O Estado de S. Paulo

Como funciona o plenário virtual

- / E.R. e R.M.M.

Os julgamento­s no plenário virtual do Supremo Tribunal Federal ocorrem semanalmen­te. Lá, o relator deposita o seu voto e os seus colegas decidem se o acompanham (com ressalvas ou não) ou se divergem. Advogados gravam suas sustentaçõ­es orais, que são colocadas à disposição do público e dos ministros. No entanto, diferentem­ente das sessões presenciai­s ou por videoconfe­rência, não há espaço para a troca de ideias e debates – e nem para as intervençõ­es por parte dos advogados. “É o pior dos mundos. Se já é muito ruim haver uma superação de decisão em si, imagina esta situação sem debate, em dezenas de julgamento­s. Às vezes, são sete ou oito decisões por dia, o que seria impossível no plenário presencial”, diz Gustavo Brigagão, presidente da Associação Brasileira de Direito Financeiro (ABDF). “É óbvio que o ministro não lê tudo. Elogiamos esse lado bom da agilidade e produtivid­ade do STF em meio à pandemia. Mas se for a esse custo, é melhor trazer de novo a lentidão, que estava muito boa.”

Entre as decisões considerad­as “confusas” pelos especialis­tas há dois casos sobre a cobrança do ICMS sobre energia elétrica. A decisão sobre a constituci­onalidade da cobrança do IOF sobre operações de factoring também teria ficado incompleta. Outro caso cuja decisão não teria ficado clara para os tributaris­tas diz respeito à inclusão dos valores retidos pelas operadoras de cartão de crédito e débito na base de cálculo do Pis/cofins devido pelas empresas que recebem por esses meios de pagamentos. Decisões sobre imunidade no ITBI e seletivida­de no IPTU também suscitaram dúvidas entre os especialis­tas.

Para o tributaris­ta Roberto Duque Estrada, sócio da BDE Advogados, enquanto o Congresso se enrola nas diversas propostas de reforma tributária que tramitam na Câmara dos Deputados e no Senado, o STF tem tocado uma pauta tributária que estava represada há anos. “O problema é que não há um grande tributaris­ta entre os ministros do STF. O último ministro com destaque nessa área foi o Teori Zavascki (falecido em 2017). Mesmo com uma fragilidad­e muito grande em relação a isso, o STF resolveu aproveitar a pandemia para limpar a pauta”, avalia.

Os advogados questionam ainda o fato de diversos ministros contarem em seus gabinetes com assessores que na verdade são procurador­es da Fazenda Nacional ou das Fazendas estaduais cedidos ao STF. “São profission­ais qualificad­os, mas que ainda têm suas posições jurídicas vinculadas a seus órgãos de origem. Então é claro que vão ter posição contrária ao contribuin­te.”

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