Felipe e Carol sustentam clã Meligeni e miram circuito
Atletas estão em um bom momento e contam com as dicas do tio famoso para chegar mais longe no esporte
Se o talento esportivo está no DNA, os irmãos Felipe e Carolina Meligeni têm um grande futuro nas quadras. Sobrinhos de Fernando Meligeni, um dos melhores tenistas da história do Brasil, os irmãos conquistaram grandes resultados na reta final da temporada 2020 e mostram que podem ir tão longe quanto o tio no circuito mundial.
Carol brilhou na reta final da temporada ao faturar dois títulos em três semanas no Egito, em competições de nível ITF, logo abaixo da WTA, que reúne a elite do tênis feminino. Foram 14 vitórias e apenas uma derrota no período. Felipe, por sua vez, ficou mais perto da aristocracia do tênis masculino ao ser campeão do Challenger de São Paulo e semifinalista do Challenger de Campinas.
Mais velha entre os irmãos, Carol tem 24 anos e entrou mais cedo nas quadras. Felipe tem 22. Ambos são filhos de Paula Meligeni, irmã mais nova de Fernando. A mãe dos jovens tenistas brasileiros chegou a ser uma das melhores juvenis do Brasil em sua época. Mas decidiu não tentar carreira no profissional.
O mesmo aconteceu com Flávio, seu marido e pai de Carol e Felipe. Ambos se tornaram professores de tênis. “Comecei no tênis dentro dos carrinhos de bola dos meus pais. Eles colocavam eu e minha irmã lá enquanto davam aula”, lembra Felipe. Ele e sua irmã iniciaram em Campinas, onde nasceram. “Carol começou primeiro e fui junto porque gostei. Segui os passos dela naquele momento.”
Em entrevista ao Estadão,a dupla enfatiza que nunca houve cobrança para seguirem a tradição da família no tênis. Pouco a pouco os dois foram evoluindo em competições infantis e juvenis. Nos dois casos, a experiência fora do Brasil foi fundamental para o crescimento deles. Carol saiu mais cedo. Com 15 anos, já treinava no Uruguai. Depois, Argentina. “Sempre tive muito claro que era isso que queria para a minha vida. E por isso a minha decisão de morar fora e buscar coisas novas.”
Felipe partiu para Barcelona no início de 2018. Desde então, treina na academia BTT, que tem como um dos sócios Francis Roig, um dos treinadores de Rafael Nadal. “A mudança para a Espanha foi essencial para minha evolução, para minha melhora como tenista e como pessoa. Me ajudou a amadurecer. Melhorei técnica, física e mentalmente”, diz o tenista.
O sobrinho de Meligeni foi treinar na Espanha com apoio da Confederação Brasileira de Tênis (CBT). A parceria, contudo, acabou e Felipe precisou se manter na academia com recursos próprios. Como o câmbio nas alturas, viver “em euro” se tornou difícil. Ajuda de empresas, de patrocinadores e da família têm sido fundamentais.
“O sacrifício da minha irmã e do meu cunhado é até desumano. Eles dão aula das 7h às 22h quase todo dia para bancar os dois filhos no circuito. Estão sempre contando o dinheiro. ‘Será que vamos aguentar?’ Às vezes bate o desespero, já tivemos várias conversas em família sobre o assunto. Mas faz parte. Paula e Flávio são apaixonados por tênis”, revela o tio Fernando ao Estadão.
Coach de Whatsapp. Fernando Meligeni não estava muito próximo dos sobrinhos quando eles começaram a se empolgar com o tênis, ainda crianças. Na época, viajava pelo mundo enfrentando rivais do porte de Pete Sampras e Andre Agassi. Jogava duplas ao lado de Gustavo Kuerten. Foi campeão pan-americano, semifinalista de Roland Garros e 25.º do ranking. “A gente conversa sempre. Quando estive mais perdida, mais sentimental, ele sempre me deu suporte. É o meu ‘coach de Whatsapp’”, diz Carol. Os conselhos são frequentes. E os puxões de orelha também. “Tinha 16 ou 17 anos. Ele falou que eu estava muito chorão nos jogos, reclamando. Disse que estava em momento decisivo no tênis, numa ‘fase terminal’. Fiquei em choque: ‘uma fase terminal? Jesus Cristo, estou ferrado’”, recorda o tenista. “Foi um negócio que abriu os meus olhos para o que realmente queria. Agradeço a ele todos os dias”, conta Felipe.
O dono de três títulos de nível ATP não esconde o orgulho dos sobrinhos. “O Felipe tem muita potência, a bola dele anda demais, coisa rara no circuito. O mundo está aparecendo para ele de um dia para outro. Tem tudo para estourar a boca do balão. Espero que seja bem melhor que o tio”, diz Meligeni, que vê mais semelhanças do seu jogo com a sobrinha. “Ela é uma guerreira, trabalhadora incansável. Não mede esforços para conseguir os objetivos. É parecida comigo, mais limitada tecnicamente, como eu era. Por isso temos essa sinergia maior”, compara. “Quando a ouço descrevendo um jogo, parece que era eu jogando, eu de saias.”