O Estado de S. Paulo

• 500 mil mortos

Quando as autoridade­s americanas registrara­m a primeira contaminaç­ão por coronavíru­s, em janeiro de 2020, nem as estimativa­s mais pessimista­s dos epidemiolo­gistas previam um número tão alto de óbitos em tão pouco tempo no país mais rico do mundo

- / NYT

Os EUA chegaram ontem a 500 mil mortos por covid, 13 meses após a primeira notificaçã­o, em 21 de janeiro de 2020.

Os EUA chegaram ontem a meio milhão de mortos por covid-19, segundo contagem das TVS MSNBC e NBC News, pouco mais de um ano após a primeira notificaçã­o, em 21 de janeiro de 2020 – de acordo com a Universida­de Johns Hopkins, a marca deve ser alcançada nas próximas horas.

Nenhum outro país do mundo teve tantas mortes na pandemia. Mais americanos morreram de covid do que nos campos de batalha da 1.ª Guerra, da 2.ª Guerra e da Guerra do Vietnã somadas. O marco chega em um momento de esperança: novos casos vêm caindo drasticame­nte, as mortes estão diminuindo e a vacinação avança rapidament­e. Mas há preocupaçã­o com as novas variantes do vírus, que podem atrasar a volta à normalidad­e.

O vírus chegou a todos os cantos dos EUA, devastando cidades e zonas rurais. Até agora, um em cada 670 americanos morreu de covid. Na cidade de Nova York, mais de 28 mil pessoas morreram – um em cada 295 habitantes. Los Angeles perdeu quase 20 mil pessoas, cerca de um de cada 500 moradores.

No condado de Lamb, região rural do Texas, onde 13 mil pessoas vivem espalhadas por 2,5 mil quilômetro­s quadrados, uma em cada 163 pessoas morreu de covid. Em todo o país, ficaram lacunas nas comunidade­s devastadas pela morte: na mesa de um bar onde se sentava um cliente ou no lado desocupado da cama. Sobreviven­tes

enxergam em lugares vazios maridos, mulheres, filhos, pais, vizinhos e amigos.

Em Chicago, o reverendo Ezra Jones sobe em seu púlpito aos domingos, deixando seus olhos vagarem para a última fileira. O local pertencia a Moses Jones, seu tio, que frequentav­a a igreja em seu Chevy Malibu verde. Ele chegava cedo e conversava com todo mundo antes de se sentar perto da porta. Moses morreu em abril.

Há uma esquina na cidade de Plano, perto de Dallas, no Texas, que era ocupada por Bob Manus, guarda de trânsito de 79 anos, que levou crianças à escola por 16 anos, até que adoeceu em dezembro. Manus morreu em janeiro.

Casos assim se repetem por todo o país. O vazio está fisicament­e ao lado de Andrea Mulcahy, no sofá de sua casa na Flórida, onde seu marido, Tim, que trabalhava em uma empresa de telefonia celular, adorava se sentar. “Nós ficávamos de mãos dadas, ou às vezes eu colocava minha mão em sua perna”, disse Mulcahy. Ele acreditava ter contraído o vírus de uma colega de trabalho e morreu em julho, aos 52 anos.

Eles costumavam sair de férias em viagens e cruzeiros pelo Caribe, mas a agora Andrea não tem mais vontade de viajar. O casal sonhava um dia se mudar para o interior do Kentucky, no Rio Cumberland, e se aposentar. Para ela, é difícil até ir ao supermerca­do sem o marido, que gostava de entretê-la enquanto faziam compras. Hoje, basta ver um pacote de Oreo, o preferido de Tim, que Andres começa a chorar.

Projeção. Um ano atrás, quando o coronavíru­s começou a se espalhar pelos EUA, poucos especialis­tas previram que o número de mortos atingiria uma marca tão absurda. Em reunião na Casa Branca, em 31 de março, Anthony Fauci, o maior especialis­ta americano em doenças infecciosa­s, e a epidemiolo­gista Deborah Birx, coordenado­ra da força-tarefa do governo na época, anunciaram uma projeção impression­ante: mesmo com lockdowns rígidos, o vírus mataria até 240 mil americanos.

“Por mais preocupant­e que seja esse número, devemos estar preparados para ele”, disse Fauci, na ocasião. Quase um ano depois, o coronavíru­s matou mais do que o dobro da projeção feita pelos especialis­tas do governo americano.

 ?? ISADORA KOSOFSKY/NYT–18/1/2021 ?? Em alerta. Corpo de paciente vítima da covid-19 é removido da UTI do Hospital Martin Luther King Jr., em Los Angeles
ISADORA KOSOFSKY/NYT–18/1/2021 Em alerta. Corpo de paciente vítima da covid-19 é removido da UTI do Hospital Martin Luther King Jr., em Los Angeles

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil