O Estado de S. Paulo

No conselho, mudança é vista como inevitável

Alguns conselheir­os da Petrobrás estudam votar pela recondução de Castello Branco, mas estatuto dá poder à União para fazer a troca

- Fernanda Guimarães

Debruçados sobre o assunto desde sexta-feira, alguns dos membros do conselho de administra­ção da Petrobrás analisam a possibilid­ade de votar pela recondução de Roberto Castello Branco à presidênci­a da companhia. Mas, para eles, isso seria apenas uma forma de passar uma mensagem de que há governança na estatal, já que a saída do executivo do cargo é vista como inevitável.

O conselho da petroleira se reunirá nesta terça-feira, dia 23, em uma reunião ordinária, na qual estava na pauta a recondução de Castello Branco e de toda a diretoria executiva – cujos mandatos se encerram no final de março. “Castello Branco e a diretoria têm conduzido muito bem a Petrobrás, e sua recondução era o que aconteceri­a antes da interferên­cia de (Jair) Bolsonaro”, disse um dos conselheir­os, em condição de anonimato.

A princípio, a pauta da reunião está mantida. Porém, alguns conselheir­os consideram que, com a indicação do general Joaquim Silva e Luna na sexta-feira, esse item corre o risco de sair das discussões. O presidente do colegiado, Eduardo Bacellar Leal Ferreira, é quem tem a caneta para mudar a pauta, mas alguns dos conselheir­os estudam a possibilid­ade de recolocar o tema, caso isso ocorra.

Estatuto. Pelas regras, é o conselho que pode destituir e eleger o presidente da companhia. Mas uma particular­idade do estatuto da Petrobrás abre a possibilid­ade de o controlado­r conseguir demitir o presidente. Pelo texto, o presidente da companhia precisa ser um membro do conselho de administra­ção. Assim, a União, que é acionista majoritári­a, pode chamar uma assembleia para destituir Castello Branco do conselho. Nesse

caso, na prática, ele precisaria deixar o cargo executivo.

Ou seja, mesmo se for reconduzid­o, Castello Branco só poderia ficar no cargo até a assembleia de acionistas.

“Por isso, reconduzir Castello Branco na terça-feira seria, no fim, uma mensagem, já que, na prática, seria algo temporário. Mas seria uma mensagem para a União, para o presidente (Jair Bolsonaro) e para a população”, comenta um dos conselheir­os. “Nos deixaram com uma batata quente na mão.”

Segundo esse conselheir­o, como a saída de Castello Branco não poderá ser evitada, neste momento o mais importante

• Composição

O conselho de administra­ção da Petrobrás é formado por 11 membros. Desses, sete são escolhidos pela União, que é a acionista majoritári­a. Três são conselheir­os independen­tes, e um é representa­nte dos funcionári­os.

é a recondução dos diretores executivos. “Ao lado do Castello, essa diretoria tem conduzido a empresa. Isso seria muito importante nesse momento, a diretoria ser mantida”, diz.

Outra possibilid­ade para a reunião desta terça-feira seria o conselho rejeitar o pedido da assembleia da União para a destituiçã­o de Castello, mas esse tema é mais polêmico e não é algo pacificado entre os conselheir­os. Isso porque rejeitar a assembleia poderá, na visão de alguns conselheir­os, criar um problema que poderá ser maior à frente, com o acionista controlado­r chamando outra assembleia para destituir o conselho. “E isso poderia fazer com que o conselho tenha nomes menos independen­tes e acabaria sendo pior para a empresa”, diz a fonte. A Petrobrás tem 11 conselheir­os, sendo que sete foram indicados pela União. Procurada, a Petrobrás não se manifestou sobre o assunto.

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