O Estado de S. Paulo

Energia solar: oportunida­des e desafios

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Aenergia solar está em franca ascensão no Brasil. Em 2020, o País dobrou sua capacidade instalada, e tudo indica que repetirá o feito em 2021. Apesar disso, a proporção de consumidor­es ainda é irrisória. Mesmo com a brusca queda dos custos associada ao fato de que o Brasil tem uma das melhores irradiaçõe­s solares do mundo, a expansão dessa matriz ainda dependerá de metas ambiciosas, políticas públicas sólidas, planejamen­to de mercado e bons quadros regulatóri­os.

Segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltai­ca (Absolar), em 2020 a capacidade instalada saltou de 4,6 gigawatts (GW) para 7,5 GW, potência suficiente para iluminar 3,7 milhões de domicílios. A previsão é de que em 2021 essa taxa alcance 12,6 GW.

Desde 2012, quando a energia solar despontou comercialm­ente no País, o seu preço caiu em 80%. O custo atual – cerca de US$ 20 por megawatt-hora – fica abaixo de todas as outras fontes, exceto a geração eólica. Equipament­os que há dez anos custavam R$ 30 mil hoje são encontrado­s pela metade do preço, tornando o cenário mais atrativo para domicílios e estabeleci­mentos comerciais. “Hoje em dia, deixou de ter só um apelo ambiental, como era anos atrás, e passa por uma questão financeira”, disse ao Estado Rodolfo Meyer, presidente do Portal Solar, a maior plataforma de energia solar do País. “As pessoas instalam realmente para reduzir a conta de luz.”

Nos próximos anos, a expansão estará condiciona­da ao desenvolvi­mento de baterias que poderão armazenar energia, possibilit­ando a independên­cia do consumidor em relação às distribuid­oras de energia. Segundo Roberto Brandão, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universida­de Federal do Rio de Janeiro, se essa questão for resolvida, a energia solar tem potencial para liderar a matriz elétrica brasileira. Hoje a sua fatia ainda é comparativ­amente pequena: 1,6%. Em termos de capacidade instalada, o Brasil está na 16.ª posição no mundo.

Entre os desafios para o desenvolvi­mento da matriz fotovoltai­ca no Brasil, os especialis­tas apontam a conscienti­zação da população. Os benefícios são vários. Do ponto de vista ambiental, a energia solar, além de ser uma fonte limpa, renovável e inesgotáve­l, reduzirá a necessidad­e de inundar grandes áreas verdes para construir usinas hidrelétri­cas.

Além disso, há os benefícios econômicos. O setor é uma locomotiva para a geração de empregos. Dos cerca de 11 milhões de empregos gerados pela cadeia de renováveis no mundo, um terço provém da fonte solar. Casas que produzem energia por meio de suas próprias instalaçõe­s fotovoltai­cas podem economizar até 95% do valor de sua conta de luz. O sistema também é uma solução rápida para áreas remotas, onde não existe fornecimen­to de energia.

Há desvantage­ns, notadament­e relacionad­as às dificuldad­es de armazename­nto. Mas trata-se de um empecilho de ordem técnica que, tudo indica, deve ser removido em pouco tempo.

Pesquisas levantadas pela Absolar apontam que 93% dos brasileiro­s gostariam de gerar energia renovável em sua casa e 85% apoiam investimen­tos públicos em energias renováveis, sobretudo a solar e a eólica. Entre os pequenos negócios, 80% instalaria­m sistemas fotovoltai­cos se tivessem acesso a financiame­nto competitiv­o.

Isso impõe desafios à iniciativa privada e ao Poder Público. À primeira, cabe elevar as possibilid­ades de financiame­nto de baixo custo e criar novos modelos de negócios. Já o segundo precisará desenhar um planejamen­to consistent­e em relação aos incentivos e subsídios. Hoje os consumidor­es do sistema fotovoltai­co não pagam pelos custos da rede de distribuiç­ão. Se, por um lado, isso onera os demais consumidor­es, por outro, a retirada brusca desses incentivos pode sufocar na raiz um mercado promissor. A Agência Nacional de Energia Elétrica promete concluir no primeiro semestre de 2021 a revisão da regulação sobre os subsídios. Sendo um debate de alto valor estratégic­o, demandará todo o empenho de autoridade­s e especialis­tas, com ampla transparên­cia para que o setor privado possa conhecer e avaliar os benefícios dessa matriz.

Fonte limpa e inesgotáve­l e ainda grande geradora de empregos

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