O Estado de S. Paulo

Número de óbitos cresce cada vez mais depressa entre americanos

EUA levaram 4 meses para chegar a 100 mil mortos; últimos 100 mil foram registrado­s em apenas 33 dias

- NYT e WP

Há poucos eventos na história dos EUA que se chegam perto do milhão de mortos. Estimase que a gripe espanhola, de 1918, tenha matado 675 mil americanos, de acordo com os Centros para Controle e Prevenção de Doenças, quando a população era um terço do que é hoje. Mas isso ocorreu quando ainda não existiam vacinas contra a gripe, antibiótic­os, ventilação mecânica e outros recursos médicos.

Drew Gilpin Faust, historiado­r e ex-presidente da Universida­de Harvard, disse que as conquistas médicas e sociais nos EUA levaram muitos americanos a acreditar que estavam prontos para qualquer coisa, que “havíamos conquistad­o a natureza”. “Quando montaram hospitais de campanha no Central Park e corpos começaram a ser empilhados porque não havia capacidade para enterrálos, ficamos chocados e não pensamos que isso aconteceri­a conosco”, disse o Faust. “O senso de domínio sobre a natureza foi seriamente desafiado pela pandemia.”

Os óbitos nos EUA ocorreram mais rapidament­e à medida que a pandemia avançava. A primeira morte foi registrada em fevereiro. Em 27 de maio, 100 mil pessoas já haviam morrido. Demorou quatro meses para o país registrar outras 100 mil mortes e mais três até a marca de 300 mil óbitos. As 400 mil mortes chegaram apenas cinco semanas depois.

Embora a velocidade de contágio pareça diminuir, cerca de 1,9 mil americanos morrem em média por dia – 29 milhões de pessoas tiveram covid nos

EUA, quase o triplo de casos registrado­s no Brasil, segundo a Universida­de Johns Hopkins.

“É mais um dia triste em nossa história”, disse Ali Mokdad, epidemiolo­gista da Universida­de de Washington. “Nossos netos e as gerações futuras olharão para trás e nos culparão pelo fracasso em enfrentar uma pandemia no país mais rico do mundo. Permitimos que as pessoas morressem, não protegemos nossa população mais vulnerável, indígenas, latinos e negros. Não protegemos nossos trabalhado­res mais essenciais.”

Ainda levará meses para vacinar toda a população americana, e novas variantes mais contagiosa­s do vírus podem desfazer rapidament­e o progresso da imunização e provocar outro pico de covid. O Institute for Health Metrics and Evaluation, centro de pesquisa em saúde global da Universida­de de Washington, projetou que os EUA poderiam atingir mais de 614 mil mortes até o dia 1.º de junho.

Segundo os pesquisado­res, porém, fatores como o uso de máscaras, o distanciam­ento social e a velocidade da vacinação podem afetar essa estimativa.

• Desafio

“O senso de domínio sobre a natureza foi seriamente desafiado pela pandemia” Drew Gilpin Faust

HISTORIADO­R E EX-PRESIDENTE

DA UNIVERSIDA­DE HARVARD

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CALLAGHAN O'HARE/REUTERS Funeral. Vítima da covid é enterrada em San Felipe, no Texas

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