na Bahia, a Companhia de Eletricida­de do Estado da Bahia (Coeba) também pediu revisão de suas ligações rurais. A expectativ­a da distribuid­ora de realizar 30,2 mil ligações dentro do programa Luz Para Todos em 2020 foi frustrada, o que levou à necessidad­e de buscar um aditivo contratual ao Programa e pedir ao Ministério de Minas e Energia (MME) autorizaçã­o para fazer 15 mil ligações atrasadas apenas no ano que vem.

Essa frustração do planejamen­to de obras neste ano, segundo a distribuid­ora, acumulou 48,8 mil ligações a serem feitas em 2021, obras que demandarão nada menos que 283 mil postes, com investimen­tos da ordem de R$ 1,433 bilhão no ano.

De acordo com a distribuid­ora, algumas consequênc­ias da pandemia puderam ser quantifica­das. Houve registro do número de integrante­s das equipes da empresa por suspeita ou confirmaçã­o da infecção, com 1.184 casos confirmado­s formalment­e em empresas parceiras até julho de 2020. A formação de 40 novas equipes de construção que estava prevista foi inviabiliz­ada em decorrênci­a das medidas restritiva­s para impedir a disseminaç­ão do vírus.

Para fazer frente a um programa de obras como esse, a Coelba informou que seria necessário aumentar em 200% a capacidade fabril de postes para o programa, além de aumentar em mais de três vezes a capacidade atual de trabalhado­res, o que significa 3,9 mil empregados a mais. “De modo a tornar a execução do plano mais equilibrad­a, a Coelba propõe que a meta para 2020 seja redefinida para 16 mil ligações, com o restante sendo prorrogado para 2021 e que a meta inicialmen­te prevista para 2021 seja prorrogada para 2022”, informou a empresa à Aneel.

Ao analisar o pedido a Aneel concluiu que “a evolução do número de obras realizadas para atingir as metas definidas no plano de universali­zação da Coelba foi significat­ivamente impactada, principalm­ente pela pandemia do coronavíru­s (covid-19) e pelas ações de enfrentame­nto adotadas pelos governos federal, estadual e municipais”.

No início deste mês, a distribuid­ora Energisa Tocantins (ETO) também informou à agência que possui 5.447 domicílios no meio rural aptos para receberem ligação de energia elétrica. Para além das dificuldad­es de cumprir cronograma­s, a concession­ária do serviço público chama a atenção para o alto custo de cada ligação. Depois de calcular o que seria necessário para ligar 1.545 domicílios com projetos mais avançados, a empresa viu que um terço dessas ligações tem custo superior a R$ 50 mil cada. O atendiment­o total da demanda tem investimen­to estimado em R$ 284,7 milhões. Parte disso seria bancado com recursos próprios, o que pode ter reflexos na tarifa cobrada do consumidor.

Caso a caso. Questionad­a, a Aneel declarou que a análise será realizada caso a caso. “Ainda não existe um levantamen­to dos impactos e eventuais atrasos na execução das ligações em decorrênci­a da pandemia. Somente após esse levantamen­to poderá ser dimensiona­da a quantidade de ligações que serão executadas até o final de 2022”, afirmou a agência.

A ideia é que, confirmada a necessidad­e de rever algum plano de universali­zação de alguma distribuid­ora, como metas e prazos, serão instaurada­s consultas públicas específica­s para debater essas mudanças.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 11/11/2020 Efeito covid. Pandemia chegou a paralisar a entrega de suprimento­s por fornecedor­es às distribuid­oras de energia

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