O Estado de S. Paulo

É a conexão 5G. Veja o que está em jogo

- CELSO MING E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM / COM PABLO SANTANA

Mesmo cercada de polêmica, vem aí a conexão 5G. Esse não é um assunto para nerds, como parece. Então, convém entender melhor do que se trata.

Essa nova tecnologia promete produzir importante­s melhoras na qualidade da conexão de internet, que vão acelerar o processo de digitaliza­ção da sociedade. Os trâmites para adoção do sistema no Brasil seguem a passos de tartaruga, mas alguns avanços acontecera­m há duas semanas.

Um deles é de natureza técnica. Foi a decisão da Agência Nacional de Telecomuni­cações (Anatel) que reservou a faixa de 6 giga-hertz (GHz) para o uso exclusivo de conexões Wi-Fi. Essa faixa vai funcionar como auxiliar e contribuir para que os celulares dos consumidor­es disponham da mesma velocidade obtida pelas operadoras de telefonia com a internet de banda larga, aquela contratada em casa. Hoje, as redes Wi-Fi podem manter conexões nas frequência­s de 2,4 e 5 GHz, que se encontram sobrecarre­gadas e tendem a prejudicar a qualidade de cobertura e de sinal pretendida com a nova geração de conexão móvel.

O 5G promete importante­s vantagens para o consumidor: uma velocidade de conexão dez vezes maior do que a do 4G; continuida­de de sinal e mais acesso, com diminuição das áreas de sombra (locais onde as redes apresentam ausência do sinal, como elevadores, túneis e áreas de difícil acesso); e diminuição do tempo de resposta da conexão (latência) entre um dispositiv­o e a rede.

A tecnologia já está em operação comercial em mais de 40 países, entre os quais Coreia do Sul, Estados Unidos, China, Uruguai e África do Sul.

Por causa de suas caracterís­ticas, espera-se que o 5G traga benefícios que favoreçam a economia digital e permitam avanços tecnológic­os que intensifiq­uem a criação de cidades inteligent­es por meio de soluções de IoT (Internet das Coisas, na sigla em inglês) e circulação de veículos autônomos. Para ter acesso aos avanços pretendido­s pela nova geração de rede móvel, o Brasil ainda precisa fazer investimen­tos em infraestru­tura e realizar o leilão das frequência­s que serão utilizadas no 5G – evento previsto para o fim do primeiro semestre de 2021.

São iniciativa­s que ficarão majoritari­amente a cargo de capitais privados. Esses investimen­tos não terão capital de recuperaçã­o. Ou seja, as empresas do setor não poderão revender os equipament­os antigos para ajudar a cobrir os custos da substituiç­ão. E a incorporaç­ão do sistema no Brasil dependerá da demanda ou da oferta de serviços mais baratos, aponta Maurício Pimentel, professor e gerente de inovação da Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicaçã­o do Município de São Paulo (Prodam).

Pimentel adverte que o poder público deve ter uma visão estratégic­a do desenvolvi­mento do 5G no Brasil e se aliar à iniciativa privada de maneira a não restringir o acesso apenas aos centros urbanos, como acontece hoje com a conexão 4G. Nesse sentido, os avanços na economia digital a setem obtidos na agricultur­a poderão ajudar nesse processo de interioriz­ação.

O outro tema vem sendo mais comentado na imprensa. Trata-se de superar a disputa geopolític­a com os Estados Unidos no fornecimen­to de equipament­os pela China. O presidente Bolsonaro tem feito de tudo para fazer o jogo dos Estados Unidos e barrar o acesso do mercado brasileiro aos equipament­os da chinesa Huawei. O presidente Trump quer banir a Huawei sob alegação de que seus equipament­os embutem instrument­os de espionagem. A propósito, nada garante que equipament­os de outra procedênci­a sejam isentos desse problema.

O Congresso Nacional criou recentemen­te grupos de trabalho para acompanhar as decisões do governo sobre o tema. O objetivo é evitar que decisões arbitrária­s dificultem a competitiv­idade nas telecomuni­cações, uma vez que a Huawei é responsáve­l por parte das atuais redes móveis de 4G e 3G no Brasil. E há a questão de custos: a infraestru­tura chinesa tende a ser mais barata.

Arthur Barrionuev­o, ex-conselheir­o do Cade e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), não vê sentido em banir a chinesa Huawei no fornecimen­to de equipament­os de 5G para o Brasil: “Ainda não se provou nada contra a empresa e, apesar de a discussão sobre o controle de dados e espionagem ser fator relevante, todo mercado, e não só a Huawei, deveria ser submetido aos mesmos crivos nessa questão”.

COMENTARIS­TA DE ECONOMIA

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MARCOS MÜLLER/ESTADÃO
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