O Estado de S. Paulo

Vai ter Apple Car?

- PEDRO DORIA @PEDRODORIA E-MAIL:COLUNA@PEDRODORIA.COM.BR TWITTER:

Em março, quando a pandemia estava apenas começando seu assalto, a Apple pôs nas ruas a versão 2020 do iPad Pro. Não chamou a atenção de muitos, mas era um tablet em todo diferente dos lançados pela companhia até ali. Sua capa com teclado incluía trackpad como se fosse notebook. Os microfones permitem gravação de voz profission­al. E, entre tantas novidades, pouca gente deu muita bola para o fato de que, acoplado à câmera, vinha também um scanner LiDAR. O mesmo dispositiv­o deu as caras novamente agora, no fim do ano, e estará nos caros modelos de iPhone 12 que lentamente chegarão ao mercado. Quase ninguém fora de alguns ramos bem específico­s sequer sabe o que é um LiDAR. No entanto, se existe alguma evidência de que a empresa fundada por Steve Jobs pode mesmo estar trabalhand­o num carro, é justamente este LiDAR.

LiDAR é o sensor sem o qual um carro autônomo, aqueles que dirigem a si próprios, não vive sem. Um laser é lançado contra os objetos à frente enquanto um sensor mede sua reflexão. A palavra em si vem da união de ‘light’, luz em inglês, e ‘radar’. Com este sistema, uma câmera é capaz de produzir uma imagem precisa dos volumes à frente. Como se construíss­e um modelo 3D. É assim que um carro autônomo tem ideia de como está o ambiente no qual trafega, é como ele enxerga se uma pessoa repentinam­ente cruzou e talvez seja preciso frear.

Há uma maneira de justificar a necessidad­e de LiDAR em iPads e iPhones – são necessário­s para realidade aumentada. Se nossos celulares servirão para misturar elementos virtuais com os da vida real capturada pela câmera, se um jogo vai ter aquele monstro saindo do prédio ali em frente ou o GPS vai abandonar mapas e mostrar suas setas na rua que enxergamos, então é mesmo preciso um LiDAR. Só que estas tecnologia­s também exigem treino. Se a Apple

– ou qualquer empresa – precisa calibrar seus LiDAR em condições que não imponham risco, a melhor maneira de fazê-lo é distribuin­do para centenas de milhares, milhões de usuários, para que saiam por aí fazendo suas filmagens sem desconfiar que o sensor está sendo calibrado.

Mas a Apple vai mesmo lançar um carro? A Reuters diz que sim. Prazo: 2024. Parece ousado. Elétrico, com bateria revolucion­ária, e autônomo. Essa é daquelas que o mestre jornalista Tutty Vasques classifica notícia enguiçada. Volta e meia retorna como se fosse novidade, mas ninguém tem prova. Quer dizer – tem. Várias. Foram inúmeros engenheiro­s contratado­s da Tesla, gente especializ­ada em automóvel. Há também as licenças emitidas pelo estado da Califórnia para o tráfego de veículos autônomos da empresa. Inúmeras patentes – uma delas trata de vidros que mudam de cor de acordo com o desejo do usuário. Desde 2014, quando o chamado projeto Titan foi iniciado, entra ano, sai ano, fontes anônimas falam dos planos e a Apple sempre diz o mesmo: nada a comentar. Agora, porém, há um prazo.

Fazer carro não é como fazer celular. São plantas industriai­s bem mais complexas. A Tesla, com toda sua pompa de Vale do Silício, prometeu por muito tempo que ergueria uma fábrica revolucion­ária, toda automatiza­da, que botaria nas ruas milhares de carros todos os dias. Descumpriu todos os prazos que uma Nissan cumpre com um pé nas costas. Produz hoje num volume que a Ford já conquistar­a faz uns cem anos. Que uma Volkswagen sequer pisca para fazer acontecer. O setor automotivo pode estar em crise mas essa é uma área na qual o Vale do Silício apanha para competir com quem já existia. As tradiciona­is vêm se mostrando mais capazes de se adaptar ao digital do que o Vale de se encaixar no mundo das quatro rodas. A Apple, porém, é a Apple.

O rumor agora tem data para acontecer, mas fazer carro não é como fazer celular

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