Incorporadoras esperam mais um ano positivo
Em 2020, valor geral de vendas (VGV) dos empreendimentos lançados registrou uma alta de 7,7%
As incorporadoras fecharam 2020 com expansão dos lançamentos e das vendas, apesar da parada durante a quarentena. Para 2021, as perspectivas são de que o mercado permaneça positivo, mas sem o mesmo ritmo de crescimento.
Os empreendimentos lançados no quarto trimestre de 2020 somaram R$ 10,3 bilhões em valor geral de vendas (VGV), 19,2% mais que no mesmo período de 2019. No ano, os lançamentos acumulam R$ 25,9 bilhões, uma alta de 7,7% em relação ao ano anterior.
Os dados foram compilados pelo Estadão/Broadcast com base nos relatórios operacionais preliminares publicados por 16 incorporadoras listadas na B3, a Bolsa paulista (Cury, Direcional, MRV, Plano & Plano, Tenda, Cyrela, Even, Eztec, Gafisa, Helbor, JHSF, Lavvi, Melnick, Mitre, Moura Dubeux e RNI).
As vendas líquidas aumentaram 28% no quarto trimestre, para R$ 8,1 bilhões, e totalizaram R$ 25,1 bilhões no ano, com avanço de 18,4%.
“Continuamos otimistas com o mercado imobiliário no Brasil, mas notamos alguma suavização nas tendências”, diz a analista de construção civil do Bank of America Merryl Linch (BofA), Nicole Inui. Ela aponta uma redução na velocidade média de vendas do setor no fim do ano, resultado do crescimento expressivo da oferta de empreendimentos e maior competição para venda em determinadas regiões.
No geral, porém, a analista considera bom o resultado das companhias. O destaque, na avaliação dela, foram as empresas que atuam no segmento imobiliário de baixa renda, que tiveram recordes de lançamentos e vendas, casos de Direcional e Tenda. A MRV, maior construtora residencial do País, teve números abaixo do esperado pelo BofA, mas ainda assim ampliou as operações no consolidado do ano.
Recuperação. Já no caso das incorporadoras que atuam no setor de média-alta renda, há um movimento de recuperação um pouco mais lento. Even e Eztec, por exemplo, lançaram menos no quarto trimestre devido à demora para obtenção de licenças, postergando alguns projetos para este ano.
O destaque no setor foi a Cyrela, que ampliou os lançamentos por conta própria, após os processos de abertura de capital que levaram ao fim das parcerias com Cury, Lavvi e Plano & Plano, aponta o analista de construção civil do Itaú BBA, Enrico Trotta.
“Os dois segmentos tiveram bom desempenho, e o setor fechou 2020 em alta, confirmando a tendência de recuperação iniciada no meio do ano passado”, avalia Trotta. “E a visão para 2021 segue positiva, por causa dos juros baixos. Os lançamentos podem crescer um pouco ou ficar estáveis. Mas será um ano importante para as empresas ampliarem o lucro”, observa, referindo-se ao ganho de escala com a expansão das operações realizadas até aqui.
Efeito juro baixo. O principal combustível para o setor nessa retomada tem sido o recorde de baixa da taxa de juros, que aumentou fortemente a demanda por imóveis.
“Quando os estandes foram reabertos, as incorporadoras se beneficiaram da demanda reprimida pela quarentena e pela queda nos juros do financiamento imobiliário”, avalia o diretor de Atendimento da Lopes, Cyro Naufel.
Para 2021, o executivo espera que o mercado fique estável em termos de números de unidades lançadas. Já o valor geral dos empreendimentos deve crescer, com maior participação dos projetos destinados a consumidores de média-alta e alta renda, estima Naufel.
“Com a economia brasileira fraca nos últimos anos, o Minha Casa Minha Vida segurou o setor imobiliário, com juros subsidiados. Mas com os juros baixos para o restante do mercado, estamos vendo a retomada dos projetos para outros públicos.”
Dados do Banco Central mostram que a taxa média de juros do crédito imobiliário fechou 2020 em 7% ao ano. Até o começo de 2017, o patamar era de 10%. A redução de cada ponto porcentual representa um desconto em torno de 8% na parcela do financiamento, o que permite o acesso de mais pessoas a esse mercado. E, com a taxa de juros básica da economia (Selic) no piso histórico de 2%, investidores também têm buscado imóveis como forma de diversificar suas aplicações.
É justamente a manutenção desse cenário que alimenta as expectativas de que o mercado continue líquido em 2021. Ainda que o Banco Central eleve a Selic, analistas e empresários não esperam uma contração significativa na demanda por imóveis.
“Mesmo se a Selic voltar a subir, não vemos os bancos aumentando os juros do financiamento imobiliário no curto prazo, considerando que ainda existe uma boa folga entre as taxas cobradas nos empréstimos e o custo de captação dos recursos”, avalia Trotta.
O presidente da JHSF Participações, Thiago Alonso, compartilha opinião semelhante. “Nossa sensação é que a Selic até a 7%, cenário em que estamos trabalhando, não deve gerar grandes retrações da atividade imobiliária, tanto para a empresa quanto para o mercado em geral.”
QUANDO OS ESTANDES FORAM REABERTOS, AS INCORPORADORAS SE BENEFICIARAM DA DEMANDA REPRIMIDA PELA QUARENTENA E PELA QUEDA NOS JUROS DO FINANCIAMENTO IMOBILIÁRIO
Cyro Naufel
DIRETOR DE ATENDIMENTO DA LOPES