O Estado de S. Paulo

‘VIVER DE ARTE É PRIVILÉGIO’

Com 25 anos de idade e 19 de carreira, atriz curte momento de liberdade

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Para Bruna Marquezine, os artistas escolhem entre segurança e liberdade.

Contratada da Netflix como protagonis­ta da série Maldivas – ainda sem previsão de estreia – Bruna Marquezine se diz feliz com os rumos que sua carreira está tomando, depois que encerrou contrato com a Globo. “Sinto que na minha profissão temos sempre que escolher entre liberdade e segurança”, disse ela à repórter Sofia Patsch por telefone. E Bruna escolheu a liberdade.

“Hoje sou dona das minhas escolhas”, comemora a atriz, que também está em fase de gravação de uma série internacio­nal. “No ano passado surgiu a oportunida­de de gravar uma série fora do Brasil. Na verdade, vou gravar em vários lugares do mundo”, disse, se limitando a essa informação.

A responsabi­lidade em decidir o que quer e o que não quer fazer também se reflete em sua imagem como influencia­dora digital – só no Instagram ela soma 40,2 milhões de seguidores. “Tenho muita preguiça do que está acontecend­o hoje em dia, de verdade”, reflete ela sobre os “cancelamen­tos” que andam acontecend­o nas redes sociais. “Não acho que todo mundo tem que ter uma opinião formada a respeito de tudo”, desabafa. “Uso a minha plataforma para falar sobre o que acredito. Mas não me cobro e não me permito entrar nessa loucura”.

Como para a maioria das pessoas, a pandemia tem sido um período de reflexão para Bruna, que espera que o mundo pós covid-19 seja “o oposto do que estamos vivendo hoje”. Confira os melhores trechos da entrevista a seguir.

• Quais foram os lados positivos e negativos de começar a carreira de atriz tão cedo? Cresci fazendo o que amo. Tive a sorte de começar muito cedo, contracena­ndo, trocando com atores que admiro. Meu trabalho sempre foi muito intuitivo. Já o fato de ter uma vida sempre muito exposta e a falta de controle da imagem que a mídia cria são os pontos que vejo como negativos. Mas a oportunida­de de trabalhar com arte e ainda conseguir me sustentar com isso em um país como o Brasil é um privilégio.

• Estreou na TV com seis anos, quando interpreto­u a Salete, em Laços de Família. Sente que sua infância foi prejudicad­a pelo trabalho?

Não, a infância não. Senti mais na adolescênc­ia, quando comecei a me descobrir, me entender. Aí comecei a sentir um pouco mais, porque tinha que lidar com essa exposição em uma fase que já é mais complicada por si só, com muitas inseguranç­as, dificuldad­e de aprovação e de se encaixar em lugares, de pertencer. Foi nesse período que comecei um exercício de colocar na balança o que mais valia a pena. E meu amor pela arte sempre acaba vencendo. Foi uma fase delicada, sem dúvidas.

• Há um tempo decidiu encerrar seu contrato com a Globo, atrás de mais liberdade na carreira. Como está sendo esse processo? Sinto que na minha profissão temos sempre que escolher entre liberdade e segurança, e a Globo me trouxe essa segurança durante muito tempo, mas ao mesmo tempo, tive que emendar uma novela na outra, trabalhei muito, estudei pouco e me faltava bagagem acadêmica. Também sentia falta da liberdade de poder escolher o próximo passo, de ser dona das minhas escolhas. Então chegou um momento que senti que precisava fazer isso e as coisas estão fluindo de uma forma melhor do que imaginava.

• E está conseguind­o se dedicar a coisas que não conseguia antes, como os estudos?

Em partes. Hoje tenho tempo de estudar um roteiro, avaliar um roteiro e entender se realmente quero fazer aquilo ou não, qual a importânci­a daquilo pra a minha carreira a longo prazo. Me sinto mais responsáve­l das consequênc­ias que essas escolhas trazem. E queria sentir isso, não queria que continuass­em escolhendo por mim, sabendo que eu sofreria as consequênc­ias de qualquer forma. Os estudos, por conta da pandemia, estou fazendo de forma remota.

• Em uma entrevista disse que recebeu poucos convites para atuar no cinema e atribuiu a isso os rótulos que são colocados nos atores no meio das artes. Se diz rotulada como uma “atriz de novela”. Está trabalhand­o para desconstru­ir essa imagem?

Não é um achismo, é um fato. Por muitos anos fui vista como atriz de novela. É lamentável que no meio das artes existam tantos rótulos e tantas caixas. Gostaria de acreditar que justamente no meio das artes isso seria o tipo de coisa que não existiria, mas existe. Hoje, talvez a gente já esteja trabalhand­o para desconstru­ir isso como um todo, mas há poucos anos atrás existia uma divisão muito clara de quem era o ator que fazia cinema, de quem era o ator que fazia teatro e de quem era o ator que fazia televisão. E os que faziam TV eram vistos como mais limitados pelos outros. Aí você me pergunta o que faço para desconstru­ir essa imagem. Não faço nada, só não me coloco mais nessa caixa, não aceito esse rótulo.

• Além de atriz, é uma influencia­dora digital ativa em suas redes sociais, nas quais tem mostrado um lado mais ativista. Acha que hoje, uma personalid­ade, seja ela atriz, modelo, cantora, ou qualquer profission­al que seja, se não der a sua opinião e não tiver a imagem ali muito clara nas redes perde força? Na verdade tenho muita preguiça do que está acontecend­o hoje em dia, de verdade. Não acho que todo mundo tem que ter uma opinião formada, inclusive acho que muitas pessoas acabam se equivocand­o e viram vítimas do cancelamen­to porque sentem uma pressão gigantesca de que precisam se pronunciar a respeito de tudo e aí acabam se atropeland­o, porque a gente não sabe tudo. Temos que aceitar os nossos processos de aprendizad­o, que ninguém nasce sabendo tudo, que ninguém nasce ativista, ninguém nasce feminista, ninguém nasce 100% desconstru­ído, acho que é um aprendizad­o diário, até porque o aprendizad­o vem muito através da troca, do ouvir o outro. Uso a minha plataforma para falar sobre o que acredito, sobre causas que acho que precisam de mais atenção, para ampliar esse diálogo, tento usar minhas redes com responsabi­lidade e da melhor forma possível. Mas não me cobro e não me permito entrar nessa loucura.

• Está com 25 anos de idade e 19 de carreira. É você mesma que cuida do seu dinheiro ou tem ajuda de alguém, de um empresário? Acho que não tem porque falar disso, não é tão relevante para as pessoas a minha vida financeira. Não é o tipo de coisa que quero expor.

• Compôs uma música para a próxima campanha da Colcci. Gosta de escrever, de compor? A música da Colcci não é uma composição minha. Eles já trouxeram a música pronta e eu, junto com dois amigos que já são músicos, fizemos algumas alterações na letra para ficar um pouco mais com a minha cara, então foi um trabalho em equipe. Escrevo como hobby, mas acho que não escreveria uma música. Foi uma aventura que a Colcci propôs e eu topei.

• Tem vontade se apresentar como cantora em um palco? Não vou dizer que isso jamais seria uma possibilid­ade, até porque, como disse, sou apaixonada por música e por arte. Mas não consigo me ver agora, nesse momento da minha vida, planejando uma carreira musical, não faz muito sentido. Se isso acontecer naturalmen­te, se um dia tiver a oportunida­de de vivenciar isso, não vou me limitar.

OS ARTISTAS TÊM QUE ESCOLHER LIBERDADE OU SEGURANÇA

• Vai estrear esse ano a série Maldivas, no Netflix, conte mais sobre o projeto.

Na verdade não posso contar muita coisa, mas a série já foi anunciada. E, por enquanto, é só isso que posso contar.

• Além da série, quais são seus outros projetos?

No ano passado surgiu a oportunida­de de gravar uma série fora do Brasil, na verdade, em vários lugares do mundo, mas tivemos que dar uma pausa por causa da pandemia. Infelizmen­te também não posso dar mais informaçõe­s.

• Como está encarando o período de isolamento que a pandemia nos impôs?

Está sendo difícil para todo mundo. No início foi muito mais difícil do que hoje, do que está sendo agora. Já consigo trabalhar, ver família, encontrar alguns amigos, enfim, sempre seguindo protocolo e tomando todos os cuidados possíveis. É uma fase de muitos altos e baixos, ainda mais vendo a situação do nosso País, que ainda está muito difícil.

• Como enxerga o mundo pós pandemia?

Espero que a gente entre em uma era muito mais consciente, mais tolerante, muito mais empática, com mais respeito pela natureza e pelo próximo. Enfim, espero que a gente entre em uma era oposta ao que estamos vivendo hoje.

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FERNANDO TOMAZ / COLCCI

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