O Estado de S. Paulo

Em vez de erguer casa, governo quer financiar reforma

Um dos focos, segundo secretário da Habitação, será a liberação de crédito para sanar inadequaçõ­es em residência­s já existentes

- Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA

Depois de uma década de grandes empreendim­entos e milhares de famílias recebendo casas quase totalmente subsidiada­s pela União, a política habitacion­al no Brasil deve sofrer uma guinada, já iniciada com o programa Casa Verde Amarela (focado em financiame­ntos de imóveis a juros menores) e que pode ser acentuada com outras políticas de incentivo a crédito e de aluguel social ainda em estudo pelo Ministério do Desenvolvi­mento Regional (MDR), pasta responsáve­l pelo tema no governo federal.

O secretário nacional de Habitação do MDR, Alfredo Santos, antecipou ao Estadão um cardápio de medidas que estão sendo analisadas e que podem resultar em um novo perfil de atuação do governo federal, deixando a entrega de casas restrita a um público específico formado por famílias com idosos carentes, pessoas com deficiênci­a ou vítimas de calamidade­s e desastres naturais.

Como o Estadão mostrou ao longo desta semana, em uma série de reportagen­s especiais, a pandemia mudou a forma como o brasileiro se relaciona com a casa e escancarou a precarieda­de dos lares.

“O programa Minha Casa, Minha Vida se tornou a política pública de habitação pela dimensão que tomou, e foi um programa exitoso, mas com alguns problemas graves. Estamos tentando mudar essa visão, porque temos diversidad­e muito grande nas regiões do País, dentro das próprias cidades, e as demandas são diferentes”, afirma.

Um dos focos de ação é a regulariza­ção de casas que já existem, inclusive com melhorias para sanar inadequaçõ­es, como a falta de um banheiro. Essa frente está em parte contemplad­a no programa já lançado, mas a ambição do governo é trazer a iniciativa privada para dar acesso a crédito a um maior número de famílias e, assim, resolver o gargalo que a falta de recursos públicos impõe à política.

Mais de 10,8 milhões de habitações brasileira­s precisam de melhorias para se tornar adequadas (leia mais ao lado).

“Tem um mercado estimado em R$ 13 bilhões que gira em torno de reforma, melhoria ou ampliação de forma desordenad­a dessas unidades. A gente chama de mercado ‘formiguinh­a’. Está em análise levar a esse público linhas de crédito para acelerar esse processo de melhoria das condições de habitação”, diz Santos. O dinheiro viria acompanhad­o de assistênci­a técnica para melhorar a qualidade das reformas e evitar desastres como desabament­os.

Segundo o secretário, esses financiame­ntos custam hoje ao redor de 4% ao mês, consumindo uma fatia muito grande do orçamento das famílias. A ideia é reduzir o porcentual para menos de 2% ao mês com a ajuda de um fundo garantidor, que poderia ser constituíd­o com recursos da iniciativa privada. O chamariz seria justamente a possibilid­ade de ampliar a movimentaç­ão desse mercado, hoje com potencial restrito pelas dificuldad­es de execução de garantias e alta inadimplên­cia.

“Para melhoria habitacion­al do parque já existente, nós não conseguimo­s enxergar nenhuma solução que não passe por viabilizaç­ão de crédito de uma forma sustentada ao longo do tempo e que seja compatível com a capacidade de pagamento das pessoas”, afirma Santos. “O poder público muito pouco vai poder fazer em termos de melhoria habitacion­al, porque se você for concentrar para algumas pessoas, vai atender pouca gente.”

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NATANAEL FEITOSA - SINDUSCON -24/9/2020 Com juros. Santos quer baratear crédito para reforma com criação de fundo garantidor

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