O Estado de S. Paulo

Repasse direto de dinheiro público só virá em casos graves

Objetivo é garantir reforma estrutural, segundo secretário, que afasta possibilid­ade de construir novas casas

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O repasse direto de dinheiro público, segundo Alfredo Santos, secretário da Habitação, do Ministério do Desenvolvi­mento Regional (MDR), será destinado apenas às situações mais graves de moradia, em que falta quase tudo: banheiro, piso, quarto, telhado, reboco e até fiação elétrica em bom estado. “Estamos avançando um pouco mais para não só entrar na casa, só dar uma pintadinha, virar as costas e ir embora, e por dentro a casa ficar igual. Mas não vamos construir uma nova casa, essa hipótese está afastada.”

Para os casos em que apenas a melhoria não é solução suficiente (como é o caso de quem vive em casa de taipa, por exemplo), o governo analisa duas alternativ­as. A primeira delas é incentivar políticas de aluguel social para famílias necessitad­as. Hoje, segundo Santos, as prefeitura­s e os governos estaduais acabam trabalhand­o esse tipo de política mais como um aluguel emergencia­l, para quem foi desalojado devido a alguma calamidade, bancando o valor integral.

“Não é disso que estou falando. A ideia é uma política de complement­o na capacidade de pagamento de aluguel. O programa que eventualme­nte a gente venha a implantar, se entendermo­s que é adequado, suplementa­ria ou ajudaria os programas locais”, afirma.

O secretário cita o exemplo da prefeitura de Belo Horizonte, que, em sua visão, conseguiu reduzir o comprometi­mento da renda das famílias com aluguel à metade, bancando uma parcela do valor pago mensalment­e. A vantagem desse modelo, diz Santos, é que a família escolhe onde morar e mantém sua mobilidade, enquanto o governo tem um custo menor. Políticas de aluguel social já são o foco central da habitação em países como França e Inglaterra, cita o secretário.

Outra possibilid­ade, também em estudo, é erguer modelos para que Estados e municípios participem de contrapart­idas para reduzir os valores financiado­s pelas famílias no Minha Casa, Minha Vida – agora Casa Verde Amarela. Na prática, a medida ampliaria o total de subsídio dado à família de menor renda na compra da casa própria, hoje bancado majoritari­amente pelo FGTS. Como os estudos são preliminar­es, o secretário não detalhou custos ou fontes de recursos.

Ajuda temporária. O cerne da futura política, reforça Santos, é a visão de que as famílias brasileira­s terão em algum momento uma renda mínima que os permita pagar uma parcela de financiame­nto ou parte de um aluguel social para morar de forma digna. “Se a gente imaginar que para sempre, para o resto da vida, essas pessoas nunca vão ter condições de fazer nada, a gente não sabe fazer também. Não dá para partir de uma premissa que essas famílias inteiras, inclusive os filhos, não serão capazes um dia de pagar ou adquirir um imóvel”, afirma.

Ao traçar um diagnóstic­o da situação habitacion­al no Brasil, o secretário ressalta que, nos 70 anos entre 1950 e 2020, a população brasileira quadruplic­ou, ao mesmo tempo em que houve uma migração em massa do campo para a cidade. Mas o primeiro instrument­o de planejamen­to urbano só chegou em 2001, com o Estatuto das Cidades. “Nós tivemos 500 anos soltos, para cada município, cada Estado fazer como imaginava.”

Até meados de 2022, o MDR pretende atualizar o Plano Nacional de Habitação (PlanHab), lançado em 2009 e que acabou logo se perdendo em meio ao lançamento do Minha Casa, Minha Vida, sem nunca ter passado pelas revisões periódicas previstas a cada cinco anos.

O documento deve traçar um panorama detalhado das necessidad­es habitacion­ais em cada região, levando em conta o porte dos municípios e caracterís­ticas socioeconô­micas, além de fixar metas. Segundo Santos, a intenção é discutir com a sociedade civil para ter um plano “mais ligado com a realidade”.

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SERGIO CASTRO/ESTADÃO. - 18/8/2016 Foco. Ao contrário do programa Minha Casa, Minha Vida, governo atual não subsidiará casas

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